Mesmo entre viagens e durante sua turnê por Portugal – que logo estará aqui pelo Brasil e Curitiba – Fafá de Belém concedeu uma entrevista exclusiva para a Tribuna do Paraná. Mesmo um pouquinho rouca, ela encantou com sua simpatia e carisma. Gostoso foi ouvir aquela risada marcante que só Fafá tem – todo mundo logo sabe quem é.
A cantora paraense é uma artista com uma das carreiras mais marcantes da música brasileira. Faz recentemente 45 anos anos de carreira – durante esse tempo, vendeu mais de 15 milhões de álbuns, entre Brasil e Portugal.
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Fafá sempre foi ousada, autêntica, cantou o que quis e o que gosta. Suas músicas fizeram parte da vida de muitos brasileiros, seja em trilhas sonoras de novelas, em sucessos, nas rádios. Neste show que apresenta em Curitiba no próximo dia 17 de março, um repertório com “Abandonada”, “Foi Assim”, “Nuvem de Lágrima”, “Coração do Agreste” e “Filho da Bahia”.
Confira abaixo a entrevista completa com a cantora:
Seu último trabalho foi Humana, gravado em 2019. É um álbum cheio de beleza, tem a sua marca Fafá – que revela sentimentos de uma maneira tão intensa e tão explícita. Mas uma coisa que me chamou muito a atenção foi a música “Alinhamento Energético”, pois ela tem uma letra da Letícia Novaes, a Letrux, que foi quase uma premonição de 2020. “Se você achou que ano passado foi intenso / Cê não sabia de nada, inocente “. Isso também te surpreendeu? Como foi isso?
Fafá – Humana veio num momento em que eu havia acabado de fazer a turnê “Do tamanho certo do meu sorriso”, eu vivo entre Portugal e Brasil há pelo menos 40 anos. Então, eu estava numa turnê aqui, mas fiquei assustada de como a direita e tudo o que era retrocesso começou a dar as caras, não só no Brasil como no mundo.
Na volta, entrei em contato com Paulo Borges e o Zé Pedro, que foram os dois parceiros meus, no espetáculo e no disco “Do tamanho Certo do Meu Sorriso”, e falando que eu queria falar desse momento soturno, que o mundo passava. Coincidentemente, eles pensavam na mesma coisa, fazer um trabalho falando no ouvido e chamando a atenção da escuridão que se anunciava. Foi fabuloso, uma experiência, quando eu recebemos o som da Letrux nunca imaginei que fosse uma premonição do que íamos viver no Brasil especificamente, e no mundo em alguns setores. Uma guinada para a direita muito violenta, e uma guinada para o retrocesso.
Montamos o espetáculo, fizemos a primeira turnê, fizemos o segundo giro, e aí veio a pandemia. É um espetáculo que eu quero retomar. Entendo que falar do que tem se estar atento, sempre é muito importante.
Em “Humana”, você cantou inéditas de Adriana Calcanhoto, Fátima Guedes, Ava Rocha… Durante esses 45 anos de carreira, foram muitas parcerias, Roberto Carlos, Chitãozinho e Xororó. Tem alguma parceria inédita em vista, ou desejo de parceria com algum artista em especial?
Fafá – Eu nunca planejo nada. Geralmente, alguma coisa me motiva para entrar em estúdio, uma música que eu ouço, no rádio, quando chega na minha mão. Então eu não planejo parcerias, não planejo encontros. Se você olhar para a minha carreira, ela não é linear. Minha carreira circula. Eu nunca penso ‘agora eu vou fazer essa jogada’, não. Sempre fui contra, quando a gravadora me propôs isso. ‘Agora você vai para lá’, eu não trabalho com marketing, eu trabalho com música. Por isso, tenho tantos caminhos.
Quando eu fico emocionada, a emoção me leva para aquele caminho. Eu gosto de fazer música, sou movida pela emoção. Claro que eu vejo sempre parcerias com todo mundo que eu amo, Ivan Lins, Teresa Salgueiro, Paulo Gonzo, Jão, mas eu acredito que as coisas acontecem no tempo certo. E eu mando sempre lá pra cima, para que o universo dê alguma orientação e me arrumar o caminho certo. Meu coração trabalha nisso.
Não há como falar de Fafá de Belém sem deixar de mencionar a importância e exemplo de mulher que sempre pareceu tão bem resolvida, original e cheia de talento. Glória Maria disse numa entrevista do Roda Viva que se sentia livre para vestir o que quiser, mas não era totalmente segura com seu corpo. A Fafá de Belém é toda essa segurança que a gente vê ou tem suas fragilidades? Como lida com isso?
Fafá – Todos nós temos nossas fragilidades, nós não podemos é ser reféns delas. Eu sou uma menina que nasceu em Belém do Pará, no tempo onde as meninas tinham que bordar, costurar, fazer baínha, fazer bolo, e pensar em casamento. Eu adoro fazer baínha, adoro fazer bolo, adoro costurar, mas nunca pensei em casamento. Eu sempre adorei ler. Meu pai tinha uma biblioteca fabulosa, então a leitura sempre foi um prazer muito grande e uma companhia.
Eu gosto muito de viajar sozinha e sempre levo como companhia um livro. Um, dois livros como companhia de viagem. Então essa menina, ela continua em mim, assustada, irreverente, gargalhando, inquieta, curiosa. Mas nada consegue me parar. Eu já passei por alguns percalços, por não ser uma pessoa programável, inclusive no meio da música. Mas eu não me aquieto, eu quero sempre saber o que está do outro lado do mundo. E aí a gente corre riscos.
Você foi uma das técnicas do The Voice +Mais, focado para talentos acima dos 60 anos. Vimos a Fafá com os brancos da raiz até as pontas, mas de certa maneira pareceu tão natural e tão vibrante. Com os brancos, vieram convites para produções de moda, editoriais. Diante da sua experiência como artista, como a gente pode fazer uma sociedade brasileira melhor, livre dos preconceitos do etarismo?
Fafá – O Brasil não gosta de velho. O Brasil tem vergonha dos seus velhos, e os velhos se envergonham de ser velhos. A gente caminha pra frente, eu tenho 66 anos. Por pelo menos cinco ou seis anos, quero deixar meus cabelos brancos. O meu entorno me orientava a não fazer isso, porque isso, porque aquilo, porque iria envelhecer. Eu digo ‘mas cara, eu tenho 66 anos’. Eu adoro a minha vida!
Eu sempre assumi meus quilos a mais, o meu peito maior que o outro, sempre botei um decote para valorizá-los. Eu sou uma brasileira, eu sou fundamentalmente uma mulher brasileira, uma cabocla que também é latina. Eu sou uma mulher farta. E aí quando veio a pandemia, e a raiz tava começando a ficar branca, eu fui deixando crescer. Eu acho que com isso eu posso ter motivado muitas mulheres e muitos homens, muitos não-binários, a assumir a sua idade e seu tempo.
A gente ganha tempo, a gente ganha idade. Há meninas de 18 anos que fazem tanto procedimento, que eu imagino que a cabeça delas é velha. E eu vejo mulheres de 70, 80 anos tão fabulosas andando pelas ruas curiosas, pessoas amigas, que isso pra mim é juventude. Temos que levantar a bandeira contra o preconceito.
Você Fafá sempre foi muito franca e defendeu seu posicionamento político com muita clareza. Durante as eleições para presidente, seu engajamento foi cada vez maior. Você criticou Bolsonaro, bolsonaristas, defendeu seu voto a Lula. O que espera para a cena artística nesses próximos anos?
Fafá – Eu entendo que temos que tocar pra frente. Esclarecer a Lei Rouanet, que é uma das coisas mais fabulosas criadas pelo Rouanet, aperfeiçoando a Lei Sarney, virou uma coisa horrorosa, uma explicação ignorante, burra e preconceituosa para macular a classe artística.
Um país sem arte não existe. A vida sem arte não existe. Eu acho que é um tempo de afirmação, caminhar pra frente, e nos recolocarmos num país que exporta cultura, que vive da cultura, e que é multicultural.
Serviço
Data: 17 de março de 2023 (sexta-feira)
Local: Teatro Positivo (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300)
Horário: 21h
Ingressos: Os ingressos variam de R$ 60,00 a R$ 520,00 de acordo com o setor, lote e modalidade escolhidas
Os valores podem mudar sem aviso prévio, conforme lote vigente
Vendas: Disk Ingressos (Ventura Shopping – de segunda a sexta, das 11h às 22h, aos sábados, das 10h às 22h, e aos domingos, das 14h às 20h, Call-center Disk Ingressos (41) 33150808 (de segunda a sexta, das 9h às 22h, e aos domingos, das 9 às 18h), na bilheteria do Teatro Positivo
**Entrega em domicílio com taxa de entrega
Classificação: Livre
Realização: CULT! Produções e o Instituto Res Publica