Se você está se sentindo ansioso por ficar muito tempo em casa, com medo pelo o que possa vir pelos próximos dias, você não está sozinho. O isolamento social e o bombardeio de informações que circulam nas redes podem aumentar o nível de medo e ansiedade nos próximos dias.
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Então, calma, muita calma! Às vezes o convívio diário 24 horas com a família, filhos, pode gerar situações de estresse mesmo, e é normal. Como forma de alívio e até de conforto, a psicóloga sistêmica familiar Tatiana de Souza Centurion explica como lidar com a ansiedade, os conflitos diários e o medo da pandemia. Os conselhos vale para tempos de coronavírus e para toda vida.
Em tempos de isolamento social, é normal sentir medo e ansiedade? Como as pessoas podem lidar com esses sentimentos?
Psicóloga – É normal a gente sentir tanto ansiedade quanto medo. O primeiro passo para melhorar é aceitar que tem coisas que a gente não pode mudar. As pessoas ficam tentando lutar com esse sentimento e quanto maior a luta, maior é a ansiedade. Não é se acomodar, mas parar de lutar quando é algo que você é impotente. O isolamento é necessário, não adianta ficar sofrendo. Tem que aceitar as condições limitantes e trabalhar da melhor forma possível.
Uma outra coisa que ajuda também é permanecer no presente. Toda vez que jogamos nosso pensamento no futuro, são pensamentos catastróficos. O tempo agora é de mudança e toda mudança gera estresse. É preciso viver um dia de cada vez.
O convívio 24 horas com familiares, que antes era menor porque as pessoas trabalhavam fora de casa, pode agravar a ansiedade? Como fazer para ter um convívio saudável dentro de casa?
Psicóloga – O convívio aumentado pode gerar mais ansiedade e estresse. Quanto mais próximo a gente fica, mais nossos defeitos aparecem. A gente tem que lidar com as nossas expectativas e as do outro. E existe uma confusão nisso. O que eu tenho que fazer para corresponder meu desejo e o do outro? O que eu posso dar conta nessa relação? O problema acontece porque a pessoa fica muito tempo confinada com a outra e não tem variáveis de distração.
Os defeitos vão ficar mais próximos e vão passar a te incomodar. Qual é a dica, então? Primeiro, a gente tem que desenvolver um senso de cooperação. Todo mundo tá no mesmo barco e tem que ajudar a remar. Segundo é ter empatia, se colocar no lugar do outro. A gente vem de uma sociedade em que as pessoas pensam mais nas necessidades delas do que nas do outro. Eu costumo dar ao outro aquilo que eu quero e não aquilo que o outro precisa. E dar o que você quer é fácil. Em terceiro lugar, outra coisa que ajuda na convivência é manter um pouco a sua rotina, para que as coisas fiquem mais organizadas. Desenvolver a paciência e a tolerância também ajuda.
Por causa da pandemia, muita gente procura se abastecer de informações a respeito dos casos e das mortes no Brasil e no mundo. Até que ponto esse bombardeio de informações é saudável? Quando essa busca por informações pode ser um problema?
Psicóloga – O bombardeio de informações não é saudável quando a pessoa começa a ter sintomas físicos, como taquicardia, sudorese, dores no peito. Uma dúvida bem comum é saber quando diferenciar a falta de ar da ansiedade da falta de ar pelo coronavírus. Sintomas físicos são sinais de alerta.
Outra coisa é quando a pessoa se sente impedida de realizar atividades do cotidiano. Não consegue cozinhar, não consegue levantar da cama. É importante também estar atento a comportamentos compulsivos, por exemplo, passar álcool gel de minuto em minuto, ou querer verificar o número de mortes de meia em meia hora. A pessoa começa a ter pensamentos negativos e não consegue se sentir melhor. É preciso pedir ajuda quando a frequência dos pensamentos negativos é maior que a dos positivos.
Existe um lado bom de ficar em casa nesses dias? O que as pessoas podem melhorar na saúde mental delas e o que podem fazer para passar por esse período fortalecidos?
Psicóloga – Eu acho que a gente tem que encontrar um lado bom nisso, tirar proveito da situação. Dá para fazer as coisas com mais calma, com mais tempo, já que não se perde mais tempo no trânsito. Aproveite o tempo a mais para resolver pendências, para ter uma proximidade maior com as pessoas da família, ter a possibilidade de agradar o outro naquilo que ele precisa. Existe essa possibilidade de conversar mais, conhecer o outro. Muitas famílias não se conhecem. É bom também para recuperar hábitos que a família foi perdendo como almoçar juntos, por exemplo.
O isolamento nesse momento faz a gente recuperar coisas que vão valer para a vida toda. Muitas dessas mudanças de comportamento vão permanecer. O que acontecia é que muitas pessoas só habitavam no mesmo teto mas não conviviam juntas. Famílias que não conversavam mais e agora tem essa chance de olhar de novo um para o outro.
Trabalhos manuais podem ser uma boa saída para relaxar neste momento?
Psicóloga – Eles são uma excelente pedida porque são trabalhos que usam a razão e trazem a satisfação de dever cumprido. A atividade física também ajuda, jardinagem, cozinhar, organizar o armário. Todas trazem sensação de bem estar. Ler ajuda bastante, pintar, escrever.
Quem trabalha diretamente com o problema, como os médicos, profissionais da saúde, da segurança pública, agentes sanitaristas. Como lidar com tamanho estresse?
Psicóloga – Infelizmente, da mesma forma que os demais. O que muda é a intensidade do estresse dessas pessoas. Não existe uma regra mágica. Vale usar técnicas de respiração para relaxamento, meditação. Dá para tentar separar um período do dia para fazer algo que você gosta, ouvir música, comer algo saboroso. É preciso buscar um período para fazer o que se gosta, tomar um banho mais demorado, relaxar. Não tem nenhuma mágica.