Aprimorando o acessório

Pesquisadores dizem como turbinar a máscara caseira e garantir maior proteção

Foto: Gabriele Lasser / Pixabay

A essa altura da pandemia da covid-19, boa parte da população sabe como usar as máscaras, como higienizá-las corretamente e até tem um modelo favorito. Mas é possível aprimorar os itens, tornando-os mais eficazes — até porque a doença continua a circular e os cuidados devem ser mantidos até que a maioria das pessoas seja vacinada.

Uma pesquisa divulgada no fim de novembro, que ainda não passou pela revisão de outros pesquisadores, avaliou 11 tecidos diferentes e concluiu que é possível, sim, ter itens de proteção — ainda que não profissionais — com boa qualidade. “Nós recomendamos máscaras de três camadas, sendo que as camadas externas usem um material flexível e outro firme, e a camada interna seja de um material projetado para filtrar partículas”, destacam os pesquisadores no artigo publicado na plataforma MedRXiv.

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Essa combinação de tecidos tende a aumentar a eficácia da máscara acima de 70% para partículas menores, e acima de 90% para partículas maiores. Vale lembrar que as máscaras agem contra a covid-19 sendo uma barreira mecânica que impede que as gotículas das salivas de pessoas contaminadas com o Sars-CoV-2 sejam jogadas no ar, em forma de aerossóis, ou caiam nas mucosas de outras pessoas.

Para os materiais das máscaras, Carlos R. Zárate-Bladés, pesquisador do Laboratório de Imunoregulação no Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sugere algodão e polipropileno. “Há tecidos que são mais permissivos que outros. Já se sabe que o melhor tecido para máscaras caseiras é o 100% algodão, com a trama mais fechada possível, em duas camadas. Em uma terceira camada interna, algum material do tipo polipropileno. Essas são as melhores que se conhece, em termos de máscaras caseiras”, explica.

Vedação certa

A forma como a máscara se encaixa ao rosto também importa para aumentar a eficácia do item. Ainda segundo o pesquisador, alguns detalhes precisam chamar atenção das pessoas:

  • As máscaras precisam ter um elemento metálico que ajuste o tecido na região do nariz;
  • O tecido precisa ficar colado à pele da pessoa na região das bochechas e na parte inferior.

“O que precisamos sentir, quando estamos usando a máscara, é perceber que o ar entra e sai através da máscara, e que não está entrando ou saindo pelas laterais, pela parte de cima ou de baixo. Se isso estiver acontecendo, significa que o ajuste da máscara não está adequado”, destaca Zárate-Bládes.

Máscaras muito grudadas ao rosto, pelas quais é quase possível ver o contorno da boca, nariz e lábios da pessoa, também não são indicadas. “Essas não são as melhores porque elas dão muita exposição à mucosa. Por isso que são mais úmidas. São também feitas de materiais que esticam e o tamanho dos poros do tecido se modificam. São menos efetivas por esse motivo”, explica o pesquisador.

“A forma como a pessoa usa, seja uma máscara N95 [modelo profissional] ou não, também importa. Se ela fica mudando a posição da máscara no rosto, abaixando ou deixando embaixo do nariz, no queixo, isso também atrapalha a eficácia”, diz Zárate-Bládes.

Na dúvida, teste

Feita a máscara nos moldes acima descritos, é hora de testar. Primeiro, segundo orienta o físico Vitor Mori, pós-doutorando na faculdade de Medicina da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, observe o ajuste e a vedação, buscando por escapes de ar.

Na sequência, faça o teste da luz e da vela. “Pegue a máscara e olhe contra a luz. Se conseguir ver a luz passando por ela, é preciso trocar por uma máscara mais grossa. Depois, usando a máscara, tente assoprar uma vela ou um fósforo. Se for muito fácil de apagar, troque”, explica o pesquisador, que também é membro do Observatório Covid-19 Brasil, iniciativa independente de pesquisadores que visam a disseminação de informações cientificamente embasadas sobre a infecção pelo novo coronavírus.

Proteção maior

As máscaras caseiras deveriam ser medidas paliativas e temporárias de controle da doença. Mas, após 10 meses do anúncio da pandemia, continuamos a usá-las, e não as versões mais profissionais. Por quê?

Essa é a dúvida do físico e pesquisador Vitor Mori. “Era algo que eu esperava que a gente tivesse acessível mais rapidamente na pandemia [o uso de máscaras mais profissionais]. Era um equipamento que se encontrava facilmente, por um preço não tão caro, antes”, diz.

Segundo ele, embora as máscaras caseiras sejam eficazes, elas são muito mais importantes em evitar que uma pessoa contaminada espalhe o vírus do que em proteger essa pessoa, efetivamente.

“As máscaras que protegem quem está usando são as modelo PFF2 e superiores. As máscaras de pano funcionam, e é necessário que muita gente use. Mas ela não funciona para proteger você mesmo, mas sim aos outros. Por isso defendo muito que se aumente a produção de PFF2, que se encoraje o uso e que se explique como reutilizá-las”, explica Mori.

As máscaras PFF2 são equivalentes às N95, termo que ficou mais conhecido durante a pandemia, mas que é mais usado nos Estados Unidos. “Teoricamente é muito bonito o conceito de todos usarem as máscaras para proteger o outro, mas infelizmente não está funcionando. Não tem senso de coletivo. É importante que existam opções viáveis para que realmente proteja quem queira se proteger”, reforça o físico.

Porém, de acordo com Carlos R. Zárate-Bladés, pesquisador do laboratório de Imunoregulação da UFSC, ainda não seria o momento de pedir para que a população troque de máscaras por modelos mais profissionais, por três motivos:

“Não podemos entrar em uma situação em que colocamos em risco os profissionais de saúde que precisam desses materiais. Uma demanda maior dessas máscaras pela população poderia levar a isso. Segundo porque há um impacto ambiental enorme produzido nesse momento por causa do uso das máscaras profissionais, que são feitas de um material que não é degradável. E terceiro, sobretudo, é ter consciência de que boas máscaras caseiras são absolutamente suficientes para fazer com que a pessoa fique protegida no dia a dia”, explica.

Em situações específicas, segundo o pesquisador, o uso de modelos mais profissionais pode ser indicado. “Uma pessoa precisa viajar, pegar um avião, por exemplo. Neste caso, ela deve comprar uma N95 e viajar com ela. Se a viagem for mais longa, acima de 6 horas, deve trocar a cada seis horas, porque esse é o limite”, diz.

Para a higienização adequada desse modelo, Mori explica que não podem ser usados álcool ou sabão, que podem prejudicar a peça. “O ideal é deixar descansando por pelo menos 3 dias, em ambiente arejado. A PFF2 pode ser reutilizada várias vezes. O que os fabricantes indicam é que, enquanto a máscara estiver íntegra, bem ajustada, sem deformação, rasgo ou costura saindo, é possível usar. É possível até trocar o elástico, se precisar”, sugere.

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