Adaptação

Reabertos, cinemas e teatros de Curitiba ainda tentam atrair público e produções

Teatro Guaíra ficou mais de um ano fechado. Foto: Albari Rosa / Arquivo

Dez dias após a publicação de um novo decreto municipal, permitindo que cinemas e teatros reabram as cortinas, os principais estabelecimentos de Curitiba ainda enfrentam um cenário agridoce. Se por um lado a reabertura dá um refresco nas contas apertadas pela queda brusca de faturamento dos últimos meses, ela ainda é cercada de desconfianças e barreiras que tornam a atividade cultural mais onerosa. E, claro, prejudicam o planejamento de médio e longo prazos.

Diretora-presidente do Centro Cultural Teatro Guaíra, Mônica Rischbieter diz que o momento ainda é de “aflição”. “Temos várias produções engatilhadas, mas sem perspectiva de serem realizadas. Ninguém vai se arriscar a marcar uma produção para agosto. Vai que em agosto mude a bandeira [o sistema de adoção de restrições adotado por Curitiba]? É um mercado muito complicado”, aponta.

Para ela, a redução de capacidade de público é outro complicador. “A regra da prefeitura diz que os teatros podem reabrir com 50% [da capacidade total da casa]. Teríamos mil lugares no Guairão [cuja capacidade total é de 2 mil lugares]. Mas a gente fez as contas respeitando um metro e meio de distanciamento para todos os lados. Poderíamos colocar no Guairão somente 300 pessoas. O produtor não se interessa. Ele vai vir ao Guairão para pôr 300 pessoas na plateia?”, questiona.

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Esse efeito da pandemia deve agravar um pouco mais a crise no Centro Cultural, que teve perda milionária em seu faturamento desde que precisou fechar as portas, ainda no primeiro semestre do ano passado. “As produções do Centro Cultural são feitas com o dinheiro que ele arrecada [via taxa de produções de terceiros]. E a gente tem uma arrecadação média de R$ 1,5 milhão, R$ 1,8 milhão por ano. Não arrecadamos nada [durante a pandemia]”.

Com isso, a agenda do Centro Cultural até tem eventos, mas em um cronograma bem diferente do que o gigante da cultura paranaense sempre esteve acostumado.

Mais otimista com a retomada, Marino Galvão Jr, diretor executivo do Instituto Curitiba de Arte e Cultura (ICAC), que administra espaços como o Cine Passeio, admite perda de receita e também ressalta um certo receio do público para a volta dos teatros e cinemas. Mas pondera que a situação é passageira. “O Cine Passeio é um dos equipamentos culturais mais queridos da cidade. Tenho certeza de que quando tudo estiver normalizado, as pessoas vão voltando aos poucos”, indica.

Pesa a favor do jovem cinema no centro histórico de Curitiba o fato de ser mantido com verba da prefeitura. Ainda assim, o dinheiro da bilheteria é importante. “Nós dependemos da bilheteria exclusivamente para conseguir os filmes. O mercado cinematográfico trabalha com um modelo de partilha. Os produtores entregam o filme mediante uma divisão da bilheteria. Nesse sentido, a gente entende que o grande prejuízo financeiro foi em relação ao mercado distribuidor, das distribuidoras que deixaram de exibir seus filmes com a gente”, aponta Galvão Jr.

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Em 2019, ano de estreia, o Cine Passeio arrecadou R$ 180 mil líquido de bilheteria, descontando o que repassa aos distribuidores. Era a receita esperada também para 2020 – valor que, obviamente, não veio.

Ainda assim, o gestor aposta em um interesse das distribuidoras na retomada conjunta. “Nesse momento, as distribuidoras estão muito abertas. Elas não estão preocupadas em ter que subir o valor do ingresso para compensar a taxa de ocupação que a gente vai ter, com as salas reduzidas a 50%. Elas têm sido sensíveis no sentido de manter os seus produtos nas salas de cinema”, indica.

O maior risco, da pandemia, na avaliação de Galvão Jr., era o de prejuízo institucional. “A gente completou um ano no dia 27 de março [de 2020]. Aí o cinema fechou dez dias antes e a gente ficou praticamente 18 meses fechados, com exceção de duas pequenas reaberturas. O Cine Passeio teve público de 88 mil pessoas durante o primeiro ano de operação. É triste você ver uma certa infância do nosso equipamento perdida. Ele estava na sua plenitude, teve que fechar as portas e esse público simplesmente deixou de existir”, diz.

O cinema contornou esse descolamento com o público investindo em exibições via internet e em um forte trabalho de redes sociais. O resultado veio. De março do ano passado a junho deste ano, 12,6 mil espectadores acompanharam alguma das quase 700 transmissões online do Passeio. Gente que potencialmente retornará às salas físicas em algum momento. O Cine Passeio reabriu, oficialmente, na última quinta-feira (15).

Também com os endereços de Curitiba reabertos (nos shoppings Curitiba, Cidade e Ventura), o Cinesystem aposta em atrair novamente o público. “O futuro ainda não é tão claro, como será a evolução de arrecadação, mas nem é esse o nosso foco no momento.  Nossa preocupação principal agora é cativar novamente o cliente, mostrar que ele pode voltar a frequentar as salas com segurança e tranquilidade. Queremos marcar a trajetória do consumidor, contribuir para que ele leve sempre na memória momentos incríveis com as telonas como plano de fundo”, diz Sherlon Adley, diretor comercial e de marketing da rede maringaense.

O Cinesystem estima a perda de faturamento em uma ordem de 80%, quando comparado a números de 2019. “Tivemos praças fechadas por um período muito longo, foi mais de um ano de geração de receita zero. Isso, sem dúvidas, é um baque enorme”, aponta Adley.

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Por enquanto, a retomada não chegou de forma vigorosa na rede, que tem como principal público uma faixa etária ainda não vacinada por aqui. “Em todo o Brasil estamos com um movimento mais baixo do que o registrado nos anos anteriores (excluindo, claro, 2020, em que os cinemas passaram praticamente o ano todo fechados). Em Curitiba isso não é diferente. Estamos com cerca de 15 a 20% da performance registrada nos últimos anos. Mas isso já era esperado, segue o fluxo que já sentíamos nos outros cinemas abertos. O público é majoritariamente composto por jovens, de 16 a 22 anos”, indica o diretor.

Outro dos espaços culturais mais importantes da cidade, o Teatro Positivo disse em nota apenas que “com a liberação do segmento no último decreto municipal, acreditamos que a partir do segundo semestre diversos eventos poderão voltar a ser realizados em nossas estruturas”.


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