Necrose por oclusão arterial, alergia, nódulos, deformidade e inchaço excessivos no rosto são alguns dos problemas mais graves observados em pacientes atendidos por profissionais não médicos que oferecem o procedimento de preenchimento facial. O alerta é da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Paraná (SBD-PR), que orienta à população a recorrer somente aos médicos especialistas no momento de se submeter a essa e a outras técnicas de harmonização facial.
A recomendação é reforçada de forma constante pela instituição para evitar casos como o registrado pela reportagem do programa “Fantástico” do último domingo (2), quando foi mostrado o drama de pacientes que ficaram com a face deformada após ser atendidas por uma cirurgiã-dentista no Estado do Rio de Janeiro.
Nas redes sociais, a profissional acusada promete harmonização orofacial, botox, bichectomia, fios e até lipoaspiração, métodos para remodelar partes do rosto e do corpo. Para os pacientes, dizia usar ácido hialurônico, mas, conforme a polícia, o produto aplicado era o polimetilmetacrilato, o PMMA.
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“O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Dermatologia têm incentivado que seus membros façam campanhas de conscientização à população sobre os riscos de se fazer esses procedimentos inadvertidamente, sem se atentar para os critérios. Há várias ações em andamento na Justiça para tentar barrar os profissionais que não são habilitados a fazer esses procedimentos, passíveis de muitas complicações”, destaca a presidente da SBD-PR, Paula Xavier Schiavon.
No campo jurídico, uma das mais recentes decisões tomadas pela 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) reafirmou que biomédicos não devem invadir a competência do profissional da medicina, devendo ficar restritos aos atos privativos de sua profissão. O resultado representa uma vitória para a SBD, que apresentou denúncia de invasão de competência ao MP do Rio Grande do Sul, a partir de um caso específico sobre serviços estéticos invasivos.
Na última segunda-feira (3), a SBD entrou com pedido de liminar na Justiça Federal contra a Resolução nº 198/2019, do Conselho Federal de Odontologia (CFO), que indevidamente autoriza dentistas a usarem toxina botulínica e preenchedores faciais na região orofacial e em áreas anexas, e a realizarem procedimentos de harmonização.
Preenchedores
A imperícia e a ausência de base sólida de conhecimento de profissionais não médicos são os principais motivos que levaram a entidade a ingressar com os processos, principalmente no que toca às substâncias.
A presidente da SBD do Paraná esclarece que existem vários produtos usados no preenchimento. Além do ácido hialurônico, o mais comum, há o ácido polilático e a gordura, entre outros. “Cada substância tem seus riscos e complicações específicos. O ácido hialurônico é o mais utilizado. É biodegradável, sendo absorvido pelo organismo. Mas também em relação a ele existem várias complicações, apesar de ser biocompatível. Há risco de alergia a um dos componentes da fórmula, formação tardia de nódulos, inchaço na região aplicada, oclusão arterial, provocada quando o gel é injetado inadvertidamente em vaso sanguíneo (injeção intravascular), causando seu entupimento e posterior necrose. Esta é a complicação mais aguda, temida e vista nos relatos que observamos na internet e TV”, acrescenta Paula Schiavon.
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Por isso, a SBD-PR defende que os serviços só sejam prestados por quem tem o conhecimento profundo sobre anatomia da face, farmacologia e fisiologia, e esse profissional é o médico. “Outros profissionais têm pleiteado a especialidade de harmonização facial, mas, na visão dos médicos, como se trata de um procedimento invasivo, cheio de pormenores e riscos, defendemos que a técnica só seja feita por quem estudou mais e é mais capacitado, no caso, os médicos”, salienta.
Registro no CRM
A SBD-PR ressalta ainda: uma consulta estética também é uma consulta médica e requer todo o protocolo dessa fase de atendimento. “Não existe beleza sem saúde. Quando um paciente vai à consulta visando a fazer um procedimento estético, é preciso uma consulta detalhada para detectar um eventual problema de saúde; identificar se o paciente é fumante, se tem antecedentes médicos, se é alérgico, ou se apresenta doenças que aumentam o risco de reações ao preenchedor. A consulta é parte fundamental do tratamento”, acrescenta a presidente da Sociedade.
A orientação aos pacientes é que busquem, no site do CRM de seu Estado, o nome do profissional com o qual se pretende fazer o procedimento, a fim de se certificar de que ele tem de fato a credencial da especialidade anunciada, no caso o Registro de Qualificação de Especialista. No site da SBD-PR, também há os nomes dos profissionais da dermatologia.