A compulsão alimentar é um distúrbio caracterizado pela ingestão excessiva e descontrolada de alimentos, acompanhada de sentimento de culpa e vergonha. Esse comportamento pode ter um impacto significativo na saúde física e emocional dos indivíduos, afetando negativamente seu bem-estar e qualidade de vida.

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Os sinais desse distúrbio podem variar, mas frequentemente incluem episódios repetidos de ingestão excessiva em um curto intervalo de tempo, mesmo na ausência de fome real. Outros sintomas são a sensação de falta de controle durante essas refeições, comer escondido e experimentar uma forte sensação de culpa depois. Além disso, a compulsão alimentar pode estar associada a flutuações de humor e estresse, entre outros problemas emocionais.

Tratamento para a compulsão alimentar

Maria Eduarda De Musis, psiquiatra e professora do curso de Medicina da Unic Beira Rio, destaca que o tratamento da compulsão alimentar deve ser multidisciplinar e personalizado para atender às necessidades específicas de cada indivíduo.

“Intervenções podem incluir terapia cognitivo-comportamental, que ajuda a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento relacionados à alimentação. A consulta com um especialista pode oferecer orientações sobre alimentação equilibrada e estratégias para melhorar a relação com a comida”, salienta. Em alguns casos, a medicação pode ser considerada para tratar sintomas associados, como depressão ou ansiedade.

Células neurais e compulsão alimentar

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A ação da compulsão vai muito além da ingestão de alimentos, conforme esclarece a médica. “A relação entre as células nervosas e a compulsão alimentar é significativa, mas complexa e envolve a interação de vários sistemas no cérebro. As células nervosas, ou neurônios, desempenham um papel central na regulação do comportamento alimentar, influenciando tanto os aspectos fisiológicos quanto emocionais da alimentação”, explica.

A seguir, a psiquiatra aponta três relações entre as células neurais e a compulsão alimentar:

Neurônios do sistema de recompensa liberam dopamina em resposta à comida (Imagem: Alphavector | Shutterstock)

1. Sistemas de recompensa e prazer

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Neurônios no sistema de recompensa do cérebro, que inclui áreas como o núcleo accumbens e o sistema dopaminérgico, são fortemente envolvidos na compulsão alimentar. Esses neurônios respondem a estímulos prazerosos, como a ingestão de alimentos, liberando neurotransmissores como a dopamina.

Quando a comida é associada a uma recompensa prazerosa, pode ocorrer um ciclo de comportamento compulsivo, em que a pessoa busca repetidamente esse prazer, mesmo em detrimento da saúde ou da necessidade real de alimentação.

2. Regulação do apetite e controle inibitório

Outros grupos de neurônios, localizados em áreas do cérebro como o hipotálamo e a amígdala, estão envolvidos na regulação do apetite e no controle das respostas emocionais associadas à alimentação. O hipotálamo, por exemplo, é responsável por equilibrar os sinais de fome e saciedade, enquanto a amígdala está relacionada às respostas emocionais e ao estresse. Disfunções nessas áreas podem levar a uma dificuldade em controlar o impulso de comer em excesso, resultando em episódios de compulsão alimentar.

3. Interação com aspectos emocionais

A compulsão alimentar muitas vezes está ligada a fatores emocionais e psicológicos. Neurônios que regulam o estresse e as emoções podem influenciar a relação de uma pessoa com a comida. Por exemplo, sentimentos de ansiedade, depressão ou estresse podem desencadear comportamentos alimentares desordenados como uma forma de automedicação, em que o ato de comer se torna uma maneira de lidar com emoções negativas.

A compulsão alimentar é influenciada por complexas interações entre sistemas neurais responsáveis pela recompensa, regulação do apetite e controle emocional. Compreender essa relação pode ajudar a desenvolver abordagens mais eficazes para o tratamento e reversão do distúrbio alimentar.

Por Camila Souza Crepaldi