A relação entre estresse e cabelos brancos não ligados ao envelhecimento é algo comum, mas que ainda não tinha sido descrita pela ciência. Após testes com cobaias, um grupo de pesquisadores da Universidade de Harvard não só comprovou a ligação como desvendou o mecanismo que faz com que situações estressantes desencadeiem o aparecimento de fios grisalhos.
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De acordo com a pesquisa, que teve a participação de um pesquisador brasileiro, o estresse interfere no processo de produção das células responsáveis pela pigmentação dos cabelos. Sem elas, os novos fios nascem brancos. E o processo é irreversível. O achado foi publicado recentemente, na revista científica Nature.
“Existe um mito popular de que o estresse causa cabelo branco, uma aceleração do branqueamento do cabelo. Há relatos na história de pessoas que sofreram um estresse muito grande e ficaram com cabelo branco, como Maria Antonieta, após ser capturada na Revolução Francesa, mas não havia nenhuma evidência científica de que isso acontece”, afirmou Thiago Mattar Cunha, pesquisador do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (Crid) e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
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Em seus estudos no Brasil, Cunha, que estuda dor, já tinha notado, há cerca de dois anos, que as cobaias ficavam com a pelagem esbranquiçada após eventos de estresse. Em Harvard, onde fez um sabático com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), comentou o seu achado com outros pesquisadores e foi convidado a participar do estudo.
O pesquisador explica que, quando há uma situação de estresse, ocorre a ativação do sistema nervoso simpático, que é de luta e fuga. É ele que faz aumentar a frequência cardíaca e a irrigação dos músculos, mecanismos importantes caso uma pessoa precise lutar ou fugir em uma situação de risco.
“O que a gente observou nesse caso é que o estresse leva a uma elevação simpática (ativação do sistema nervoso simpático), e o folículo do pelo é irrigado por esse sistema. O folículo está cheio de células-tronco, que dão origem às células que produzem o pigmento que dá coloração ao cabelo. A noradrenalina liberada (pelo estresse) diferencia as células-tronco, e elas perdem a capacidade de produzir as células de pigmento”, explica o pesquisador.
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A partir desse processo, todos os novos fios que nasceram nas cobaias eram brancos. “A gente sacramentou que era realmente relacionado ao estresse. Todo o estudo foi feito com animais, mas é bem provável que esse mecanismo também ocorra em seres humanos. A gente acredita que é um mecanismo compartilhado com outras espécies”.
Nos animais, o processo ocorreu em quatro semanas. No entanto, segundo Cunha, não é possível estimar em quanto tempo transcorre em humanos, tendo em vista que outros fatores podem estar associados, como a questão genética. A parte do estudo realizada no Brasil foi feita com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Após os 30 anos
Médica dermatologista pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em tricologia, Juliana Toma diz que os cabelos brancos costumam começar a aparecer após os 30 anos. “Geralmente, a idade que a pessoa começa a ter os fios brancos é por volta dos 30 anos em brancos, 35 anos em asiáticos e 40 anos em negros. Existe um estudo, feito em pessoas brancas, que mostra que, aos 50 anos, 50% delas terão pelo menos 50% dos fios grisalhos”.
A especialista alerta que pessoas que apresentam os fios brancos quando ainda são muito jovens ou em um processo acelerado devem buscar um especialista para descartar outras causas. “Nem sempre é o estresse. Pode ser uma forma inicial do vitiligo que está aparecendo apenas no couro cabeludo, doenças nutricionais, hipotireoidismo, drogas ou doenças do couro cabeludo”.
Se a pessoa decidir tingir os fios grisalhos, Juliana recomenda fazer o procedimento com um profissional qualificado, usar sempre produtos dentro do prazo de validade e não repetir o uso da tintura ou tonalizante em caso de reação alérgica.