O brasileiro diminuiu o consumo de carne em cada refeição nos últimos 12 meses. Os dados são de uma pesquisa desenvolvida pelo The Good Food Institute (GFI) em parceria com o Ibope e divulgada esta semana durante live sobre o consumo de carne e alternativas vegetais no Brasil. Em 2018, segundo estudo do instituto, 29% dos entrevistados informaram que reduziram o consumo de proteína animal – agora esta parcela já representa 50%.
O crescimento rápido mostra o surgimento de uma nova categoria de consumidores: os flexitarianos. Esse perfil corresponde àquelas pessoas que diminuíram o consumo de produtos de origem animal, mas que não deixaram de comê-los de forma definitiva e, portanto, não podem ser considerados vegetarianos ou veganos.
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Segundo a análise do GFI Brasil, entre os fatores que influenciam essa redução do consumo de proteína animal está a preocupação com a saúde e a sua relação com a alimentação, pois 62% dos flexitarianos considera importante que o alimento seja o mais natural possível. E, quando substitui produtos de origem animal, esse público prioriza que o alimento tenha menos gordura (39%) e que possua vitaminas, cálcio e zinco (37%). “Podemos afirmar, com bastante clareza, que a preocupação e cuidado com a saúde são as principais motivações dos respondentes para reduzir o consumo de produtos de origem animal. Essa é uma tendência que percebemos desde 2018, com a realização de outras pesquisas”, ressalta Gustavo Guadagnini, diretor executivo do The Good Food Institute Brasil.
O estudo foi realizado entre os dias 9 e 20 de maio deste ano, com 2 mil participantes das classes A, B e C em todas as regiões do Brasil. Na pesquisa, os participantes indicaram os seus comportamentos nos últimos 12 meses (entre maio de 2019 e abril de 2020). “É claro que não podemos desconsiderar que a pesquisa foi realizada em meio à pandemia de COVID-19 e que impactos socioeconômicos podem ter influência neste cenário. Mas os dados acompanham uma tendência mundial de repensar o consumo de produtos de origem animal aliada à preocupação dos consumidores com os atributos nutritivos do que estão ingerindo e padrões de sustentabilidade”, explica Gudagnini.
Comportamento
O levantamento também constatou a redução no consumo de derivados de proteína animal. Entre os entrevistados, 42% afirma consumir leite apenas uma vez por semana. Número ainda menor em relação ao consumo de outros laticínios (36%) e ao consumo de ovos (41%).
Além disso, os dados também apontam que 47% das pessoas substitui a proteína animal exclusivamente por legumes, verduras e grãos, além de indicarem que os consumidores estão dispostos a conhecer novos produtos e a buscar alternativas para o consumo de produtos de origem animal: 59% das pessoas afirma ter consumido alternativas vegetais – os chamados produtos plant-based – ao menos uma vez por semana. “O conceito de alternativas vegetais no Brasil tem crescido muito rapidamente e está, cada vez mais, conquistando consumidores que ainda consomem produtos de origem animal”, afirma Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil.
Para a alternativa vegetal ser bem aceita pelos consumidores, no entanto, alguns pontos não podem ser deixados de lado. A pesquisa aponta as três questões consideradas mais importantes pelos entrevistados: os produtos devem ter sabor, textura e aroma igual ou melhor do que o similar animal, devem ser mais naturais e devem ter valor nutricional igual ou melhor do que o similar animal. “Produtos mais saudáveis, seguros, éticos e sustentáveis. Estes são os valores que farão cada vez mais pessoas reduzirem ou abandonarem seus hábitos tradicionais”, enfatiza.
E a tradição é um fator muito importante nessa equação, afinal o aspecto cultural da alimentação deve ser considerado. Mais do que se alimentar para sobreviver, a comida traz memórias afetivas e remete às tradições culturais. “A carne está inserida em muitas das tradições brasileiras como a feijoada, o churrasco de domingo, o peru no Natal, o bacalhau na Páscoa. Por isso, a mudança desses hábitos depende de a indústria conseguir desenvolver produtos que se insiram nessas situações, e, principalmente, que promovam a mesma experiência sensorial”, explica Casselli.
O preço é um fator decisivo na hora da compra. Apenas 36,5% dos entrevistados disse estar disposto a pagar a mais por um análogo vegetal e 39% dos entrevistados escolheram a opção mais barata. A tendência, no entanto, é que esses produtos fiquem mais acessíveis à medida em que o mercado se desenvolve. “O preço vai ficando mais competitivo conforme a escala aumenta, o domínio das tecnologias é maior e conseguimos nacionalizar os ingredientes”, afirma.
Apesar do preço ser determinante para uma parcela dos entrevistados, a necessidade de produtos mais saudáveis se sobrepõe ao valor e a pesquisa aponta que 30% dos consumidores estão dispostos a pagar mais caso o produto tenha aditivos naturais ao invés de artificiais. Outros 30% também afirmaram que pagariam um valor mais alto caso o produto não apresente gorduras saturadas.
A especialista reforça, também, que é preciso que as pessoas conheçam os benefícios das alternativas vegetais e que não restringi-las a áreas específicas nos supermercados é uma boa maneira de atingir mais consumidores. “A maioria das pessoas que virem uma seção para diabéticos não vai se identificar, pois não é diabética. Porém, se o supermercado coloca uma geleia sem açúcar ao lado da geleia tradicional, muitos consumidores vão comprar por entenderem o benefício de consumir menos açúcar”, conclui.