Quem nunca se encantou por aquela foto de crianças e seus bichinhos de estimação interagindo e brincando juntos? Esses registros estão cada vez mais comuns e populares nas redes sociais e costumam acontecer nas chamadas famílias multiespécies, ou seja, núcleos familiares que têm a relação humano-animal como um dos pilares da convivência.
A mãe e tutora Jaqueline Fernandes, de 26 anos, sabe bem como é ter milhares de compartilhamentos nas redes sociais por conta da relação entre a filha, Clara, de um ano e meio, e o cachorro Buda, de 3 anos. Da noite pro dia, um dos registros feito por Jaqueline ganhou quase 5 milhões de visualizações nas redes sociais, e o vídeo se tratava justamente de um fato comum para as gestantes que possuem animais de estimação: a chegada do bebê significa a necessidade de se desfazer dos bichos?
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“Alguns familiares faziam comentários do tipo ‘ele é muito grande, pode machucar o bebê’, ‘ele solta muito pêlo, pode causar algum problema de saúde’, e a gente ficava morrendo de medo, nunca tínhamos sido pais. Tínhamos receio se ia causar algum problema de verdade, mas nunca aconteceu nada”, conta Jaqueline.
Apesar da estranheza de pessoas próximas, a mãe conta que para os profissionais que acompanharam a gestação esse não era um problema. “Tanto a pediatra da Clara quando a minha obstetra super nos apoiaram, desde o início, a estabelecer essa conexão de irmão entre ela e o Buda, então a gente já tinha essa ideia na cabeça, de que eles iam ser companheiros e ele ia ser o amigão dela”, explica.
Três borders e um bebê
No perfil das redes sociais de Stephanie Schafhauser Rigon, empresária de Curitiba, o aviso é claro: aqui você vai encontrar de tudo um pouco, uma família multi espécies com muito amor e bagunça para compartilhar. Mãe do trio canino Nalu, Charlie e Amora e do Joaquim, de quase três anos, Stephanie compartilha o dia a dia do quarteto, que convive e expõe nas redes sociais as alegrias e desafios da relação entre crianças e animais. Com vídeos e fotos que encantam o público, o perfil da família já conta com mais de 13 mil seguidores.
“É tão triste a pergunta sobre se desfazer dos animais na gravidez. Isso nunca me passou pela cabeça, na verdade, foi o contrário, eu tinha um certo pânico de não amar meu filho tanto quanto eu amava meus cachorros. Lógico, isso caiu por terra assim que o Joaquim nasceu, foi um amor surreal, mas que não diminui o sentimento que tenho pela Nalu, Charlie e Amora”, revela a empresária.
Para Stephanie, um dos desafios era mostrar para familiares e amigos que os animais fazem parte da família. “Ouvimos várias coisas sem cabimento. Houveram desafios, e muitos, mas nós temos que fazer entender que os pets são parte da nossa família e nós temos que adaptar a rotina para todos. Quando nasce um segundo filho, você não abandona o primeiro, é a mesma situação”, exemplifica.
Apesar dos medos da relação entre crianças e animais nos primeiros anos de vida, profissionais indicam que essa pode ser uma forma de aprendizado mútuo. “Esse contato potencializa habilidades de comunicação nos pequenos. Têm pesquisas que mostram que o contato de bebês com os animais reduz o risco de obesidade e doenças alérgicas, inclusive. O animal ensina, de forma natural, a nos relacionarmos com o nascimento, com o luto, com os cuidados com outro ser vivo e sobre o respeito com a natureza”, explica a psicopedagoga do Projeto Focinhos do Serviço de Apoio Psicopedagógico (SEAP) da PUCPR, Ana Lucia Lacerda Michelotto.
Desafios da convivência
“Tudo é uma questão de adaptação e respeito às necessidades e a natureza do animal. O ideal é fazer a dessensibilização desde o início da gestação, deixando que o animal participe de tudo, sinta os cheiros, se adapte às mudanças na casa, nos móveis, de forma natural, e que seja usado o reforço positivo”, orienta Ana Lucia.
Para Stephanie, essa foi a rotina desde que descobriu a gravidez. “Para dar certo a convivência, a gente sempre opta pela adaptação positiva. Tudo começou antes de o Joaquim nascer, quando os cachorros participaram de tudo para entender a chegada de um novo membro. Fizemos uma adaptação com o carrinho de bebê, para eles não correrem atrás, andar com choro de bebê pela casa, mostrar que eu estava ninando. E então, quando o Kim nasceu, a primeira roupa dele meu marido levou pra casa e deixou os três cheirarem, e foi natural, parecia que eles já conheciam aquele cheiro”, relata.
E, para ajudar quem quer entrar nessa caminhada, a dica é: procure ajuda de profissionais. “Para o cachorro receber um ser novo, precisa ser feita uma adaptação e preparação prévia. E quando o bebê chegar, não tenha pressa em fazer eles se amarem ou criar a rotina perfeita, as coisas vão se encaixar com o tempo”, finaliza.