Grande espetáculo

Show de protestos, polêmicas e críticas de Roger Waters lota Ligga Arena em Curitiba

Foto: Marcelo Andrade / especial para a Tribuna do Paraná.

Sim, Roger, nós precisamos de educação. Não me refiro a crítica de Another Brick in the Wall, mas da educação crítica que o público recebeu na Ligga Arena neste último sábado (04) durante o show didático de Roger Waters, um dos fundadores do Pink Floyd. As mensagens duras do compositor na última noite no mínimo cutucaram quem ainda ignorava os últimos conflitos mundiais.

Há quem não concorde com os posicionamentos do músico britânico, ou mesmo prefira separar o rock de Roger dos duros posicionamentos políticos dele. Para quem foi ao show apenas para curtir o som psicodélico, Roger mandou logo um recado no início da noite: Se você é um daqueles que diz ‘eu amo Pink Floyd, mas não suporto a política de Roger’, vaza pro bar!”.

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A indireta de Roger fez os fãs lembrarem da última apresentação do músico em Curitiba, em 2018. O show aconteceu um dia antes do segundo turno das eleições para presidente. A lei eleitoral permitia manifestações políticas até 22 horas daquele dia. No entanto, o show aconteceu às 21h30, pontualmente. Faltando alguns minutos para as 22 horas, o músico se manifestou: “São 9:58, nos disseram que não podemos falar da eleição depois das 10 da noite. É lei. Temos 30 segundos. Essa é a nossa última chance de resistir ao fascismo antes de Domingo. Ele não! São 10 horas. Obedeçam a lei”. Naquela noite, parte do público apoiou a atitude, enquanto muitos curitibanos desaprovaram e vaiaram o músico.

Diferente do episódio de 2018, sem vaias, o show do último sábado seguiu com grande aceitação do público. Depois de algumas músicas, que mostraram a potência dos telões e dos efeitos especiais esperados para um grande show de despedida, Waters comparou o encontro com o público como uma ida ao bar, espalhando shots para os músicos ao redor do piano de cauda que estava no palco. “Eu gosto do conceito de bar, porque é um lugar onde a gente reúne amigos, encontra desconhecidos, e expõe visões políticas sem ser cancelado ou preso”, enfatizou.

Espetáculo de protestos

A apresentação, que durou pouco mais de duas horas, foi dividida em duas partes, com intervalo entre elas de 25 minutos. Na primeira parte, clássicos como Comfortably Numb, Another Brick in The Wall, Wish You Were Here, Shine On You Crazy Diamond fizeram o público cantar num único coro.

No telão, críticas duras a grandes líderes políticos, ao sistema capitalista, opressões, racismo, crimes de guerra, violência e a guerra entre Israel e Hamas. Em The Powers That Be, Waters fez uma crítica a morte de milhares de inocentes pelo mundo: palestinos que foram mortos na guerra, mulheres assassinadas no Irã, judeus mortos na Alemanha, negros mortos nos Estados Unidos, indígenas assassinados no Brasil.

Em The Bravery out Being Range, Roger Waters denunciou presidentes dos Estados Unidos por matar inocentes em nome da liberdade. No telão, o rosto de cada líder foi colocado junto a uma legenda explicativa, detalhando o ‘crime de guerra’ cometido por cada um deles.

Um grande balão de ovelha encerrou a primeira parte do show. O animal fez referência a música Sheep – cuja letra faz uma crítica ao povo que segue fielmente e sem questionamentos seu líderes, sendo sempre submissos e obedientes.

Já no início da segunda parte do show, um outro balão chamou a atenção do público. Dessa vez, um grande porco com a estampa de The Wall, com olhos assustadoramente vermelhos, que passeava pela Arena enquanto Roger tocava In The Flash. Nas laterais do animal, os dizeres ” Ele está louco, não escute ele / Você está contra a parede agora”.

O show continua e outros mais grandes sucessos do Pink Floyd animam o público: Run Like Hell, Money, Us and Them, Any Colour You Like, Eclipse. Outsite the Wall encerra o espetáculo, num grande arco-íris de feixes de luz, envolvendo todo o estádio. No telão, rostos de pessoas de várias partes do mundo. A mensagem de Roger enfatiza a igualdade: “todos nós precisamos de direitos iguais, direitos humanos, direitos indígenas, direitos trans, direitos palestinos, direitos iemenitas, direitos reprodutivos”. Espetáculo denso, muito mais que apenas rock’n roll. Ainda bem, foi o que se esperava de Roger Waters, e assim ele entregou.

Foto: Eloá Cruz.
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