A Organização Mundial da Saúde revela, em seu primeiro Relatório Mundial sobre Audição, que 700 milhões de pessoas sofrem com problemas auditivos em todo o mundo nos dias atuais. O número deve chegar a 2,5 bilhões em 2050, segundo a instituição. Já no Brasil, segundo levantamento do Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda, são 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva; dessa população, 2,3 milhões têm deficiência severa.
A deficiência auditiva, como se sabe, se agrava com o passar dos anos se não for devidamente diagnosticada e tratada. “Para mim, o aparelho é como um par de óculos”, compara Rayssa Ieda Meiring. Hoje com 28 anos, a analista de produção de vídeos percebeu, aos 24, que havia algo errado com o ouvido direito, depois de uma dor de garganta.
Após uma série de exames e tratamentos malsucedidos, a jovem recebe a notícia do médico de que seu tímpano estava inchado. “O médico deu a entender que eu não poderia ouvir mais do ouvido direito”, lembra Rayssa que, à época, trabalhava com edição de dublagem para audiovisual. Com a informação, se viu obrigada a mudar para outra área dentro de sua especialização, e passou a se dedicar mais a vídeos.
Até saber que poderia utilizar um aparelho, enfrentou dificuldades, como o som irritante em ambientes com muitas pessoas e o zumbido contínuo que já fazia parte de sua rotina. Até que, no início deste ano, decidiu procurar uma otorrinolaringologista, que recomendou o uso de aparelho.
A Audiba, empresa paranaense de aparelhos auditivos, inicia em agosto a campanha “Seja livre, seja autêntico, seja Audiba”. Sem prazo de encerramento, a ideia é conscientizar sobre a importância do diagnóstico correto ao primeiro sinal de problema auditivo e, deste modo, tirar o estigma do uso dos aparelhos, ao considerar os avanços da tecnologia presentes nesses itens, que dão a eles um aspecto mais próximo ao de acessórios do que de próteses corretivas.
Cada vez mais discretos e potentes, estão prontos para suprir as necessidades de tipos diferentes de deficiência auditiva. “A intenção é desmistificar a ideia de que aparelho é coisa de gente idosa”, informa Marcia Bonetti, fonoaudióloga e responsável técnica da Audiba. “A surdez pode acometer pessoas de qualquer idade, e o uso da prótese não é uma característica apenas de idosos. Jovens também precisam usar, e podem seguir com a vida normalmente, praticando esportes, tendo vida social sem o menor problema”, explica.
Hoje, Rayssa tem de volta a vida que ameaçava seguir marcada pelo problema. Usa um aparelho discreto, que consegue controlar a partir de dois aplicativos em seu celular. Com eles, regula o volume, confere a bateria e, ao acionar o bluetooth do smartphone, pode usar o aparelho como fone de ouvido, inclusive para atender chamadas. “É ótimo, porque se esqueço o fone de ouvido em casa e estou na rua, posso usar o aparelho como fone”. Segue com seu trabalho no universo audiovisual, e diz que muitas vezes nem percebe que está com o equipamento no ouvido.
“Minha adaptação à prótese foi tranquila”, conta. No primeiro dia de uso, a fonoaudióloga da Audiba que deu início ao processo de adaptação manteve o som do aparelho em um volume um pouco mais baixo, para que o cérebro da Rayssa pudesse se readaptar ao estímulo sonoro da forma adequada. “A partir do segundo dia, era como se não tivesse nada no ouvido”, afirma. “O aparelho não cansa, os sons ficam normais novamente”, esclarece. No período de adaptação, ia à empresa a cada dez ou 15 dias para ajustes necessários e higienização do aparelho.
Fique atento
A deficiência auditiva é progressiva. Pode se tornar mais grave com o passar do tempo, tanto pelo envelhecimento natural do organismo quanto pelo volume de ruído aos quais somos submetidos em ambientes de trabalho, no uso cada vez mais constante de fones de ouvido, e na vida nos grandes centros urbanos. Há ainda casos de pré-disposição genética que podem intensificar o problema. Estudo da Faculdade de Medicina Johns Hopkins, dos Estados Unidos, já identificou relação entre a surdez e a demência na população idosa. De acordo com a pesquisa, a cada decibéis de audição perdidos, os riscos de desenvolver a doença aumentam 27%.
“Nossa chamada é de saúde auditiva para todos”, reforça Marcia. “É possível a qualquer idade utilizar um aparelho, adequado para sua necessidade, e levar uma vida completamente normal. Basta encará-lo como um pequeno acessório, capaz de devolver a qualidade de vida que uma possível perda auditiva, em progressão, pode tirar”, salienta.