Quase 60% da população no Chile está vacinada, mas apenas 46% com as duas doses. Isso, associado ao relaxamento de medidas de contenção da pandemia, gerou um aumento no número de casos e, inclusive, o retorno da quarentena na região metropolitana de Santiago. Dados oficiais do país destacam que, em um dia, 73% dos pacientes infectados eram pessoas que não tinham completado o esquema com a segunda dose.
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Na Inglaterra, o lockdown teve de ser adiado por mais quatro semanas, apesar de estar planejado para o dia 21 de junho. O objetivo do atraso seria permitir que mais pessoas buscassem se vacinar, e tomar a segunda dose da vacina, para evitar a contaminação pela variante Delta – que se tornou prevalente no país europeu. A expectativa do Ministério da Saúde britânico é que, nestas quatro semanas, 10 milhões de vacinas sejam aplicadas em pessoas que já receberam a primeira dose.
Tanto o Chile quanto a Inglaterra são exemplos da importância de completar o esquema vacinal. No Brasil, há pelo menos 4 milhões de pessoas que não retornaram aos postos de saúde para tomar a segunda dose da vacina contra a Covid-19.
Como a segunda dose funciona?
Ao receber a primeira aplicação da vacina, o sistema imunológico é apresentado ao coronavírus, e começa a produção dos anticorpos específicos que, mais tarde, vão ajudar a reconhecer o vírus na vida real. No entanto, uma dose pode não ser suficiente para formar o “exército” completo, segundo Lorena de Castro Diniz, médica imunologista e alergista, coordenadora do departamento científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia.
“Na primeira dose, começam a formar os anticorpos específicos, mas ainda não em uma quantidade necessária para neutralizar [o coronavírus] no caso de uma infecção”, explica. Com o segundo estímulo, ou a segunda dose, como parte do “ensinamento” já foi repassado, a produção dos anticorpos é mais rápida e mais específica.
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Quem mantiver apenas uma dose não terá a eficácia completa da vacina para si e para outras pessoas, pois acaba prejudicando a proteção coletiva. “Nos preocupa muito o fato de que um número importante de pessoas não está fazendo a segunda dose. É fundamental. A vacinação não é algo apenas individual, mas coletivo. Só vamos conseguir controlar a pandemia com o coletivo se vacinando para atingirmos o máximo de proteção”, alerta Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
- A vacina da AstraZeneca, por exemplo, oferece uma proteção de 76% 22 dias após a primeira dose. Com a segunda, a eficácia sobe para 81%.
- O imunizante da Pfizer, após a primeira dose, apresentou uma eficácia de até 85%. Com as duas, 91%.
- A Coronavac, produzida pela Sinovac/Instituto Butantan, teve uma eficácia de 49,6% após a primeira dose. Com as duas, 50,7% duas semanas após a aplicação.
Uma ou duas doses?
Embora a maioria das vacinas contra a Covid-19 exija duas aplicações, nem todas são assim. O imunizante desenvolvido pela Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, por exemplo, demanda apenas uma dose. A diferença está na quantidade do antígeno [substâncias estranhas ao organismo que desencadeiam a produção dos anticorpos, como o coronavírus].
“Às vezes a vacina usa uma concentração maior de antígeno no primeiro estímulo, e isso faz com que precise só de uma dose. Isso acontece mais com as vacinas ‘vivas’, como a da febre amarela. Geralmente, uma única dose já faz uma imunogenicidade [capacidade de provocar uma resposta imune] elevada, porque é um vírus vivo atenuado”, explica Diniz.
A vacina contra a febre amarela utiliza o vírus Flavivirus em uma versão “viva”, porém atenuada. Até 2017, o esquema vacinal contra a doença exigia um reforço a cada 10 anos. Como a vacina apresentou uma proteção por mais tempo, a OMS (desde 2014) e a Anvisa (desde 2017) passaram a recomendar apenas uma aplicação.