Hábitos de limpeza e higiene que haviam se perdido voltaram ao nosso cotidiano em 2020 com a pandemia do novo coronavírus. Olhando em retrospecto, já estamos há quase um ano limpando as nossas compras quando voltamos do supermercado, lavando as mãos com frequência e tirando os sapatos para entrar em casa. O que agora parece trivial era, sejamos sinceros, rotina para pouca gente antes da covid-19.
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A intensificação de limpeza da casa foi notável no dia a dia e se refletiu no setor: a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene e Limpeza (Abipla) aponta que, só no primeiro semestre de 2020, o aumento na comercialização desses itens foi de 5,6%. Mas, nem sempre, temos acertado a dose: ainda utilizamos produtos de forma incorreta e deixamos a falta de organização sabotar tudo.
Conversamos com o doutor em Ciências Biológicas e coordenador dos cursos de limpeza profissional da Fundação de Asseio e Conservação, Serviços Especializados e Facilities (Facop), Mário Guedes, e com fundadora da empresa de organização “Onde eu deixei?”, Carol Ferraz.
Eles elencaram erros que ainda cometemos na tentativa de deixar o vírus longe dos nossos lares. Veja as falhas e soluções:
1- Usar álcool 70% para limpar tudo
Não adianta borrifar o produto em superfícies que estão sujas: segundo Mário Guedes, a presença de matéria orgânica diminui a eficácia tanto do álcool como de outros produtos desinfetantes que prometem eliminar mais de 99% das bactérias. “A higienização envolve limpeza e remoção de qualquer sujidade possível. Quando a matéria orgânica é eliminada, aí sim, posso fazer o uso do álcool”. E isso vale tanto para uma cama de hospital como para a sola do sapato. Ou seja: de nada adianta borrifar o líquido se a sola está cheia de barro. Outro alerta do especialista: “Como o álcool retira a água, ele pode danificar sapatos de couro”.
Nesses casos, a limpeza mais efetiva de sapatos, por exemplo, é com água e sabão neutro. Desinfetantes, produtos multiuso e água sanitária também são mais eficazes – e baratos – para limpar superfícies de alto toque, como maçanetas de porta, o botão da descarga do vaso sanitário ou o pegador da geladeira e do micro-ondas. “O álcool 70% evapora rápido e, para ser eficiente, você precisa esfregar esse álcool para ele atingir certa temperatura, e assim destruir as camadas protéicas e lipídicas dos vírus e bactérias”, esclarece o coordenador da Facop.
Logo, não adianta só espirrar álcool em tudo achando que está seguro. E isso vale para as compras de supermercado. Guedes orienta utilizar uma solução com água sanitária a 10% (uma parte de água sanitária para 10 partes de água) para deixar frutas e verduras de molho por 10 minutos. Também é possível deixar de molho embalagens que não absorvem água e, depois, enxaguar.
Outra opção é lavar (latas e garrafas, por exemplo) com esponja e detergente ou sabão, igual lavamos a louça. O que não for lavável, como pacotes de pão ou bolacha, a orientação é borrifar álcool líquido 70%, e passar um pano seco e limpo na sequência.
Nunca use álcool gel para limpeza da casa, objetos ou embalagens: a textura pode facilitar o depósito de resíduos. Reserve o produto para a higiene das mãos apenas.
2 – Dar atenção demais ao chão e de menos às superfícies
Tirar os sapatos assim que chegamos em casa – um hábito, lembra Mário Guedes, que é cultural no Oriente – é, de fato, indicado para manter o asseio da casa. Mas é menos problemático quando se trata da contaminação pela Covid-19. “Comparado com outras atitudes é um risco bastante reduzido. Muito embora alguns estudos indiquem que é necessário manter a área limpa, não só pelo coronavírus, mas por outras sujidades e bactérias”, frisa o doutor em Ciências Biológicas.
O maior cuidado, salienta ele, deve ser com as superfícies de alto toque: maçanetas, botões, pertences pessoais, o puxador da geladeira, a garrafa de café, bancadas, escrivaninhas. Enfim. Todos os locais de uso compartilhado onde encostamos sempre.
Nesses espaços é necessário manter uma higienização constante, seja com desinfetantes de uso geral, produtos multiuso ou álcool líquido 70%. Só não esqueça, orienta Guedes, de ler os rótulos antes, para não estragar móveis, por exemplo.
Seguindo essa lógica, não é preciso ficar tão aficcionado pela limpeza das patas dos pets. “Se você passeia com seu cachorro várias vezes ao dia e lava em todas, é provável que ele tenha algum dano como fungos nas patinhas, ou até queimaduras dependendo do produto que é passado. Se mantemos a casa limpa não existe a necessidade cabal de limpeza sempre que ele sai”, salienta Guedes.
Para a limpeza do chão, primeiro retire a poeira e outros resíduos com o aspirador de pó, esfregão, MOP ou vassouras. Essa última é a menos indicada quando se fala em segurança sanitária. “Em hospitais não se usa vassoura, porque o varrer traz mais risco de resíduos serem aspergidos pelo ambiente” esclarece Guedes. Depois da remoção, use desinfetantes para pisos frios, aplicados com pano e rodo. Em chãos de madeira, por ser uma superfície porosa, procure produtos específicos.
Para facilitar a limpeza, Carol Ferraz, que é uma das primeiras consultoras formadas pelo método Marie Kondo no Brasil, diz ser fundamental prestar atenção na organização. Reservar um móvel logo na entrada de casa e criar uma “área de higienização”, com álcool em gel, para as mãos, e spray, para limpar o celular e as chaves, é uma de suas dicas. “Para os meus bagunceiros eu indico ainda deixar uma caixinha para esvaziar a bolsa assim que chegar em casa. Separar o que é pendência, o que é lixo, e limpar chaves, cartões e celular. Isso faz com que a bolsa não fique rodando pela casa” frisa a especialista. Outra orientação de Carol é ter sempre um plástico ziplock na bolsa para guardar a máscara, outro acessório agora onipresente na rotina.
3 – Lavar as roupas todas as vezes que sai de casa
No início da pandemia essa era a regra geral – mas hoje ela é válida sobretudo para profissões que têm muito contato com o público, ou profissionais de saúde. Nesses casos, é necessário se despir logo ao chegar em casa e deixar as peças em um local isolado. “Sabemos que o coronavírus pode sobreviver em superfícies de 48h a 72h. Como lavamos roupas umas duas vezes na semana, é tempo suficiente para inativar o vírus”, lembra Guedes.
Para quem faz home office e sai por pouco tempo, ou trabalha em um escritório com o distanciamento e medidas sanitárias, não há necessidade de lavar a roupa sempre que se usa: deixar ela em “quarentena” ventilando por dois ou três dias já elimina o vírus. O doutor em Ciências Biológicas só reforça a necessidade de higienizar as mãos assim que chegar em casa e, só depois, se trocar.
Quem quer deixar a roupa com cheiro de recém-lavada pode recorrer a uma receita divulgada pela consultora de estilo Roberta Freitas em seu Instagram: quando pendurar a peça para ventilar, borrife uma solução que leva: duas xícaras de água, ¼ de xícara de álcool e ¼ de xícara de amaciante. Quem preferir produtos mais naturais pode usar ¼ xícara de vinagre de álcool ao invés do amaciante, e gotas de essência da sua preferência.
4 – Não lavar as máscaras separadamente
Como manipulamos muito as máscaras no dia a dia, Mário Guedes, da Facop, enfatiza que o melhor é lavá-las separadamente, ainda mais se for necessário utilizar a mesma máscara no dia seguinte. Nesse caso, higienize com detergente neutro e deixe de molho em uma solução com hipoclorito de sódio pelo tempo de ação indicado no rótulo. Caso a máscara não precise ser usada no dia seguinte, é possível lavar a peça junto com outras roupas na máquina, desde que se faça uma pré-lavagem à mão com detergente antes.
5 – Deixar muitos objetos e utensílios expostos
Para facilitar a limpeza, o ideal é deixar bancadas (como da cozinha, por exemplo) o mais livre possível. Prefira guardar objetos e utensílios em armários.