Arte em casa

Aulas de dança na pandemia têm par com travesseiro e dedicação de bailarinas

Com cada um na sua casa, Edson se surpreendeu ao explorar novas maneiras da dança. Foto: Lineu Filho.

O isolamento social que o novo coronavírus forçou esse ano mudou a rotina de muita gente. Uns passaram a fazer home office, as crianças estão estudando com aulas on-line, o happy hour agora só por videochamadas, assim como as reuniões de família. Na mesma tendência, quem fazia aulas de dança presenciais passaram a fazê-las remotamente.

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Nas aulas de dança de salão ministradas pelo professor Edson Carneiro, os alunos — alguns deles sem par em casa — chegaram trocar alguns passos coladinhos… com o travesseiro! “Dei uma aula de abraço, todo mundo sozinho em casa, mandei todo mundo pegar uma almofada, travesseiro. Mas já vi muita gente usando roupa, cabo de vassoura e outros vários materiais para passar a didática da dança”, explica o dançarino.

Quem pensa em dança de salão logo imagina aulas somente em pares. Porém, quando se trabalha técnica, há muita coisa a se fazer dançando sozinho.”A dança de salão pode ser dividida em ‘matérias’ que eu preciso saber para uma dança individual boa, e assim poder ter uma dança em conjunto boa. Posso trabalhar equilíbrio, postura, transferência de peso, musicalidade, criatividade. E nessa pandemia, estamos focando nessas matérias”, comenta o professor. 

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Com cada um na sua casa, Edson se surpreendeu ao explorar novas maneiras da dança. “Tem muita coisa que eu nunca fiz na sala de aula, que descobri na sala on-line. Aprendi muita coisa sozinho e que vale a pena compartilhar. Quando juntar todo mundo, vai ficar perfeito”, comemora. Professor de dança há 23 anos, Edson percebeu que as restrições fizeram com que ele explorasse melhor a criatividade nas aulas, e as novas ideias vieram para ficar.

O isolamento tem evidenciado também as peculiaridades de cada gênero musical e o que pode ser trabalhado melhor isoladamente, sem a necessidade do par. A Salsa, por exemplo, pode ser explorada a parte do shine, quando os dançarinos dançam separados. Há também passos individuais no bolero e no samba. Já no caso do zouk e do tango, a falta de um par pode ser um pouco complicado.

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Plies e piruetas feitos em casa

O distanciamento social também afetou as aulas de ballet. E embora a dança clássica seja mais livre e sem a necessidade de se ter um par, as bailarinas tiveram que se adaptar ao on-line. “Para corrigir o aluno não tem aquela troca, o contato visual. Tem que se trabalhar com o espaço que a pessoa tem, que muitas vezes é pequeno, o que interfere na movimentação”, explica a professora de ballet clássico Luciana Romanello. 

Professora Luciana Romanello ensina ballet na quarentena por videochamadas. Foto: reprodução/vídeo.

Com as aulas por videoconferência, a professora confessa que a correção dos passos tem sido muito mais demorada por causa do distanciamento. “Eu nunca imaginei, em 42 anos de professora, que estaria dando aulas assim. Você assistir uma aula teórica é uma coisa, mas fazer movimento, montar sequências, e passar para os alunos por vídeo, é bem mais difícil. Às vezes você faz e o aluno não entende, e o que você demora para passar em uma aula presencial, você demora quatro, cinco aulas na on-line” comenta a professora. Mesmo com as dificuldades das novas ferramentas, o retorno é gratificante. “Me emociona ver a dedicação e a força de vontade, a determinação das alunas em executar, porque não é fácil”, revela.

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Como a quarentena distanciou as pessoas, que precisam preservar a saúde e manter o isolamento por causa do coronavírus, a dança tem sido uma excelente forma de movimentar o corpo e desestressar. “Eu quando jovem, descontava na dança meu sentimento. Se estava triste, fazia os passos lentos melhor, se estava agitada, me dava bem com os passos mais rápidos. A música clássica nas aulas, o piano, baixa o nível de estresse. Dança é vida”, defende a professora de ballet.

E para manter o foco nas aulas dos pequenos, Luciana tem usado muito a imaginação. “É aula de gatinho, cachorrinho, coelhinho, maquiagem, aula das princesas. Eu uso a questão temática para prender a atenção da criança, mas a técnica não muda porque elas têm que fazer o ballet. Como as crianças não estão na sala de aula, fica mais difícil delas manter sempre o foco”, conta.

No entanto, mesmo dançando em casa, é necessário se o espaço usado é adequado e assim não causar nenhuma lesão. “Eu, como professora, tenho que avaliar. Qual é piso que o aluno tem em casa? Tem que cuidar. Não é a aluna que vai pensar. Se estiver frio, vamos aquecer, peço para colocar um tapete de borracha”, avalia. A professora precisa lembrar também que muitas vezes as alunas treinam na cozinha, na sala, no quarto, e lidam com a companhia do bichinho de estimação, irmãos, que acabam distraindo as bailarinas mais novas.

Bailarina dedicada

Lina aproveitada para gravar vídeos dançando para melhorar os movimentos do ballet. Foto: Lineu Filho.

Aluna da professora Luciana Romanello, a pequena bailarina Lina Yamawaki Fachin, de 10 anos, tem se dedicado em casa com as aulas remotas de ballet. E para continuar dançando e trabalhando as técnicas como na escola, os pais de Lina instalaram um espelho na garagem de casa. 

Com as aulas on-line, por videoconferência, Lina confessa que está se divertindo. “Está sendo bem legal, é diferente. Mas tem umas coisas que são mais difíceis. Quando estamos ensaiando e tenho que fazer um passo mais difícil, ela não tem como me ajudar. Aí ela fala, eu aprendo, é mais difícil que na aula presencial”, conta a pequena aluna. 

E para melhorar cada vez mais, Lina tem aproveitado para gravar vídeos dançando. Assim ela consegue perceber a evolução dela e também o que precisa melhorar. E apesar de gravar bem mais agora, Lina confessa que essa já era uma estratégia dela de muito antes da quarentena. “Dá pra melhorar bastante por vídeo, eu gravo quando vou participar de festivais, aí fica mais fácil”, diz a menina.

Para a mãe de Lina, a professora universitária e arquiteta Yumi Yamawaki, a estratégia da família é não parar com a rotina de antes, mesmo com a pandemia. “Mesmo com essa condição, que não é a ideal, a gente prefere que ela mantenha todas as aulas extras, ela faz inglês, japonês, além do ballet. E é assim que ela passa o tempo em casa, já que não pode estar com as amigas, consegue aprender muita coisa mesmo que on-line”, conta a mãe.

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