Os curitibanos do Lenhadores da Antártida surpreenderam Dinho Ouro Preto, vocalista de uma das bandas de grande nome do rock nacional Capital Inicial. Com praticamente 40 anos de estrada, a banda brasiliense lançou um concurso disputadíssimo de bandas para escolher quem faria a abertura do show comemorativo do Capital no Rio de Janeiro dia 11 de novembro, no Qualistage. Lenhadores da Antártica foi uma das bandas escolhidas entre mais de dois mil inscritos de todo o país.
“Quando a gente lançou o concurso, não tínhamos ideia de como seria. Chegaram duas mil bandas. E em um determinado momento, a gente encerrou as inscrições, pois se a gente continuasse teria possivelmente dobrado o número”, explicou Dinho Ouro Preto.
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Nos últimos meses, as bandas consagradas de rock nacional têm mobilizado plateias gigantescas. A exemplo da reunião dos Titãs, despedida do Skank, o retorno do NX Zero. “Esses eventos todos estão indo para grandes estádios. Em contrapartida, artistas novos estão encontrando dificuldades para ‘quebrar a arrebentação’, mostrar o trabalho deles para uma plateia maior. Com um concurso como esse, você testemunha o talento dessas bandas todas. Foi um trabalho quase impossível, bastante cruel”, esclareceu Dinho.
Foram inscrições de diferentes tipos de segmentos do rock, desde bandas com som mais pesado, outras mais folclóricas, eletrônicas. Dinho acredita que o concurso criado pela banda pode dar início a um novo hábito entre as bandas consagradas. “Tem que haver esse espaço, que é algo bem comum fora do Brasil. Temos que ajudar a promover o futuro do rock. A saúde de um gênero você mede pelas bandas novas, não pelas veteranas. Isso vale para todas as regiões. Curitiba tem que valorizar os artistas”, reforçou.
Em busca de um lugar ao sol
A seleção do concurso criado pelo Capital Inicial envolveu pessoas ligadas a música, rádio, redes sociais e produção musical. Todos os 2 mil inscritos passaram primeiramente por uma grande peneira até chegar a 100 bandas. Cada integrante do Capital Inicial então escolheu umas bandas e o filtro encerrou com seis bandas. Na etapa final, uma votação popular pelo site oficial definiu os vencedores Foram mais de 120 mil votos que definiram três campeãs: Lenhadores da Antártica, Venere Vai Venus e O que Sobrou do Caos.
“Não foi uma olimpíada. O Capital nunca conseguiu ganhar um concurso. A gente mandava as nossas fitas e eles diziam não, que éramos ruim demais. Então, eu gostaria que as pessoas que não foram selecionadas não se sentissem melindradas, excluídas, julgadas. Arte não é Olimpíada, não tem como estabelecer um melhor”, salientou o roqueiro.
O rock curitibano da Lenhadores da Antártida
Ricardo Passos (voz principal, violão, guitarra, gaita e piano), Thomas Kossar (guitarra solo, lap steel e bandolim), Renato Rigon (voz, baixo acústico e baixo elétrico) e Gustavo Anderson (bateria) comemoraram a possibilidade de levar seu rock’n roll com ares de folk numa projeção nacional.
Em entrevista para a Tribuna, Ricardo concordou com Dinho. “Não necessariamente quem ganha é a melhor. Acredito que o concurso é uma chance de uma banda nova mostrar o trabalho e ter uma conquista”, explicou.
Curitiba, entre os anos 1990 e 2000, já experimentou uma cena cultural do rock muito mais forte e potente. Com o passar do tempo, o cenário curitibano foi perdendo força. “Eu não sei como foi essa virada de chave, de não consumir mais música autoral. Eu não culpo o público e não culpo os bares. Lembro que nos anos 90 a cena era muito forte, o cover era secundário. Curitiba, a medida que foi crescendo, virou uma metrópole que precisava da diversão. Pequenos bares que promoviam essas bandas foram sendo encolhidos por esse mainstream do entretenimento”, revelou o vocalista curitibano.
A Lenhadores da Antártida, que nasceu em 2011, quer aproveitar os holofotes do concurso, lançando mais singles e um disco completo em 2024. “Estamos dormindo pouco, ansiosos e felizes. Estamos colocando pedra sobre pedra, construindo uma carreira bem consistente. O jeito que viemos construindo a carreira é um jeito correto, de grão em grão”, encerrou.
Nova música de trabalho
Diante da repercussão da vitória no concurso nacional, a Lenhadores da Antártida adiantou o lançamento da nova música de trabalho. “Oh, mãe!” foi composta por Ricardo Passos para a mãe dele, que faleceu há poucos meses, vítima de câncer. “Foi meu último ato de amor para ela. Ainda no hospital, pouco antes de partir, consegui lhe mostrar”, contou, emocionado, Ricardo Passos a Dinho Ouro Preto, que ficou tocado ao ser apresentado à canção. “Que lindo, que texto lindo, que voz linda e abençoada a sua sua, Ricardo”, elogiou Dinho.
A música faz parte do novo disco da Lenhadores, que será apresentado aos poucos ao público, com nova canção em breve.