Uma das maiores mudanças nos nossos hábitos desde o início da pandemia foi o uso de máscara para evitar contágios pelo novo coronavírus. Quem usa o acessório reduz as chances de transmitir o vírus para as pessoas ao seu redor, mas evidências recentes indicam que as máscaras também aumentam a proteção de quem usa, podendo reduzir a gravidade da doença caso a pessoa seja infectada.
Muitas pessoas com Covid-19 não têm sintomas, mas podem transmitir a doença por gotículas que emitem pela boca ao falar, espirrar ou tossir. Por isso é importante usar a máscara para tentar impedir que essas gotículas se espalhem.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), nos Estados Unidos, argumentam que uma pessoa de máscara exposta à infecção recebe uma dose menor do vírus e acaba tendo uma forma mais leve de covid-19.
“Máscaras, dependendo do tipo, filtram a maior parte das partículas virais, mas não todas”, dizem os autores do estudo, que deve ser publicado no Journal of General Internal Medicine, mas ainda não passou por revisão de outros especialistas.
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A relação entre a dose viral e a gravidade de uma doença já é debatida há décadas na literatura científica. Em um experimento voluntários foram expostos a doses diferentes de vírus influenza, da gripe – as doses mais altas causaram sintomas mais graves. Mas não há como fazer esse tipo de experimento de forma ética com vírus letais, como o causador da covid-19.
A teoria de que as máscaras reduzem a gravidade da doença, embora ainda não esteja comprovada, faz sentido, dizem especialistas. “Nós já imaginávamos que a barreira proporcionada pelas máscaras é muito importante para diminuir a quantidade de vírus que uma pessoa pode potencialmente receber”, diz Carlos Zárate-Bladés, pesquisador do Laboratório de Imunorregulação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
“A quantidade de patógeno que recebemos quando somos infectados por determinado micro-organismo é fundamental para o tipo de resposta que vamos conseguir montar contra esse micro-organismo”, explica o pesquisador, acrescentando que a diminuição dessa quantidade é importante para que o sistema imunológico consiga travar uma batalha e ter mais chances de ganhar do que de perder.
Cruzeiros e cabeleireiro
O estudo da UCSF relata casos em que as taxas mais altas de transmissão assintomática parecem estar associadas ao uso de máscaras na população. Dois casos de propagação de Sars-CoV-2 em navios de cruzeiros ilustram essa associação, segundo os autores.
No navio Diamond Princess, que ficou bloqueado no Japão após um surto que deixou mais de 700 pessoas contaminadas, mais de 80% dos infectados tiveram sintomas da doença em fevereiro, quando o uso de máscaras ainda não tinha sido adotado.
Em um caso mais recente, em um cruzeiro que partiu da Argentina, todos os passageiros receberam máscaras cirúrgicas e os tripulantes receberam máscaras N95 depois que o primeiro caso de Covid-19 foi detectado. De todos os que testaram positivo nesse navio, 81% não tiveram sintomas. Geralmente, a média é de 40% de assintomáticos entre quem tem a doença.
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Em um salão no Missouri (EUA), duas cabeleireiras tiveram contato com 139 clientes antes de saber que estavam com Covid-19, mas nenhum deles teve sintomas da doença. O uso rigoroso de máscaras no estabelecimento possivelmente ajudou a evitar os contágios. Autoridades de saúde ofereceram testes gratuitos para esses clientes, 67 aceitaram e tiveram resultados negativos para Covid-19. Os outros não foram testados, mas também não tiveram sintomas.
Maiores taxas de imunidade
Os pesquisadores da UCSF dizem que as infecções assintomáticas de Covid-19 são prejudiciais para a propagação da doença, mas “podem ser benéficas se levarem a taxas maiores de exposição [ao vírus]”.
“Expor a sociedade ao Sars-CoV-2 sem as inaceitáveis consequências de doença grave com o uso de máscaras pelo público pode levar a uma maior imunidade na comunidade e propagação mais lenta enquanto aguardamos uma vacina”.
Como usar as máscaras
No início da pandemia, especialistas acreditavam que o novo coronavírus era trasnmitido principalmente por gotículas maiores de saliva. Mas evidências científicas mais recentes indicam que o coronavírus pode ser passado de pessoa para pessoa por minúsculas partículas suspensas no ar, ou aerossóis. Por isso é importante usar máscaras e manter os ambientes ventilados para diminuir os riscos de infecção.
“Quando falamos, emitimos gotículas dos mais diversos tamanhos. As gotículas micrométricas seriam as principais responsáveis pela transmissão do coronavírus, porque elas teriam capacidade de se manter no ar por muito mais tempo do que uma gotícula grande”, explica Zárate-Bladés.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, no começo de junho, orientações sobre as máscaras: elas devem ter três camadas de tecido, de materiais diferentes, e com costuras apenas nas bordas, e não no meio do acessório.
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É comum vermos as máscaras sendo usadas de forma errada – penduradas na orelha ou no queixo, por exemplo. Esses erros diminuem a sua eficácia e aumentam as chances de transmissão do novo coronavírus.
Especialistas da Universidade Johns Hopkins (EUA) divulgaram um guia para o uso correto das máscaras. O ideal é lavar as mãos por pelo menos 20 segundos antes e depois de tocar em uma máscara e garantir que ela esteja ajustada corretamente sobre o nariz e a boca.
Como usar a máscara corretamente:
Lave as mãos antes e depois de tocar na máscara;
Segure apenas o elástico ao colocar ou tirar a máscara;
Cubra nariz, boca e queixo com a máscara. Se precisar ajustar a máscara depois de colocada, lave as mãos antes e depois;
Verifique se consegue falar e respirar confortavelmente pela máscara;
Lave as máscaras reutilizáveis depois de cada uso. Se a máscara for descartável, jogue-a fora assim que ela estiver visivelmente suja.
O que fazer para evitar erros comuns:
Não toque na sua máscara ou na de uma criança enquanto ela está sendo usada;
Não use a máscara debaixo do queixo, deixando nariz e/ou boca expostos;
Não deixe o seu nariz ou a boca descobertos;
Não retire a máscara enquanto estiver perto de outras pessoas em público;
Não compartilhe a máscara com familiares ou amigos.
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