Dos pacientes que desenvolveram formas graves da covid-19, a maioria pode vir a ter sintomas prolongados ou sequelas da doença, de acordo com uma pesquisa desenvolvida no Hospital das Clínicas da USP. Os resultados foram divulgados pela Agência Fapesp.
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Durante seis meses, 882 pacientes – que estiveram internados por complicações da Covid-19 (sendo que 2/3 precisaram de cuidados nas UTIs) – tiveram alguns aspectos da vida após a doença monitorados pelos pesquisadores. A grande maioria (89,3%) apresentou sintomas persistentes ao longo do período de análise. Os mais comuns eram cansaço, dores pelo corpo e dispneia (dificuldade para respirar).
Sintomas prolongados mais comuns
Sintomas emocionais ou cognitivos foram relatados por 58,7% dos participantes. Os mais comuns eram:
- Perda de memória (42%);
- Insônia (33%);
- Prejuízo na concentração (31%);
- Ansiedade (28%);
- Depressão (22%).
De acordo com Geraldo Busatto, coordenador do laboratório de Neuroimagem em Psiquiatra do HC/FM/USP, e coordenador do estudo, os sintomas descritos pelos pacientes estão inter-relacionados. “O que verificamos é que uma pessoa que reclama da perda de memória também relata insônia, ansiedade e depressão. É importante destacar que esses resultados foram ajustados em relação aos sintomas apresentados antes de as pessoas terem Covid-19”, explica, em entrevista para a Agência Fapesp.
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Para chegar a esses dados, os pesquisadores fizeram entrevistas estruturadas [método de entrevista no qual as perguntas são pré-estabelecidas e aplicadas igualmente a todos os participantes], e categorizaram diagnósticos de transtornos psiquiátricos a partir das respostas.
Segundo o coordenador do estudo, há um índice de estresse pós-traumático entre os participantes, de 13,65%, que se assemelha aos dados da população em geral. Porém, no caso de alucinações e delírios, os números foram mais altos, com 8,71% e 6,35% de relatos, respectivamente.
Danos cognitivos
Além das entrevistas, os pesquisadores pediram para que os participantes realizassem algumas tarefas para mensurar possíveis danos cognitivos.
“Em comparação com a média brasileira, esses pacientes tiveram um resultado pior, isso especialmente entre os que tinham entre 60 e 75 anos. Já nos testes que analisaram fluência verbal, não houve diferença entre os pacientes e a população brasileira em geral. Isso mostra que, provavelmente, o déficit causado pela Covid-19 não é uniforme, algumas áreas da cognição devem apresentar mais déficits que outras”, explica o coordenador do estudo.