A família Lazzarotto decidiu doar mais de 4,5 mil obras do acervo de Poty Lazzarotto para o Museu Oscar Niemeyer (MON). O contrato entre os familiares e o governo do estado do Paraná foi consumado em dezembro de 2021, mas a administração estadual oficializou o recebimento da doação somente nesta terça-feira (29), dia do aniversário de 329 anos de Curitiba – coincidentemente data de nascimento do artista Poty Lazzarotto – em audiência pública no Palácio Iguaçu.
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Das 4,5 mil obras assinadas por Poty (1924 – 1998), são mais de 3 mil desenhos e 366 gravuras, além de tapeçarias, entalhes, serigrafias e esculturas, entre outros. A doação, feita pelo irmão do artista, João Lazzarotto, foi recebida pelo governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior, e passa a pertencer ao Estado do Paraná. Agora, o MON terá um espaço permanente de exposição das peças do artista curitibano.
“Entregar o acervo do meu irmão é respeitar o desejo dele, que foi sempre de deixar suas obras permanentemente públicas. Estou feliz por estar vivo para concretizar essa vontade”, confidenciou com exclusividade para HAUS o tabelião João Lazzarotto, 89 anos, irmão de Poty.
“Estamos honrados pela escolha do MON. É um patrimônio de grande riqueza cultural e histórica, que o Estado não teria recursos para pagar e que agora poderá ser visto por todos que vierem visitar o museu”, disse o governador. “Poty é o nosso principal artista e um dos grandes artistas de todo o mundo. Agradeço em nome da população do Paraná o desprendimento da família com essa doação”, afirmou o governador Ratinho Junior.
O advogado Guilherme Rodrigues, amigo pessoal de Poty desde a década de 1970 e representante da família no processo de doação de escritura pública do acervo, conta que entre as peças existem algumas bem raras, como tapeçarias, talhas de madeira, blocos de concreto com figuras, além da sua ampla produção em desenhos e gravuras.
“Apesar de ter obras até na Europa, a intenção do Poty era de que suas obras ficassem preservadas aqui em Curitiba. Por isso, o João organizou e catalogou tudo”, explica Rodrigues. Segundo o advogado, desde 13 de dezembro do ano passado o museu está com todo o acervo.
Exposição no MON
A primeira exposição com parte do acervo do artista deve ser inaugurada em julho e vai ocupar dois andares da torre do Olho. “Vamos começar uma reforma no início de abril que, entre outras coisas, vai incluir um novo elevador para melhorar a acessibilidade da torre. Tudo ficará pronto para abrigar a exposição do Poty”, adiantou a superintendente de Cultura, Luciana Casagrande Pereira. As obras de Poty Lazzarotto também serão levadas para o interior, em mostras itinerantes.
Esta será a segunda exposição de Poty Lazzarotto no museu. Em 2012, o MON apresentou no espaço do Olho a mostra inédita “Poty, de todos nós”, com curadoria de Oswaldo Miranda, o Miran, que reuniu cerca de 800 itens da vasta produção do artista.
Quem foi Poty Lazzarotto?
Napoleon Potyguara Lazzarotto (1924-1998), popularmente conhecido como Poty, é um dos artistas símbolo de Curitiba. A cidade é cravejada por seus murais: do Teatro Guaíra ao monumento do Centenário do Estado, dos azulejos atrás da Catedral às sedes de várias empresas públicas e privadas. Como defende a artista plástica Luciana Ferreira em artigo publicado em 2011 no 8º Fórum de Pesquisa Científica em Arte, Poty escolheu o mural como interface principal por considerar que, desta forma, sua arte seria mais democrática e estaria à disposição de todos.
“Em cinco décadas de atividades ininterruptas, a maior parte da
obra de Poty é representada pela arte pública – e se encontra, quase toda, em Curitiba. Até 1986, o artista plástico já havia assinado mais de vinte murais espalhados pela cidade”, ensina Luciana no artigo.
Entre as características principais de Poty, seu traço tem algo de rural, mas é também moderno, seja pela distorção criativa ou pelo uso de justaposições de espaços e tempo. “Graças a esse traço peculiar, tipos de uma Curitiba ainda ligada a hábitos agrícolas, mas flagrada por uma linguagem contemporânea, surgem na forma de pessoas comuns, no exercício de usos, costumes, atividades e diversões paranaenses”, explica a artista plástica.
“Cenas tão triviais do cotidiano humano foram expressas por um simbolismo carregado de humildade e singeleza, que levam, possivelmente, aqueles que as veem a identificar-se, mesmo que inconscientemente, pelo que é sugerido no contexto de sua obra”, finaliza.
Sua obra também ilustra livros de grandes autores brasileiros, como Dalton Trevisan, João Guimarães Rosa, Gilberto Freire, Jorge Amado, Mário Palmério, Rachel de Queiróz e Graciliano Ramos, para citar apenas alguns.
Procurada pela reportagem para falar sobre a doação, o governo do estado do Paraná preferiu não conceder entrevista nem divulgar fotos do acervo até o evento de anúncio público nesta terça (29).