Os quilos extras que chegam depois dos 30 ou 40 anos não podem mais ser jogados nas costas da “lentidão” do metabolismo. Um novo estudo, publicado na revista científica Science, traz novos dados sobre o gasto energético, e revoluciona algumas ideias.
Embora a mudança no metabolismo com o passar dos anos fosse conhecida dos especialistas, ainda não estava claro o quanto mudava a cada idade. Ao olhar para os dados de 6,4 mil pessoas, distribuídas em 29 países, com idades que variavam de 8 dias a 95 anos, os pesquisadores concluíram que há quatro fases na vida de alterações do metabolismo:
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Ao nascer, o bebê tem uma taxa de gasto energético ajustada que se assemelha a da mãe. No entanto, até o primeiro ano de vida, chega ao pico, que representa 50% acima da taxa dos adultos;
- Do primeiro ano até os 20 anos, o metabolismo gradualmente desacelera cerca de 3% ao ano;
- Entre os 20 e os 60 anos, permanece estável;
- A partir dos 60 anos, a desaceleração é de cerca de 0,7% ao ano.
Sendo estável entre os 20 até os 60 anos, o senso comum de que, à meia idade, todo mundo engorda por “culpa” do metabolismo está desatualizado. “O que os autores mostraram é que essa desaceleração acontece a partir dos 60 anos, quando a pessoa já está em uma fase mais avançada de idade, e que coincide com a perda de massa magra, normal no envelhecimento”, explica Marcelo Mori, coordenador do Laboratório de Biologia do Envelhecimento, do Instituto de Biologia da Unicamp. Pessoas com menos massa magra – que inclui tudo, menos as gorduras e as vísceras – tendem a gastar menos energia, desacelerando o metabolismo.
Segundo Salma Ali El Chab Parolin, médica endocrinologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia regional Paraná, os novos dados surpreenderam os especialistas. “[A estabilidade] dos 20 aos 60 anos foi o pulo do gato, porque a gente imaginava que, aos 60, o paciente já teria um declínio em relação aos mais jovens. E o estudo não mostra isso. Aí que é interessante”, comenta a especialista, que também é professora adjunta de Endocrinologia da PUCPR.
Outro ponto de destaque, segundo a médica, é com relação à metodologia usada pelos pesquisadores. Eles não apenas analisaram pessoas de idades distintas, mas avaliaram toda a composição corporal para poder fazer um comparativo justo. “O indivíduo que tem mais massa magra terá um gasto energético maior do que a pessoa com mais massa gorda. Mas quando se compara a pacientes com massa gorda semelhante, aí é possível fazer uma avaliação real se o gasto energético é maior ou menor, a partir da idade”, explica Salma.
O especialista no envelhecimento Marcelo Mori destaca também que, embora outros estudos tivessem usado de metodologia semelhante, nenhum, até então, observou um número tão grande de participantes quanto esse. “[O estudo] é bastante revolucionário em alguns aspectos. Um deles é que foi feita uma avaliação muito mais completa do metabolismo, levando em consideração todos os componentes que, somados, impactam no gasto energético. Outro, é um estudo muito abrangente, com mais de seis mil pessoas, de vários países e várias idades, e isso acaba sendo bastante representativo.”
Metabolismo de homens e mulheres
Outro senso comum que foi atualizado pelo estudo é a diferença do metabolismo entre homens e mulheres. De acordo com os pesquisadores, não é estatisticamente tão diferente assim.
Se considerar apenas o peso de um homem em comparação com o de uma mulher, o sexo masculino pode apresentar uma taxa metabólica mais elevada – visto que músculos consomem mais energia. Mas, ao ajustar pela massa magra, como foi feito no estudo, as diferenças diminuem.
“Mulheres tendem a ter um metabolismo mais lento, mas não parece tão significativo quando comparado com os homens. Até porque os homens têm mais massa muscular, e o músculo é um tecido que consome muita energia para funcionar”, explica Maria Edna de Melo, médica endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo e professora do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.