Para muitos educadores e linguistas, o brincar está intimamente ligado ao vínculo afetivo e, mesmo sem consenso universal, é inegável a sua força na criação de laços emocionais. Além de fortalecer essas conexões, a brincadeira abre portas para a compreensão do mundo, a aprendizagem cultural e social, a exploração das emoções e o desenvolvimento das habilidades motoras de forma lúdica e envolvente.
Brincar com palavras também pode ser divertido e, parafraseando o filósofo René Descartes, digo: “Brinco, logo existo”. Afinal, como nos lembra Lydia Hortélio: “O homem só é inteiro quando brinca; brincar é tocar a lira da vida.”
Então, vamos brincar!
1. Olhando para o céu, o que você vê?
A experiência de deitar no gramado ou em qualquer área que permita ver o céu é cada vez mais rara. No entanto, quando temos a oportunidade de fazer isso, conectando-nos com a natureza, percebemos o quanto somos parte dela. Essa atividade nos leva a explorar o pensamento simbólico, fundamental para o desenvolvimento das capacidades cognitivas, da linguagem e da comunicação, além de contribuir para a compreensão cultural e a criatividade imaginativa.
Por isso, convidamos você, pai, mãe, avô, avó e educadores, a fazer esse exercício: deitem-se em uma superfície confortável, de preferência na grama, e brinquem de imaginar olhando para as nuvens. Se a criança demorar a se manifestar, compartilhe seu pensamento e convide-a a imaginar junto.
2. Cantar e encantar a vida
Num passado não tão distante, era possível perceber crianças em ruas, pátios escolares e praças cantando e brincando com canções tradicionais e cantigas de roda. Essa é mais uma prática que está ficando no passado, ocupando apenas páginas de livros e práticas pedagógicas. A família é a primeira sociedade da criança e responsável pelas primeiras aprendizagens, por isso, cantar e brincar de roda com ela é encantar a vida.
Convidamos a você a relembrar sua infância, as cantigas que ouvia e cantava nas brincadeiras. Cantar é explorar competências motoras e sociais e facilitar o aumento do acervo de palavras das crianças. Segue uma possibilidade de brincar de roda:
“A laranja é madura, menina. Que cor são elas? Elas são verdes e amarelas. Então, vira (fale o nome de sua criança e ela deve ficar de costas para o centro da roda) da cor de canela”.
3. Senta que lá vem história!
A prática de contar e ouvir histórias é milenar e oferece uma oportunidade única de conexão com a ancestralidade. Infelizmente, essa tradição está se perdendo nas famílias devido ao avanço das plataformas digitais e outras formas de entretenimento.
Contar histórias do passado, essencial para o desenvolvimento da imaginação, o enriquecimento do vocabulário, a exploração do pensamento estratégico e o estímulo à criatividade, tem se tornado cada vez mais raro.
Escolha uma história do passado, seja um conto ou uma vivência pessoal, e conte-a para sua criança. Se possível, varie as vozes na narrativa; isso traz encanto à história e favorece o desenvolvimento das capacidades auditivas, emocionais e, futuramente, da alfabetização.
4. Pintando box
Desenhar é um estimulador natural do pensamento criativo, e aqui está o nosso convite: que tal usar o box ou o espelho do banheiro para brincar de pintar com sua criança? A tinta que vamos utilizar é o vapor produzido pelo banho.
Durante o banho, estimule a criatividade por meio de canções e, depois, cubra a criança com uma toalha para não sentir frio. Em seguida, divirtam-se desenhando no vapor que se forma. Soltem a imaginação e, se possível, cantem juntos uma música conhecida, desenhando elementos que fazem parte da canção.
Por Cristiano dos Santos
Músico e palestrante. Mestrando em Educação, escritor, consultor educacional da editora MVT. Assessor de conteúdo da Coleção Palavra Cantada na Escola. Idealizador do Bora Brincar Ateliê.