O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou neste domingo (11) que o Brasil deverá iniciar um novo ciclo de vacinação contra a Covid-19 a partir de janeiro de 2022, mas especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que é cedo para estipular uma data para isso.
Para uns, faltam estudos científicos que justifiquem a necessidade de um novo ciclo de vacinação. Para outros, o foco do governo deve ser completar a vacinação do ciclo atual.
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Na opinião da pneumologista e pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Margareth Dalcolmo, provavelmente haverá a necessidade de reforço vacinal, mas ela considera precipitado falar em prazos.
“Acho temerário falarmos em revacinação com prazo determinado sem especificar com qual vacina. É preciso que os estudos que nós chamamos de fase 4 [o uso da vacina na vida real] terminem com as diversas plataformas vacinais para que nós saibamos o tempo em que a imunidade foi conferida”, diz.
A pesquisadora afirma que também é necessário saber mais sobre a chamada intercambialidade das plataformas vacinais, ou seja, o uso de uma vacina de um fabricante na primeira dose e de outro produtor na segunda.
“Quem foi vacinado hoje com a Pfizer poderá ser vacinado com a AstraZeneca? Ou vice versa? Ou com a Coronavac? Nós não temos essa resposta ainda”, afirma. “Considero temerário dizer prazo determinado para a revacinação com qualquer que seja a plataforma vacinal neste momento do Brasil em que a prioridade é cobrir o maior número de pessoas possível com vacinas.”
A vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabella Ballalai, concorda que possivelmente o reforço será necessário e que é cedo para definir datas.
“A gente precisa primeiro colocar todos os esforços em cumprir primeiro o nosso dever de casa, que é vacinar grande parte da população adulta, ter uma excelente cobertura dos grupos de risco e sim, pensar no futuro, vacinando crianças e adolescentes e fazer uma dose reforço “, disse. “Não é que não vai acontecer. Só acho precoce a gente definir data.”
Para o médico infectologista e consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) Leonardo Weissmann, até agora não há consenso científico sobre a necessidade de revacinação ou de reforço anual. Ele explica que o período de proteção das vacinas ainda é incerto, já que os estudos estão em andamento.
Por enquanto, diz ele, não são conhecidas as taxas de infecção pelas novas variantes, que podem escapar das vacinas disponíveis, e a necessidade de se aplicar vacinas modificadas. “Portanto, falar sobre a necessidade do reforço da vacina todos os anos ainda é somente especulação”, diz.
Já Paulo Lotufo, médico epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, afirma que as informações disponíveis como eficácia contra as variantes e imunidade após aplicação não mostram necessidade de um novo ciclo de vacinação.
“Com os dados atuais eu não vejo razão para isso [a revacinação] e nenhum indicativo de revacinação até se completar o atual ciclo.”
Também no domingo (11), o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que há uma perspectiva de reforço anual da imunização “enquanto nós tivermos circulação viral e uma vacinação que seja com as novas cepas circulantes”.
De acordo com ele, o Butantan trabalha no desenvolvimento de versões da Coronavac e da Butanvac contra a variante gama (P.1), e elas devem estar disponíveis como dose de reforço em 2022.