Cerveja em garrafa marrom, verde, transparente, em lata ou em growler. Para os apreciadores (que no Brasil não são poucos), a embalagem é motivo de dúvidas e polêmicas, incluindo sobre qual a melhor forma de apreciar a bebida. Por isso, o Bom Gourmet ouviu especialistas que explicaram como as cores das garrafas e outras formas de envase influenciam (ou não) na qualidade da cerveja.

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A polêmica mais antiga com relação a cerveja é: melhor em lata ou garrafa? O professor do curso de Beer Sommelier e Home Brewer do Centro Europeu, Guilhermo Spindola, explica: “Tecnicamente e sensorialmente não existe diferença. Pode acontecer de haver alguma diferença na carbonatação da cerveja por motivo de envase e pressão. Mas de resto, é tudo a mesma coisa”, garante o mestre cervejeiro da Berggren, completando que essa diferença, quando existe, é imperceptível para o consumidor. “Tanto que, na linha de produção, o líquido normalmente sai até do mesmo tanque”.

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Guilhermo avalia que a garrafa tem mais charme no imaginário do consumidor, mas a lata leva uma grande vantagem. “A garrafa está associada à sofisticação, mas a lata protege muito mais a cerveja da luz. É muito mais eficaz. E do ponto de vista logístico a vantagem é enorme, pois é muito mais fácil e seguro para transportar e para distribuir em lata”, diz. As cervejeiras, inclusive, investem pesado para dirimir esse preconceito contra a lata, criando designs atraentes e formas para atrair o olhar do consumidor.

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Em comum, segundo os especialistas, tanto lata quanto garrafa de cerveja guardam características que podem ser importantes para a preservação do meio ambiente. “Tanto o alumínio quando o vidro são 100% recicláveis e algumas marcas e estabelecimentos apostam em bebidas retornáveis, ou seja, após seu consumo, é possível devolvê-la e conseguir outra cheia, evitando o descarte”, aponta Guilhermo.

Garrafa de vidro âmbar ou marrom

Quando o assunto é garrafa de vidro, a cor mais tradicional à disposição do consumidor é a marrom ou âmbar. “A cerveja é um alimento que tem como maior inimigo a luz. O vidro é impermeável, de sabor neutro, não deixa passar oxigênio e protege o líquido do calor e da luz ultravioleta”, explica José Alberto Florindo Filho, mestre cervejeiro da cervejaria Berggren. “E a cor marrom é a mais indicada para esta proteção”, completa.

O mestre conta que o lúpulo tem em sua composição alfa-ácidos que, quando aquecidos, geram iso-alfa-ácidos. São eles que afetam o que a indústria chama de “drinkability”. “O lúpulo influencia diretamente aquela caraterística da boa cerveja de, após o primeiro gole, o apreciador querer repetir”, resume. Entre os cervejeiros, os sabores e odores ruins recebem um nome nada charmoso: skunky, que em português quer dizer “cheiro de gambá”.

Vidros verdes e transparentes

Então, por que existem marcas com garrafas verdes e até transparentes? “Esse é um assunto que gera polêmica entre os cervejeiros. Mas, tecnicamente, as cores mais claras são piores para a cerveja”, garante José Florindo. Curiosamente, no passado, o mais comum era que as cervejeiras utilizassem recipientes de vidro verde. Foi somente nos anos 1930 que a indústria descobriu que o vidro marrom desempenhava melhor a função de filtro.

Guilherme Spindola diz que a utilização de garrafas verdes ou transparentes atualmente segue mais uma questão mercadológica. “É uma forma de diferenciar o produto e ocupar nichos de mercado”, conta.

Mas para que a luz não afete o sabor da cerveja, o professor revela que as marcas utilizam lúpulos diferenciados. No caso das cervejas mexicanas, como a Corona ou a Sol – que têm garrafas transparentes – Spindola explica que a bebida é feita com um lúpulo especial, mais resistente à oxidação provocada pelo contato com a luz.

Já no caso da Heineken, famosa por sua garrafa verde, a marca segue uma lógica que tem a ver, principalmente, com sua receita centenária. “Eles usam a garrafa verde exatamente porque querem que haja um pouco de alteração no sabor e no aroma. Faz parte da estrutura do tipo de cerveja deles. E acabou virando parte do merchandising”, explica o mestre José Florindo. Ou seja: cerveja com um pouquinho de “skunky”.

Outras embalagens

Existem ainda algumas garrafas específicas para certos tipos de cerveja, como a de guarda, que se assemelha às de espumantes e utiliza até mesmo rolhas. “As garrafas são um grande atrativo para vender cerveja, especialmente para as artesanais. Então, além de terem grande influência sobre o líquido, são muito importantes para definir o estilo da bebida”, conta José Florindo.

Ele lembra de outro modelo que se tornou muito popular no Brasil durante a pandemia: o growler. “Esse é um mercado próprio das cervejarias artesanais. O growler é a embalagem do chope para levar para casa. Em muitos lugares têm se utilizado um tipo especial de garrafa pet, sempre na cor âmbar e com muitas camadas de proteção para o conteúdo. Há ainda os em louça e inox, que o consumidor compra, vai na cervejaria, enche e leva para casa, para tomar o chope quando quiser. Um bom growler aguenta até sete dias na geladeira. Só que após abrir, precisa consumir todo”, ensina.