O Passeio Público de Curitiba chega em 2022 trazendo em seus 136 anos de fundação, momentos importantes da história, em uma relação estreita com a cidade e com a própria população. Entre suas características mais marcantes está o portal inspirado no Portão do Cemitério dos Cães de Paris. Outra curiosidade, que nem todos os visitantes conhecem, é que a primeira lâmpada elétrica que chegou a Curitiba foi acesa no Passeio Público, no dia 19 de dezembro de 1886, para comemorar a instalação da Província do Paraná.
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Primeiro parque curitibano, o Passeio une em suas alamedas a tradição de pontos antigos com a modernidade digital, sem esquecer do principal objetivo, do cuidado com os animais que ali vivem de maneira harmônica com os humanos. Aliás, o Passeio Público tem uma pessoa que trabalha no local há 26 anos e tem na sua rotina diária, o amor e o carinho por todos os bichos.
Manoel Javorouski, é veterinário do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Aos 56 anos, Manoel é um conhecedor pleno do Passeio Público. Acostumado a estar próximo aos animais, sabe a realidade de quem frequenta os quase 70 mil metros quadrados do espaço localizado entre um triângulo das Ruas Carlos Cavalcanti com a Avenida João Gualberto e a Presidente Faria, no Centro de Curitiba.
“Aqui é a minha segunda casa. Quando jovem eu estudei no Colégio Tiradentes, hoje Potty Lazarotto. A minha rotina era passar todo dia na frente do Passeio Público. Gosto pelo aspecto histórico e pela proximidade de se trabalhar com os animais. Gosto de olhar fotos antigas e todo espaço tem uma história”, disse Manoel.
Desde 1982, o Passeio Público abriga animais de pequeno porte. As grandes espécies foram transferidas para o Zoológico Municipal de Curitiba, bem mais amplo. A alteração na época gerou um enorme debate e até hoje tem gente que gostaria de visualizar grandes animais no Passeio. Aliás, teve urso um dia por ali.
“A transferência foi importante, pois ali foi um marco importante para mudar o pensamento no trato com o animal, focando no bem-estar animal. Antigamente era uma vitrine de exposição e não tinha tanto o cuidado com o indivíduo. Com a inauguração do Zoo em 82, houve a mudança e os grandes animais do Passeio Público foram transferidos para o Zoo por ser uma área maior. Os chipanzés viviam em um cubículo e foram para uma ilha. Hoje, o Passeio está focado na conservação de espécies, reprodução de animais ameaçadas de extinções e parcerias”, comentou o médico veterinário.
Espécies e estrutura
Atualmente, 50 pessoas trabalham diariamente no Passeio Público. São profissionais que estão acostumados a estar com os animais e conhecem a rotina de cada espécie. Ao todo são 436 animais, sendo 418 aves, 15 mamíferos e 3 répteis que precisam ser alimentados por uma grande equipe. A definição dos alimentos é realizada por zootecnistas, veterinários e biólogos que conhecem a fundo o habito alimentar de cada espécie.
As aves, por exemplo, são alimentadas por frutas e verduras. Banana, laranja, mamão, maça, uva, melancia e vegetais como alface, couve e escarola entram no cardápio que se altera constantemente dependendo da estação do ano.
“Tudo é planejado e analisado. A quantidade para cada animal é separada, tem aquele que desperdiça mais que o outro, o tamanho também é pensado, ou seja, a forma de apresentação da comida é importante. As aves aquáticas como os guarás e marrecos tem alimentos encontrados na natureza como camarões, e temos obrigação moral e técnica para oferecer. Já as corujas recebem camundongos congelados. Sempre são oferecidos animais mortos”, reforçou Javorouski.
Na cozinha do Passeio Público, várias caixas são separadas para se colocar ração. Para os oito macacos-aranha-da-cara-preta, a ração tem cheiro de banana. Já para os tucanos, a ração é semelhante a uma pitanga. “A do macaco parece um salgadinho. É importante ter essas particularidades, pois o formato precisa ser adequado para que o animal consiga pegar e colocar no bico”, ressaltou o veterinário.
O contato com os humanos reduziu com o tempo e o alimento que antes era dado ao animal foi cortado. Pensando nisso, os macacos ficam em uma espécie de ilha, ou seja, estão afastados das pessoas. “Isso mudou bastante e ainda fazemos atividades de Educação Ambiental com um apoio técnico. Tem doenças que os humanos podem transmitir ao animal. O afastamento dos macacos ajudou a evitar esse transtorno. Com as aves, o contato é distante”, alertou Javorouski.
Pedalinho volta?
O Passeio Público, por ser o primeiro parque de Curitiba, e por estar localizado em uma região central da cidade, é ponto de recordação de muitas famílias. Além de fotos, as pessoas lembram do Pasquale, tradicional restaurante que ficou por décadas no local e foi demolido em 2019. Outra lembrança comum é o pedalinho. Aliás, chegou a ocorrer a Corrida dos Pedalinhos, em 2013.
Flávio Resende, 47 anos, reside nas proximidades do Passeio Público e gosta de frequentar o espaço ao lado da filha Júlia de três anos. De acordo com Flávio, o Passeio traz recordações da infância e dos pedalinhos.
“Aqui é muito legal, pois lembra a infância. Eu andava de pedalinho com os primos e hoje mostro para a minha filha. O local está mais seguro, é um ambiente agradável de vir. A revitalização ajudou demais, mas gostaria que voltasse algumas atrações como o próprio pedalinho e tivesse opções gastronômicas”, afirmou Flávio.
A prefeitura não descarta o retorno do pedalinho, mas devido à pandemia da Covid-19, alguns projetos estão parados. Jean Brasil, superintendente de Obras e Serviços da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, acredita que a revitalização realizada em 2019 trouxe novamente a essência do Passeio Público aos curitibanos, mas as atividades precisam ser bem analisadas por todos os órgãos municipais.
“Achamos que um restaurante não cabe nos momentos atuais. Criamos uma praça para fazer atividades diversas como feiras, exposições e tudo isso tinha um calendário. Com a pandemia, criou-se essa questão, mas a prefeitura tem desenvolvido conversas para fomentar o caráter social. Tem que lembrar que o espaço é público, e não pode ser comercial ou de um dono só. É um ambiente democrático que o Passeio sempre teve para Curitiba”, completou Jean Brasil.