Prestes a completar 14 anos de carreira, o comediante Serginho Lacerda hoje é um dos principais nomes do humor de Curitiba. Celeiro de grandes talentos da comédia brasileira, a cidade ganhou nos últimos anos, muito pelo boom da internet em tempos de pandemia, um dos seus mais criativos e talentosos representantes do riso. Foi nesse período que Serginho “explodiu” nas redes sociais.
“Filho” da Vila Oficinas, bairro Cajuru, Sergio Luiz Lacerda de Oliveira tem 33 anos e desde sempre foi o estereótipo do “gordinho gente boa e engraçado”. Quantos de nós não passamos por isso durante a juventude? Só que diferente da maioria, que acaba se resignando enquanto luta contra a balança e as desilusões amorosas, Serginho decidiu transformar o talento de arrancar risadas dos amigos e familiares em ofício.
Antes disso, porém, teve que fazer duas escolhas que mudaram sua vida definitivamente. A primeira, ainda na infância, foi a de escolher um time e para toda criança nascida na década de 80 o Paraná Clube era quase uma barbada. Por muitos anos gozou da cara dos coleguinhas, mas hoje sofre com a fase do seu Tricolor
+ Leia mais: Entre os grandes da comédia, Eduardo Jericó comemora 15 anos de carreira com novo especial
“Sou paranista por questões de herança maldita. Meu pai passou isso para mim e eu passei pro Bento. Todo paranista tem um pouco de leveza em lidar com isso tudo, considerando o tanto que sofremos nos últimos tempos. Mas nem sempre foi assim. Sempre fui muito paranista, de ir em todos os jogos. Desde os 13 anos ia de busão em tudo quanto é jogo. Vivi as glórias do Penta, tirava onda na escola, Libertadores… até o ápice de trabalhar no Paraná. 2017 em Maceió foi mágico (acesso do Paraná para a Série A)”.
Mesmo na fase difícil, o sentimento não muda. E é paixão de pai para filho. Bento, de sete anos, é muito mais que um parceiro de arquibancada, como veremos a seguir.
Da “merda” ao sucesso
Antes de transformar o humor em profissão, Serginho teve uma outra vida. Formado em biomedicina, trabalhou durante quatro anos na área de formação. “Eu trabalhava com parasitologia, então passava horas e horas fazendo exames nas fezes dos outros”, diverte-se do passado como biomédico.
Em 2010, pouco antes de se formar, Serginho decidiu fazer um workshop com a Carol Zócoli, comediante que hoje mora no Canadá. A partir dali o humor ganhou mais espaço na sua rotina. Naquele mesmo ano Serginho começou a se apresentar no Curitiba Comedy Club, em novembro de 2010. Mas, diferente de hoje, quando lota teatros e casas de comédia, não foi fácil arrancar as primeiras risadas da plateia.
“Quando eu comecei, ao contrário do que muita gente acha, o comediante tinha que ser engraçado desde o começo e pra mim era um sofrimento. Eu era muito ruim no começo, não conseguia fazer uma piada engraçada. Eu tinha ideias boas, mas não conseguia arrancar risos das pessoas. A minha primeira apresentação foi horrível, não teve nenhuma risada”, lembrou.
+ Veja também: “Point” da comédia de Curitiba completa 7 anos com shows de humor todas as segundas
Mas eu trabalhei. Fui estudando, aprendendo e todo mês testava meu material lá no Curitiba Comedy Club. “Aí consegui minhas primeiras risadas, minhas primeiras palmas, e ai tudo foi acontecendo. O pessoal do Curitiba Comedy, lá da Família Madalosso, o Joca, o Juliano, a dona Rose, é muito importante para a comédia de Curitiba”, agradece Serginho.
Vieram as primeiras risadas, a decisão de abandonar a biomedicina em 2014 e a intenção de ser humorista em tempo integral. “Em 2015 surgiu um convite para participar do Prêmio Multishow de Humor e eu fui brilhantemente eliminado na primeira rodada”, diverte-se. Mas ele insistiu, gravou dois especiais de humor do Comedy Central, em 2016 e 2017, até que foi trabalhar no Paraná Clube em 2017.
No departamento de comunicação, cuidou das redes sociais, apresentou programas na TV do clube ajudou a transformar o Paraná num case de marketing digital no ano em que o clube retornou para a 1ª divisão do Brasileirão (2018). “Trabalhei sem remuneração, mas tinha muita vontade, Viver o acesso do meu clube, conhecer estádios e tudo mais foi muito legal”, lembra.
+ Que delícia! Festival de Curitiba reúne os melhores restaurantes brasileiros por até R$ 35
Em 2019 é que Serginho passou a ser conhecido pelo grande público de Curitiba. Como integrante do programa Boa da Pan, da Rádio Jovem Pan, ele ganhou espaço e projeção. Ao lado do apresentador Fernando Jr e de outros humoristas talentosíssimos, como Zico Lamour, Diogo Almeida e Rafael Aragão, Serginho brilhou. “São todos grandes amigos que tenho na comédia”.
O “pai do Bento”
Veio a pandemia e muita gente tratou de usar a internet para se expressar, mostrar o seu trabalho e falar para cada vez mais gente. Só que quem realmente se destacou foi quem achou um público para chamar de seu. “Foi ali, no final de 2021, começo de 2022, que acertei os primeiros vídeos falando de paternidade, sobre como é a rotina de levar uma criança para a escola e assim por diante”, contou.
Serginho lembrou o primeiro vídeo que viralizou. “Tive um insight de fazer um vídeo falando de rotina. Aí eu fiz cortezinho seco no vídeo falando como era levar uma criança pra escola. Aí lembrei daquele filme Marley e eu, que tem uma sequência muito legal, mostrando o cachorro crescendo. Ai meti a música do filme de trilha e postei no TikTok. Em seis horas bati 1 milhão de visualizações: Pensei: caraca, agora eu acertei”. E foi ali que Serginho ganhou o apelido de “Pai do Bento”.
Outro golaço (sem referência irônica sobre a fase do Paraná Clube) foi o vídeo em que Serginho fez o time do coração viralizar. “Era final da Champions e no dia tinha Paraná e Santa André, e eu levei ele pra assistir Paraná e Santa André pela Série D. Esse foi o melhor de todos, assim, porque esse aí deu mais de vinte milhões de visualizações, foi parar na TNT, foi uma loucura. E até nos rendeu uma reportagem no Globo Esporte Nacional e isso foi muito maneiro”, recordou.
+ Leia também: Festival de Pão com Bolinho de Curitiba tem 52 participantes; veja todos!
Falar sobre parentalidade de um jeito leve e engraçado mudou a vida do humorista, que bombou nas redes sociais em todo o brasil. “Quem é pai e mãe sabe o quão pesado é o nosso dia, mas ao mesmo tempo é muito bom. Poder tornar isso público e com a galera gostando é um ponto muito legal”, disse.
Aos poucos, além de apenas falar sobre o filho Bento, que hoje tem 7 anos, Serginho trouxe o piá para seus vídeos. “Minha grata surpresa é o Bento, né. Ele desde o começo, quando começou a participar comigo dos vídeos, sempre foi de uma maneira muito natural. Ele sempre traz ideias boas, gosta de participar e faz muito bem. Ele é bem melhor do que eu, na verdade”, orgulha-se.
Hoje Serginho viaja o Brasil todo com o espetáculo Vida de Pai. O show, indicado para toda a família, às vezes conta com a participação do próprio Bento, como no último dia 24 de fevereiro, no Teatro Regina Vogue, quando a Tribuna foi acompanhar a apresentação. “Pai, mãe, criança, seja quem for, independente da idade. É sempre muito bom contar com todos lá e é um momento de desopilação, de reunião de família pra se divertir, dar boas risadas com as histórias que eu conto”.
A primeira piada
“Eu sabia que eu era engraçado, mas eu não conseguia ser engraçado no palco. É muito difícil ali. Uma coisa é ser engraçado entre os meus amigos, porue sei o limite de todos. Outra é encarar 50, 100 pessoas que não te conhecem. Então eu comecei a fazer textos aleatórios, contando coisas da minha vida e não funcionava. Eu era bem gordo na época, né? Então na época eu comecei a brincar comigo. E foi assim que consegui uma risada e uma palma. E era uma piada tão imbecil. Eu falei que eu sempre fui gordo, que desde pequeno eu era gordo. Quando eu tinha 8 anos eu já pesava perto dos 80 quilos e eu estava numa escola com uniforme vermelho. Meu apelido lá era Centenário/Campo Cumprido (nome de uma linha de ônibus de Curitiba). Eu pensei: opa, acho que comecei a enxergar as coisas”, finalizou Serginho.