Esperada ou não, a notícia de uma gravidez é sempre um choque emocional para qualquer mulher. De uma hora para outra, ela descobre que não só o seu corpo, mas também sua rotina, seus planos e toda a sua vida vão mudar radicalmente. E é compreensível que esse conjunto de mudanças e novidades gere alguns medos.
Questionamentos como “será que vou dar conta?” ou então “como vai ficar o meu trabalho? E a minha casa? E o meu marido? Como vou cuidar de tudo?” são naturais e quase que automáticos, mas também revelam uma característica cada vez mais evidente nas mulheres atuais: querer ter tudo sob seu controle. E se tem uma sensação que a gravidez provoca é a de, justamente, não se estar no controle do que vem pela frente, explica a mãe e psicóloga Gleice Justo.
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Só que para aquelas mulheres que podem até sonhar em ter filhos, mas acreditam que sua fase atual não é o melhor momento para isso – seja por conta dos estudos ou trabalho –, o susto é ainda maior. “Quando a gravidez não é planejada, essa mulher pode levar mais tempo para processar todas as novas informações e talvez, por um tempo, se sinta triste e com medo”, observa Gleice.
“A última coisa que passava pela minha cabeça era ser mãe”
Há nove meses, a auxiliar administrativa Jessica Regina Spindola Belli sentiu isso na pele. Depois de um teste de farmácia, o susto: deu positivo. “Foi um dia de muita mão tremendo, de muitos ‘não acredito’, ‘como?’, ‘o que eu vou fazer?’”, lembra a mãe da pequena Ayla, que nasceu no último dia 4 de janeiro. “Me senti com muito medo, tanto da reação de todos quanto do que estava por vir. Foi difícil aceitar porque, em toda a minha vida, a última coisa que passava pela minha cabeça era ser mãe”.
Para a psicóloga, em uma situação dessas o primeiro passo é respirar fundo, respeitar o tempo que vai precisar para assimilar a informação e, depois, buscar compreender que uma nova vida deve ser vista sempre como fonte de construção, renovação e aprendizados. “Nem sempre o caminho que iremos trilhar na vida é linear, mas muitas vezes precisamos reprogramar a rota e traçar novas possibilidades. E assim é a vida com a chegada de um filho”, afirma.
Outro exercício importante é viver diariamente a busca de sair do controle absoluto da vida. E isso vale para qualquer pessoa. Afinal, é impossível estar cem por cento preparado para todos os desafios que a vida nos traz.
“Quando começamos a trabalhar em um emprego novo, nos sentimos preparadas para lidar com os desafios que ele nos trará? Não! É assim que funciona com a maternidade, a vida vai nos preparando conforme os desafios vão surgindo”, exemplifica Gleice. Quando aceitamos que simplesmente não podemos controlar tudo, nos tornamos mais pacientes, compreensivos e tolerantes às adversidades que surgem.
Apoio é fundamental
Respeitar o próprio processo e dar passos para aceitar a gestação não planejada é sim importante. Mas tão importante quanto essa postura, é contar com o apoio da família e, principalmente, do parceiro. Afinal, a responsabilidade é tanto da mulher quanto do homem e, apesar da realidade que muitas vezes revela o contrário, nenhuma mulher deveria encarar essa nova fase sozinha.
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“O apoio à gestante é fundamental para que ela se sinta capaz de vivenciar e encarar a nova fase que está por vir”, afirma a psicóloga. “Todas as mulheres que pensam em interromper uma gestação fazem isso por não se sentirem apoiadas para vivenciar o processo”.
Para Jéssica, o alívio veio exatamente quando sentiu que não estava sozinha. “A reação de todos foi acolhedora. As semanas e meses foram passando e eu fui aceitando dia após dia. Demorou, não foi fácil. Mas quando soube que era ela [a filha Ayla], o coração ficou quentinho a ponto de eu esquecer todo o medo que tive desde o início”, relata ela. “O tempo, o acolhimento da minha família, a boa reação do pai, os mimos da gravidez, tudo contribuiu. Mas o que mais me confortou foi descobrir pouco a pouco as mudanças, ver aquele serzinho pequeno dentro de mim crescendo, ouvir o coração, saber que ali dentro do meu ventre tinha vida. Isso não teve preço!”.
A dona de casa Luana Mendes Almeida, que há dois anos também descobriu uma gravidez não planejada, contou ao Sempre Família que poder confiar nas pessoas ao seu redor deixou tudo mais leve. “Muito se fala em rede de apoio, mas às vezes você só vai ter seu parceiro, ou só sua mãe, só sua tia, só sua avó. Cabe a você também confiar em quem quer ajudar. E é aí que entra a leveza. Seja quem for, o importante é te apoiar com amor”, lembra a mãe de Charlotte, de um ano.
Postura decidida
Mais do que em qualquer outra situação, a mulher também pode e deve expressar sem medo os seus desejos para esse tempo intenso de tantas mudanças. Refletir e decidir sobre como quer o parto, por exemplo, ou sobre qualquer outro aspecto relacionado à gestação lhe ajudará a se sentir mais segura. Mas claro, sem tirar da mente que, assim como a notícia da gravidez foi uma surpresa, outras coisas também podem não sair como o planejado.
“É preciso lidar com flexibilidade sobre muitos assuntos que envolvem a gestação, o parto e o puerpério. Criar expectativas demais significa viver frustrada”, lembra Gleice. “O conhecimento e busca de informação em fontes seguras são importantes para que a mulher se prepare para lidar com cada fase que está por vir”.
O fato de ter assumido, mesmo em meio a tantas inseguranças, uma postura decidida nos assuntos relacionados à filha ajudou Luana a lidar com os maiores desafios de sua gestação. “Acho que o mais importante é você se aceitar, aceitar sua realidade, se conscientizar, contar com apoio e ser decidida nas situações entre você e seu filho, até mesmo para lidar com as opiniões, frustrações, e os diversos sentimentos que a maternidade nos proporciona. Pois são vocês [a mãe e o bebê] e sempre serão vocês dois juntos. E esse é um elo que precisa ser construído com leveza, amor e cuidado”, afirma a mãe.
Todas as mulheres precisam acreditar na força e na capacidade que têm de dar novos sentidos à vida. E a maternidade é a oportunidade mais sublime que poderiam ter.