Sobrecarregado com os trabalhos da faculdade, o músico curitibano Caio Galani, de 23 anos, viu seus planos de início de quarentena irem por água abaixo. “Eu estou com muitos trabalhos, muitos mesmo, e por causa disso não estou conseguindo ler meus livros e estudar meu instrumento, o que é muito importante para minha vida como músico”, conta Caio, que ainda planejava estudar alguns idiomas durante os dias de isolamento social, mas também não está conseguindo.
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Para o músico, pode até parecer que ele é o único a não dar conta de tudo, afinal, o que mais se vê nas redes sociais são mensagens do tipo: “aproveite a quarentena e aprimore seu inglês”, “não desperdice os dias em casa”, “leia mais”, “seja produtivo”. Mas a verdade é que esse sentimento de frustração e improdutividade está inquietando mais gente do que se imagina.
De acordo com Luiza Helena Rocha, psicóloga clínica e professora, em um primeiro momento, muitos de nós entendemos a quarentena quase como se fosse um tempo de férias e, por isso, acreditamos que faríamos e resolveríamos tudo o que estava pendente. Só que, apesar de estarmos em casa, para muitos, o trabalho e as aulas continuaram e mesmo os que não estão trabalhando precisaram assumir outras tarefas como cuidar da casa, cozinhar, ajudar os filhos com as atividades escolares, etc.
“Estamos vivendo um momento de exceção, não estamos de férias, relaxando. Estamos sob pressão. Nossa rotina mudou, nossa liberdade de ir e vir está restringida, temos medo da doença e da crise, estamos distantes de pessoas que amamos, e a incerteza que sempre está presente em nossas vidas, nesse momento é quase palpável”, afirma Luiza. “Manter a calma e o equilíbrio e pensar em formas de lidar com tudo isso é um gasto de energia muito grande. Então não fazemos tudo porque não temos energia para isso”.
E a rotina de Caio é prova disso. Depois de concluir os trabalhos universitários do dia, só restam o cansaço e a chateação por não ter conseguido fazer tudo o que havia planejado. “Quando sobra tempo, eu só quero descansar”, conta o músico. “E tudo isso é desestimulante, de certa forma, pois você planeja, planeja, e não consegue cumprir as metas”.
O que realmente importa?
“Para a psicóloga, é justamente por estarmos vivendo um momento difícil e não termos energia de sobra que precisamos dedicar a pouca que temos em atividades que realmente façam sentido para nós. E aqui, Luiza convida para uma reflexão: será que tudo o que está sendo deixado de lado realmente importa? Precisamos mesmo fazer todas essas coisas? E o mais importante: queremos realmente fazê-las?
“Talvez esse seja o maior aprendizado desse período difícil: entender o que realmente tem importância e faz sentido para nós. Compreender no que queremos investir nosso recurso mais importante e escasso: nosso tempo”, observa a especialista. “O segredo, ou o caminho, para lidar com a frustração e a culpa por não estarmos realizando tudo que nos propusemos é compreender que somos humanos, pessoas normais, passando por uma situação extraordinária e extremamente desafiadora. E entender que manter o equilíbrio e realizar o necessário já é uma vitória”.
Dicas importantes
Confira algumas dicas da psicóloga sobre como manter a saúde mental durante os dias de quarentena e como lidar da melhor forma com o sentimento de frustração em relação aos nossos planos:
*Mantenha uma rotina: ela será diferente do que era antes, e está tudo bem. Rotina nos dá segurança e economiza energia do cérebro. Nesse momento tão incerto, toda segurança é bem-vinda.
*Mantenha contato com as pessoas: ligue para seus familiares e amigos. Fale de seus sentimentos, de suas angústias. Você verá que não é só você que está se sentindo assim, nem está conseguindo fazer tudo o que deseja. Você pode estar isolado, mas não está só.
*Planeje seu dia: Talvez seja difícil fazer planos para o futuro, para quando a pandemia passar, mas você pode planejar o seu dia, a sua semana, o seu fim de semana. Fazer isso lhe dará uma sensação de controle, que nesse momento é importante.
*Reflita sobre sua vida: é um bom momento para refletir e compreender o que de fato tem importância para você, o que faz sentido. Do que você mais sente falta nesses tempos? O que tem te deixado feliz? Quais as pequenas alegrias do dia que te fazem bem? Muitos aproveitaram essa temporada em casa para limpar armários, jogaram muita coisa fora. O que eu realmente preciso? O que posso deixar para lá?
Reencontre, retome, reforce a sua conexão com sua espiritualidade: reze, ore, medite. É preciso encontrar conforto, equilíbrio, um pouco de paz. Um simples obrigado ou um momento de silêncio já vão ajudar.
*Cuide-se! De tudo e todos que você precisa cuidar, o mais importante é você. Lembre-se disso. Se coloque na lista de coisas a fazer, de prioridades. Peça que cuidem de você. E peça ajuda!
*Lembre-se que tudo isso vai passar: recorde outros momentos em sua vida em que você achou que não daria conta, mas com o tempo as coisas se organizaram e a vida voltou ao normal. Porque é assim que vai ser. Tudo isso vai passar.
Respire: toda vez que você estiver entrando em crise, se desesperando ou estiver com raiva disso tudo, pare e respire.
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