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Veja como é composta a nota das ginastas nas Olimpíadas

O código de pontuação da ginástica artística é revisto a cada ciclo olímpico (Imagem: Victor Velter | Shutterstock)

A complexa formação da nota das ginastas nas Olimpíadas revela um processo detalhado, em que nomes como Rebeca Andrade, Simone Biles, Flávia Saraiva e Shilese Jones competem não apenas pela execução técnica impecável, mas também pela complexidade dos movimentos realizados. A avaliação dos atletas leva em conta principalmente a dificuldade dos movimentos e a precisão na execução. Mas o que mais está em jogo quando eles pisam nos aparelhos?

O código de pontuação da ginástica artística é revisto a cada ciclo olímpico. Ou seja, sempre que uma edição das Olimpíadas chega ao fim, há mudanças para o próximo ciclo. Conforme a professora de ginástica do curso de Educação Física da Universidade Positivo (UP) Pauline Iglesias Vargas, isso acontece porque a modalidade está em constante evolução e é preciso que as regras acompanhem esse movimento.

Nota de execução dos movimentos

Pauline Iglesias Vargas explica que a avaliação é feita por dois grupos de árbitros. “Os árbitros de execução são aqueles que avaliam a qualidade técnica do movimento executado, com a nota partindo de 10. Então, uma boa nota de execução é a que se aproxima da nota 10. Atualmente, eu diria que é quase impossível que um atleta chegue até essa nota”, detalha.

Essa nota contém movimentos técnicos específicos, uma série de posturas e até mesmo posicionamento de mãos que devem ser executadas. Qualquer desvio desses detalhes descritos já acarreta a perda de 0,10 a um ponto, dependendo do grau do erro cometido. “Por exemplo, numa prova de traves, se a ginasta cai da trave, ela tem menos um ponto na execução, o que é muita coisa diante da nota final”, pontua.

Nota de dificuldade dos movimentos

O segundo grupo de árbitros avalia a dificuldade dos movimentos executados pela ginasta. É o que se chama “nota de partida”. “Esses são sempre os árbitros mais experts da competição, que estão de olho no que a ginasta executa, qual é o valor do movimento, de qual grupo de elementos ele faz parte. O árbitro vai pontuando a partir disso. No feminino, ele vai contar os oito elementos de maior dificuldade e, no masculino, os dez movimentos de maior dificuldade”, esclarece a professora de ginástica.

Esse árbitro também avalia se o atleta cumpriu os exercícios obrigatórios do aparelho, que garantem uma nota de dois pontos e meio, somada aos elementos que ele executou. Então, a nota final do atleta será a soma da dificuldade com a execução.

Ilustração de uma ginasta olímpica
Toda a visibilidade proporcionada pelos Jogos Olímpicos torna a ginástica uma atividade de interesse crescente entre os jovens (Imagem: Webspark | Shutterstock)

Exemplo para o mundo

A busca pela perfeição nas notas não é à toa. Toda a exposição trazida pelos Jogos Olímpicos faz da ginástica uma atividade com crescente interesse por parte dos jovens. Recentemente, Rebeca Andrade ganhou uma Barbie feita à sua imagem e semelhança, uma prova de que o esporte vai muito além do ginásio e é capaz de povoar os sonhos de crianças de todo o Brasil.

O coordenador técnico da UPX Sports Zair Cândido avalia a importância dessa exposição. “Ver atletas como a Rebeca competindo em alto nível traz para as outras meninas uma sensação de que é possível conquistar o mundo. É claro que poucas pessoas chegarão a esse nível de excelência no esporte, mas essa é uma sensação importante para a vida como um todo e traz importantes lições de superação”, comenta.

Maior nota da história

Com a evolução do esporte e as mudanças nas regras de pontuação, ficou cada vez mais difícil atingir a nota máxima na ginástica artística. Mas isso já aconteceu uma vez, em 1976, e a ginasta em questão virou uma lenda: era a romena Nadia Comăneci. Naquele ano, nas Olimpíadas de Montreal, ela conquistou a primeira nota 10 da ginástica.

“O código de pontuação daquela época não é o mesmo de hoje. Inclusive, a série apresentada por ela tinha elementos que hoje são proibidos, não estão mais no código de pontuação devido ao grande risco na execução”, comenta Pauline Iglesias Vargas. Naquela época, a arbitragem não era dividida como é hoje e havia uma nota máxima a ser alcançada, que era o 10.

Hoje não há mais um teto de nota a ser conquistado, porque a dificuldade tem um limite de oito elementos para o feminino e 10 para o masculino. Esses elementos têm valores entre 0,10 e um ponto, então há uma grande variedade possível na soma final.

“No Campeonato Mundial de Ginástica Artística do ano passado, a Rebeca Andrade ficou em primeiro lugar na prova de salto com a nota 14.750, uma nota altíssima. A quinta colocada, por sua vez, fez 13.800. É uma diferença de quase um ponto entre a primeira e a quinta colocada, com notas extremamente altas para essa modalidade”, destaca a especialista.

Perfeição ou dificuldade

Se a dificuldade do exercício vale pontos, por outro lado, uma execução malfeita pode diminuir muito a nota final. O que vale mais a pena: um exercício de nível fácil com uma execução cravada ou um exercício difícil, ainda que com algumas falhas na execução? Segundo Pauline Iglesias Vargas, o código de arbitragem da ginástica tem se encaminhado para buscar o máximo de segurança dos atletas. Então, a perda de pontuação no caso de uma queda é considerável.

“É uma decisão muito estratégica entre treinador e atleta, porque cada décimo vale muito em uma competição. Mas, se o atleta está cometendo muitas falhas técnicas na execução de um movimento de grande dificuldade, é sempre melhor que ele realize, então, um movimento um pouco mais simples, com mais segurança”, pontua.

Ela acrescenta que a Federação Internacional de Ginástica está comprometida com a segurança dos atletas e costuma avaliar a questão da segurança não apenas da execução, mas também do treinamento repetitivo de cada um dos novos elementos homologados.

Por Enzo Feliciano

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