De olho na saúde

Cansadas e com muitas tarefas, mulheres sofrem mais com dores, ansiedade e depressão

Foto: Pixabay

O meme é popular: a pessoa só quer ser uma boa mãe, filha, esposa e amiga, ter destaque no trabalho ao mesmo tempo em que dá conta das tarefas de casa, fazer exercício físico todos os dias, manter uma alimentação impecável e tirar fotos de #gratidão em locais paradisíacos para ter milhares de curtidas nas redes sociais. É pedir demais? Sim!

Mas por que ainda estamos exigindo isso de nós, mulheres? Pressões sociais sempre existiram, e sempre existirão, mas chegamos a um momento em que descobrimos que podemos dizer “não” a elas, e isso perpassa conhecermos melhor quem somos e o que queremos.

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O resultado é visto na saúde mental. Dos casos de depressão e ansiedade no mundo, as mulheres são as que mais sofrem. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmam isso. Entre os homens, 1,24% têm depressão, conforme números de 2017. Entre elas, 2,27% — um total de 26,3 milhões de mulheres no mundo. Com relação à ansiedade, 0,75% dos homens vivenciam a doença. Para as mulheres, o transtorno é visto em 1,46% da população feminina.

O risco de desenvolver doenças crônicas, especialmente as dores, também é maior entre elas. Para cada homem com fibromialgia, por exemplo, há 5,6 mulheres com a mesma condição, de acordo com dados de um estudo publicado em 2018 na revista “Brazilian Journal of Pain”. Essas condições são influenciadas muito frequentemente pela sobrecarga e o estresse.

“Temos situações que são próprias do cotidiano da mulher que, mesmo com todos os movimentos para ter uma sociedade mais equitativa, ainda há uma sobrecarga dos papeis. E se trata de uma sobrecarga importante. Tanto que pesquisas sobre estresse apontam que o estresse feminino precisaria ser mais estudado”, explica Claudia Lucia Menegatti, psicóloga e professora de Psicologia da Saúde da PUCPR.

Felizmente, as mulheres têm, em geral, mais facilidade em buscar ajuda profissional, inclusive para a saúde mental – e isso tem sido percebido pelos especialistas.

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Conforme explica Sarah Rückl, médica psiquiatra, doutora em Psiquiatria pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mulheres tendem a falar, com mais tranquilidade, sobre os próprios problemas com outras pessoas, além de terem maior confiança nos serviços de saúde. Isso faz toda a diferença.

“A mudança se faz quando a gente percebe o que a gente diz. Se eu consigo pensar em como estava errada em julgar outra mulher pela sua roupa, comportamento ou imperfeição, já trilhei um caminho enorme. Se eu condeno a mulher pela sua aparência, eu não consigo imaginar o tamanho do esforço que ela fez para chegar ao trabalho, os leões que ela matou aquele dia para estar ali”, diz Claudia.

Você se conhece?

Para além de ser mãe, esposa, filha ou sua função no trabalho, as mulheres se esqueceram de ser quem elas são. “Na minha prática, a maioria das mulheres já esqueceu quem é e do que gosta, pois passa o tempo todo em função dos filhos, cônjuge e trabalho, sem investir nenhum tempo para si. Não usufrui o tempo fazendo o que gosta, na sua individualidade de mulher”, explica Sarah.

Quem não se conhece acaba se cobrando demais e, pior, cobrando quem está por perto. E se há uma característica em comum entre as mulheres na atualidade é essa: estamos cansadas de seremos julgadas, tanto por nós mesmas quanto por terceiros.

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“Eu não consigo perceber o outro se eu não estiver me percebendo e, muitas vezes, eu exijo do outro o que eu exijo de mim. Quando eu olho para mim e sou menos exigente comigo mesma, e digo que está tudo bem não dar conta de tudo, eu consigo ser mais empática com o outro”, avalia Claudia.

A maternidade, inclusive, é um dos momentos em que as mulheres menos pedem ajuda com relação aos próprios sentimentos, segundo a psicóloga. “Os sentimentos de cansaço e de não dar conta das demandas como mãe fazem com que as mulheres temam o julgamento do outro. E aquela que não pede ajuda, também não consegue ajudar outra mãe na mesma situação, diz.

Ao tentar evitar o sofrimento, ele pode aumentar com o passar do tempo. E o impacto na autoestima se traduz, novamente, em números estatísticos nas tabelas de depressão e ansiedade. “Quanto mais eu conseguir admitir meus sentimentos, pedir por ajuda e me colocar com maior vulnerabilidade nessa situação, maior também será a chance de alguém me acolher. Muitas mulheres sofrem de depressão pós-parto e têm dificuldade em pedir ajuda. Mas quanto mais falarmos que é comum ter esses sinais, liberamos um caminho até para o afeto entre mãe e filho”, completa Claudia.

O mesmo vale para a área profissional. Conforme explica a médica psiquiatra, existem estudos que indicam que a sensação de bem-estar subjetivo seria menor entre as mulheres quando o assunto é trabalho. “As mulheres se sentem pior que os homens quando avaliam o bem-estar relacionado ao trabalho. E isso acontece mais normalmente em países onde existe uma falta de igualdade, onde as mulheres ganham menos e são tratadas de forma diferente. Países com um perfil mais machista”, afirma.

Estratégias para enfrentar o estresse

Colocar as próprias vulnerabilidades na mesa, encará-las e lidar com cada uma delas não é tarefa fácil, mas é o primeiro passo para um maior carinho de si e maior empatia com as outras mulheres.

Confira abaixo algumas das estratégias de enfrentamento listadas por Claudia e Sarah:

  • Técnicas de relaxamento, como meditação e mindfullness;
  • Cuidados de vida equilibrada (alimentação adequada e exercícios físicos como parte da rotina);
  • Aprender a pedir ajuda;
  • Observar os próprios sinais de cansaço;
  • Dar-se o direito de estar cansada;
  • Manter laços de amizade e compartilhar com amigos;
  • Perceber traços disfuncionais de comportamento, com o perfeccionismo;
  • Manter relacionamentos satisfatórios com cônjuge e filhos;
  • Ter atividades de lazer;
  • Desenvolver a habilidade de dizer ‘não’.

Três minutos para você

A maioria das mulheres só percebe o cansaço quando chega ao esgotamento físico e mental, e isso não é nada saudável. Parar três minutos por dia é o suficiente para parar, respirar e se perguntar: como estou agora? Muitas das vezes é nesse momento que ela percebe que o sapato está desconfortável, ou que não foi ao banheiro em todo o período de trabalho ou, ainda, que não tomou um gole de água.

Diga não

A habilidade de dizer ‘não’ é algo ainda complicado para as mulheres. Mas é um dos maiores fatores de proteção para o estresse no dia a dia. Conhecer-se a si mesma permite dizer, sem ofender, que o seu limite já foi alcançado e essa demanda ou tarefa não poderá ser feita.

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