Música e diversão

Velho amigo dos curitibanos, o rádio volta a ser companhia no isolamento da pandemia

Radialista Renato Gaúcho. Foto: Gerson Klaina / Tribuna do Paraná.

Há quem se engane na associação de isolamento social com falta de companhia, pois mesmo quem mora sozinho nesses tempos de pandemia tem se lembrado de um velho amigo para todas as horas: o rádio. De acordo com um estudo da Kantar Ibope Media em todo o país, o consumo do rádio aumentou consideravelmente durante o período do coronavírus. 71% dos entrevistados disseram que estão ouvindo rádio nos últimos meses. Destes, 20% confessaram que estão ouvindo muito mais que antes do isolamento.

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O estudo também revelou um comportamento interessante, já que o rádio é uma fonte de informações e também de entretenimento. Neste momento de pandemia, 52% dos ouvintes estão em busca de música e diversão e deixaram as notícias de lado. 

Em Curitiba, o radialista Renato Gaúcho, que apresenta o programa “A música da minha vida”, na 98FM, logo percebeu que seus ouvintes não precisavam de mais informações sobre a pandemia — até porque todos têm acesso fácil sobre o coronavírus nos jornais, TV e também na internet. “Eu acho que as pessoas estão inseguras e buscam no rádio uma companhia, uma palavra de fé, de apoio, de uma voz que transmita uma esperança, uma palavra de alento”, comentou o radialista.

Na profissão há mais de 30 anos, Renato Gaúcho entra no ar de segunda a sexta-feira, das 8 ao meio-dia. Em seus programas, os ouvintes mandam suas histórias de amor. São relatos de romances proibidos, de problemas conjugais, crises de ciúme, solidão e amores não correspondidos. As histórias com finais surpreendentes, que antes chegavam por cartas, são selecionadas pela produção e são enviadas por e-mail ou mensagens de WhatsApp. E claro, depois da história narrada com muita emoção, Renato Gaúcho finaliza com uma música pedida pelo ouvinte e um conselho sobre a situação.

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Rádio: amigo fiel na pandemia

Gaúcho acredita que tem um papel muito importante como locutor, é como um amigo muito próximo de seus ouvintes. “Eu faço parte do dia-a-dia das pessoas. Elas aprendem a te escutar, tem gente que me ouve há 30 anos! E amizade assim, de tanto tempo, é difícil”, conta o radialista. Para ele, a duração dessa amizade tem a ver com a distância. “As pessoas hesitam em mostrar seus defeitos, o que fica difícil na convivência pessoal. No rádio, você evita mostrar seus pontos mais ofensivos, então fica mais fácil manter uma amizade assim, sem mostrar defeitos”, explica.

Com a pandemia, as palavras de otimismo ganham mais força e tornam-se necessárias. E foi justamente esse poder de transformar o astral das pessoas que fez Renato Gaúcho escolher ser locutor. “Eu sou suspeito pra falar, eu gosto de rádio desde os 8, 9 anos. Eu prestava atenção, lembro que no começo do programa de um locutor lá em Porto Alegre, sempre tinha uma mensagem de otimismo. Como era impressionante o poder que tinha aquilo. Às vezes eu tava triste e ouvia o cara falar, mudava de ânimo”, relembra Gaúcho. 

Com o tempo, Renato Gaúcho foi aprendendo o poder de mudar o humor das pessoas com o seu trabalho. Mas para ser sincero no rádio, ele precisou aprender e a lidar com os próprios medos e tristezas. “Eu sou animador, eu não posso chegar no microfone e dizer: ‘hoje não vai dar porque eu tô desanimado’. Para transmitir, não pode ser falso, não posso estar derrotado por aquele sentimento. Então eu comecei a me condicionar”, conta o radialista.

Diante de pelo menos três décadas, Renato Gaúcho acompanhou as mudanças de comportamento de várias gerações. “Os tempos mudaram. O que era tabu antes, hoje em dia já não é mais. Mas uma coisa não mudou, quem ouve rádio precisa de tudo. Eu tenho certeza que precisa de notícia, informação, precisa rir. Com tanta coisa ruim acontecendo, o mais importante é essa palavra que faz a pessoa se emocionar”, finaliza.

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