A série “Sob Pressão”, que mostra a realidade de um hospital de emergência no Rio de Janeiro, volta na noite desta terça-feira (5) na Globo com a pandemia de coronavírus no roteiro. “Procuro ser realista esperançoso”, afirmava o médico Marcio Maranhão resume os dois episódios especiais de “Sob Pressão – Plantão Covid”.
Maranhão é autor do livro “Sob Pressão – A Rotina de Guerra de um Médico Brasileiro”, que deu origem ao filme, e posteriormente, às temporadas do programa na televisão. Durante a pandemia do novo coronavírus, ele trabalhou na linha de frente no combate à Covid-19 e chegou a contrair a doença. A partir dessa experiência, o médico ajudou no roteiro e atuou como consultor dos programas especiais, que vão se passar em um hospital de campanha cenográfico construído especialmente para as gravações.
Ele destaca que a série é uma “obra poderosa” ao falar das relações e dos dramas humanos que envolvem a medicina e os pacientes, mas sobretudo por reforçar a importância de um sistema público de saúde -no Brasil, o SUS. “A gente tem um desempenho muito trágico em relação à pandemia [são quase 150 mil mortes], mas estaríamos muito pior se não fosse a saúde pública brasileira.”
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A atriz curitibana Marjorie Estiano, 38 anos, que faz a médica Carolina, reforça que “Sob Pressão” sempre procura levantar os problemas que existem hoje neste atendimento como forma de defender o SUS, e não de ser contra ele. “A gente é muito privilegiado em ter o SUS. A questão de fato é fazer ele funcionar. O Marcio fala muito para gente que no papel, ele [SUS] é ideal, maravilhoso”, diz.
Questionado se a crise política envolvendo as trocas de ministro da Saúde, as denúncias de corrupção nos gastos públicos direcionados ao enfrentamento do novo coronavírus, as fake news a forma como o presidente Jair Bolsonaro minimizou a pandemia serão abordados na série, o roteirista Lucas Paraizo afirma que, embora “Sob Pressão” seja espelhada na realidade, é uma obra de ficção. Desta forma, essas questões serão tratadas de forma orgânica. “Não é nenhum tipo de denúncia gratuita, não é para criticar ninguém, estamos defendendo a saúde pública”, pontua.
Um dos teasers já apresentados dos episódios especiais mostra o médico Evandro (Julio Andrade) falando em adaptar um respirador para conseguir que ele seja utilizado por dois pacientes – o que denota ao problema da falta do equipamento em número suficiente em muitos hospitais do país.
Admiração pelos profissionais de saúde
Marjorie Estiano salienta que dar vida novamente a médica Carolina aumentou a sua admiração pelo trabalho e a entrega dos profissionais de saúde. Para ela, a população em geral já se sente muito abandonada em relação ao tratamento político que é dado à saúde pública, o que se agravou neste momento da pandemia.
“O que estamos vivendo do governo, essa falta de amparo, de proteção, de zelo, você se sente abandonado, absolutamente negligenciado… Acho que para a população em geral que já se sente abandonada por completo, se sentir sem importância é estar no lugar comum. Mas perceber através do profissional de saúde que a sua vida tem importância, tem significado, que tem alguém que está lutando pela sua vida, que arrisca a própria vida por isso, é muito inspirador”, diz, emocionada.
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Julio Andrade compartilha da mesma opinião. O ator, que conta ter aversão a hospitais, salienta que a sua motivação ao interpretar Evandro e superar essa dificuldade é justamente esse respeito pelos médicos e a vontade de “querer e de saber que há história para ser contada”.
Para o ator, os ataques contra os profissionais de saúde que atuaram contra o coronavírus é “monstruoso”. “A gente pensar que em um momento tão sério, que estamos vivendo uma pandemia, possa acontecer isso, não dá nem para falar, sabe…é de uma imbecilidade.”
Além do combate à Covid-19, a série vai voltar no tempo e mostrar o passado de Evandro e como nasceu sua vocação para a medicina. Irmão na vida real de Julio, Ravel Andrade vai interpretar o médico 20 anos antes, mostrando a relação com a mãe, Penha (Fabiula Nascimento), e sua admiração pelo doutor Samuel (Stepan Nercessian), personagem que morreu na segunda temporada da produção.
Dificuldades na gravação
O autor Lucas Paraizo avisa que “Sob Pressão – Plantão Covid” tem alta carga dramática. “Nós choramos muito escrevendo o roteiro”. Para os protagonistas Marjorie Estiano e Julio Andrade, gravar os dois episódios foi muito exaustivo, especialmente, por todos os equipamentos de proteção individual (EPIs), como as máscaras descartáveis do tipo N95 (a mesma utilizada pelos profissionais de saúde na pandemia), que eles precisavam usar, além da necessidade de se manterem atentos aos protocolos de segurança para evitar contaminações no set. “A sensação é que eu tinha feito uma temporada inteira, você se desgasta mais”, diz o ator.
Para ambos, outro grande desafio foi mostrar as emoções dos personagens apenas com os olhos e a voz, já que praticamente todo o corpo estava coberto. Neste ponto, surgiu uma nova preocupação: a captação do som, que poderia ficar prejudicada justamente por causa do uso dos EPIs. “A voz entrega muito a nossa emoção, onde é que a gente está, o que estamos sentindo. E a máscara está cobrindo todo o nosso rosto, você não tem nenhuma boca, não tem os reflexos que sente na pele, porque o corpo todo reage, e ele está todo coberto”, afirma a atriz.
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Uma saída encontrada foi gravar “cenas fakes” só com o objetivo de garantir um áudio mais limpo. Assim, se o momento exigia, por exemplo, que uma maca fosse empurrada, ela não era. Apesar da preocupação, o diretor Andrucha Waddington conta que foi possível usar 99% das cenas gravadas normalmente. Ele também destacou que em 21 dias de filmagens não houve casos de contaminação no set.
“Sob Pressão – Plantão Covid” marca a entrada de dois novos personagens: David Junior, que faz o neurocirurgião Mauro, e Roberta Rodrigues, que interpreta Marisa. Também seguem na história Décio (Bruno Garcia), Charles (Pablo Sanábio), Vera (Drica Moraes), Keiko (Julia Shimura) e Rosa (Josie Antello).
Como Drica Moraes, 51, já passou por um transplante de medula óssea e é considerada do grupo de risco, ela participou da série remotamente. “Fiquei num misto de frustração e alegria. A gente conseguiu fazer duas cenas, eu e Marjorie, pelo telefone, que a gente se viu em tempo real, que deu para ter um gostinho”, afirma a atriz.
Todos eles, inclusive Junior e Roberta Rodrigues, devem seguir na quarta temporada de “Sob Pressão”, que está programada para ir ao ar em 2021.