Poucos cantores e compositores conseguem representar tão bem a família brasileira quanto Martinho da Vila. Trilha sonora de fins de semana, das feijoadas, macarronadas, peixadas e churrascos pelo país, o sambista virou ícone. Aos 86 anos, o poeta da fala mansa apresenta mais um novo trabalho. Numa proposta mais intimista, Martinho traz mais um novo disco conceitual, inspirado na ópera.
Exaltando toda a beleza da negritude, Negra Ópera foi recentemente indicado ao Grammy Latino 2023 e traz a força de Zumbi dos Palmares, de Exu e de tantas outras forças de berço africano. Para saber mais um pouquinho da nova fase de Martinho, a Tribuna teve a honra de conversar com o compositor. Confira:
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Tribuna – Sua filosofia de vida continua sendo viver a vida devagar, devagarinho?
Martinho – Devagar, devagarinho. Sempre fui de fazer tudo bem devagarinho. Quem anda ligeiro, corre, nem sempre chega. Quem vai devagar não cansa (risos). Hoje as pessoas querem tudo muito imediato. Tem que ir devagar mesmo, melhor.
Seu novo álbum Negra Ópera foi indicado recentemente ao Grammy Latino 2023. Esse seu trabalho é uma exaltação da cultura negra. Teve participações interessantes como o rapper Will Kevin e também de amigos já antigos, Chico César e Renato Teixeira. Como foi o trabalho todo?
Martinho – Esse álbum, ele é como se fosse uma ópera. Eu gosto um pouco de ópera, então pensei em fazer esse disco mais intimista, um concerto de ópera. Ele tem uma abertura orquestral, como acontece nas óperas. Mas as óperas, elas têm temas, são meio dramáticos. O difícil da ópera é que ela é dramática, a história é feia. Quanto mais feia a historia, mais bela a ópera. A história do disco não é feia, mas acho que conseguimos fazer uma boa ópera.
Em quase todos os seus trabalhos, a gente percebe uma ligação muito forte com a religião afro. Com a Umbanda, principalmente. Nesse último álbum, tem a música do Exu da Sete. É uma homenagem ao seu Exu? Ouvi dizer que o seu protetor é o Sete Encruzilhadas.
Martinho – É meu protetor, sim. Você está certa! Eu estava pesquisando e pensei, vou gravar um ponto do Seu Sete. Os pontos são curtos, as músicas são curtinhas. Mas aí eu tentei criar algo a mais. Deu certo. Todo mundo gostou.
Você recebe inspirações? Os guias te ajudam nas composições? Como é esse trabalho?
Martinho – Os Orixás ajudam. Eu tenho um filho, o Preto [Ferreira], que é messiânico. E aí eu falei, ‘que tal vc fazer isso aí comigo?’. Ele gravou comigo.
Eu gosto de colocar meus filhos nos meus trabalhos. E não é porque eu sou pai deles, mas eu acho que todos são muito talentosos. Eu gosto porque é bom pra mim. Não é só bom pra eles. Eu gosto de trabalhar em família, somos todos muito ligados.
Como você lida com a paternidade? Afinal, todos seus filhos estão sempre trabalhando com você, são bem ligados.
Martinho – Eu ajo mais como um amigo. São todos meus amigos. Eu acho que o pai que trata os filhos como amigo, procurando reativá-los, entendê-los, é melhor que um pai rigoroso. Ele funciona mais sendo amigo que sendo um pai emérgico.
A gente percebe que suas músicas falam de família, de cotidiano. Todas as suas canções, elas contam de coisas da sua vida? Ou existe alguma separação disso, um ‘eu lírico’?
Martinho – Eu acho que todos os poetas, compositores, que criam músicas, sempre tem muito da história dele dentro delas, embora não esteja fazendo uma autobiografia. Em algumas, eu fiz de propósito. Eu vou escrevendo, vou fazendo as coisas. Tenho músicas inspiradas em coisas pessoais.
Pouco tempo atrás, você chegou a falar que não iria mais gravar discos. No entanto, acabou mudando de ideia. Ainda bem! O que pesou nessa mudança?
Martinho – Eu tinha pensado em não gravar mais. Atualmente, não se grava mais disco. Álbum completo, como era antes, não existe mais disco físico. Então a ideia era fazer uma música ou duas, colocar na internet, no streaming. Mas a minha gravadora, a Sony, pediu pra eu fazer um disco inteiro, que são sempre conceituais. Eles disseram para a gente então que iria lançar as músicas de tempos em tempos.
Palavra eu não tenho muito (risos). Eu falo que não vou fazer mais uma coisa e depois vou lá e faço. Eu disse que não ia mais gravar disco, e gravei. Disse que não ia mais desfilar na Vila [Escola de Samba Vila Isabel]. Depois da homenagem do ano passado, ia deixar a escola de samba de lado. Mas aí, ano que vem, a Vila vai reeditar um samba meu de 1993. Vou ter que desfilar.
Obrigada pela entrevista, Martinho! Os curitibanos estão aguardando pelo seu show no próximo sábado (23), no Teatro Positivo.
Martinho – Adoro Curitiba, os fãs de Curitiba. Quero dar uma volta na Rua 24 Horas, nem sempre consigo porque as pessoas me param, querem tirar fotos. Pega o celular, ‘manda um abraço para a minha tia, que é sua fã’. Gosto muito de Santa Felicidade, de jantar lá. Comer uma massa. Vai ser bom, adoro Curitiba.
Serviço
Martinho da Vila em Curitiba
Data: 23 de setembro de 2023 (sábado)
Local: Teatro Positivo (Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido)
Horário: 21h15
Ingressos: os ingressos variam de R$ 90 a R$ 500, de acordo com o setor e modalidade escolhidos
Vendas: Disk Ingressos (Ventura Shopping – de segunda a sexta, das 11h às 22h, aos sábados, das 10h às 22h, e aos domingos, das 14h às 20h, Call-center Disk Ingressos (41) 33150808 (de segunda a sexta, das 9h às 22h, e aos domingos, das 9 às 18h), na bilheteria do Teatro Positivo
**Entrega em domicílio com taxa de entrega
Classificação: 16 anos
Realização: RW7 Production & Entertainment e Plateia Entretenimento