Em única apresentação nesta sexta-feira (19), a partir das 21h15, o cantor, compositor e multi-instrumentista Humberto Gessinger sobe ao palco do Teatro Positivo – Grande Auditório, em Curitiba. Esta é a segunda apresentação do músico gaúcho (voz e alma dos Engenheiros do Hawaii) após a retomada dos shows presenciais no pós pandemia da covid-19 (a primeira foi em Porto Alegre, no Teatro Araújo Vianna) e antecede shows em São Paulo e Rio de Janeiro, o que mostra a importância que a capital paranaense tem na sua carreira.
“Curitiba é uma constante na minha trajetória. Um dos locais que servem de espelho, onde a cada passagem, a cada tour, a gente tenta entender o que esta fazendo. Acho muito parecida com Porto Alegre. Mas como não sou daqui, rola uma sensação contraditória e interessante, como se eu fosse um estrangeiro na minha cidade natal”, disse Gessinger à Tribuna do Paraná.
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A turnê retomada no fim de semana passado chama-se “Não vejo a hora”, frase comum a todos os fiéis fãs de Gessinger que esperavam pela volta dos shows em todo o país. O disco é o quarto solo e primeiro de inéditas desde “InSULar” (2013). São 11 canções autorais gravadas com duas formações diferentes: um power trio, com baixo, guitarra e bateria, e outro em formato acústico.
A apresentação de Curitiba será com o power trio. Humberto falou à Tribuna sobre a retomada da turnê. “As músicas (do disco Não vejo a hora) seguem fazendo sentido e algumas até ganharam novos sentidos depois do que passamos”, contou.
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Segue a rápida entrevista que fizemos com Humberto.
Tribuna: Depois de todo esse tempo recluso pela pandemia, quando você pôde produzir muito, quais são seus próximos projetos na carreira?
Humberto Gessinger: Estou lançando remixes de 4 músicas deste disco. Elas formam o EP ÁGUA GELO VAPOR. Em casa, longe dos trios, acabei me aproximando de um tipo de som do qual sempre gostei mas que nunca apareceu no meu trabalho: a música eletrônica. Pedi a quatro artistas que dominam essa linguagem que remixassem as músicas. Foi uma experiência muito bacana.
E quanto às inéditas, que você certamente trabalhou na pandemia?
As composições inéditas vão esperar um pouco. Apesar de ser aparentemente mais fácil lançar novos trabalhos hoje, sinto que, pela quantidade enorme de informação circulando, as pessoas demoram mais para assimilar as novidades. E acho legal que cada tour passe duas vezes pelas cidades. O show vai se transformando, perde a excitação da novidade mas ganha a maturidade dos quilômetros rodados. Dois quadros diferentes da mesma paisagem.
Todos os teus trabalhos mais recentes tiveram parcerias (nas composições e palcos). Elas poderão ser vistas nos próximos trabalhos?
Como compositor, sempre trabalhei de forma bastante solitária. A partir do inSULar me abri mais a parcerias. Como músico, gosto de me colocar dentro de uma banda, por mais fugaz que ela seja. A partir do DVD AO VIVO PRA CARAMBA coloquei em prática uma ideia antiga: trabalhar com dois trios, acústico e power trio. Pretendo seguir explorando esse universo. A parcerias que pintarem serão, como têm sido, espontâneas, nada premeditado.
Experimentar é uma marca na sua carreira. O que anda com vontade de fazer (em relação a sonoridade, instrumentos e canções) que ainda não fez?
Expandir as possibilidades dos trios é o que está me interessando mais. Seja o trio acústico, onde tenho tocado viola caipira e harmônica, ou o power trio onde o baixo de 6 cordas tem ganhado espaço ao lado dos teclados. É sempre um formato muito intenso onde o entrosamento e a maturidade fazem grande diferença.
Você compôs muito sobre a realidade do Brasil ao longo da sua carreira. Atualmente a situação política ainda é uma inspiração?
Não acho que eu tenha mudado muito neste aspecto. O Brasil continua um país muito desigual e eu continuo no campo progressista, achando que o social deve prevalecer sobre o individualismo que só nos faz erguer muros e grades cada vez mais altos. Se minha escrita ficou mais atemporal e menos episódica, talvez seja algo natural pra qualquer artista longevo. A gente vê muita água passar sob a ponte mas o rio permanece o mesmo. Não vejo sentido em entrar numa corrida histérica em que todos falam cada vez mais alto e se ouvem cada vez menos.