Na última terça-feira (5), a revista científica BMJ Case Reports divulgou o caso de um homem de meia-idade que sofreu intoxicação por vitamina D no Reino Unido. Ele tomou por cerca de um mês doses diárias 250 vezes maiores do que a recomendada por especialistas.

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O homem, que não teve sua identidade revelada, deu entrada no hospital com diarreia, vômitos e náuseas, além de reclamações de zumbido no ouvido e cãibra nas pernas. Ele só procurou um médico três meses após o início dos sintomas, quando já tinha perdido cerca de 12 quilos.

O britânico tomou 150.000 UI (unidades internacionais) de vitamina D por dia – a dose diária recomendada por especialistas é de 400 a 600 UI. Ele ainda fez uso de 20 outros suplementos alimentares. Quando chegou ao hospital, estava com o rim debilitado e com uma alta quantidade de cálcio no sangue, o que pode atrapalhar o funcionamento do coração e do cérebro.

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A vitamina D é essencial para a saúde óssea e para manter os níveis corretos de cálcio no organismo. Segundo a médica Victoria Zeghbi Cochenski Borba, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná), “a vitamina D é importante na incorporação do mineral no osso, para ele ficar mais firme, mais duro”.

“Com a deficiência de vitamina D mais grave, se diminui a absorção de cálcio e o osso vai ficar mole. Na criança a gente chama de raquitismo; no adulto a gente chama de osteomalácia”, disse a endocrinologista.

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Nas crianças a doença causa deformidades ósseas e fraqueza muscular e, nos adultos, microfraturas, dor muscular e quedas.

Ainda de acordo com Borba, a substância também é importante para o bom funcionamento das células do sistema imune. A falta pode piorar infecções, doenças autoimunes e doenças respiratórias como a asma.

Como conseguir doses diárias de Vitamina D?

Segundo a nutricionista Maria Cláudia Bernardes Spexoto, a dose diária recomendada de vitamina D são 600 UI para indivíduos entre 1 e 70 anos de idade e 800 UI para indivíduos de 71 anos ou mais.

A melhor fonte de vitamina D é o sol, diz. Os raios ultravioleta estimulam a formação de um precursor da vitamina D na pele, que depois é ativado no fígado e nos rins. Cerca de 15 minutos de exposição ao sol com braços e pernas descobertos são suficientes para produzir o equivalente a 800 UI de vitamina D.

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De acordo com Spexoto, que é doutora em nutrição pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e pesquisadora no Laboratório de Estudos em Epidemiologia e Envelhecimento da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), a vitamina D também pode ser encontrada em peixes gordurosos, na gema de ovo cozida, no óleo de fígado de bacalhau e no fígado bovino.

Quem deve fazer suplementação?

Grávidas, pessoas com obesidade e pessoas com doenças crônicas metabolizam mais vitamina D e precisam de um consumo diário maior do que o recomendado para pessoas saudáveis. Idosos e moradores de cidades com baixa incidência de luz solar também podem precisar de suplementação.

Pessoas negras devem ficar atentas. A melanina diminui a síntese de vitamina D e, por isso, pessoas com pele retinta devem tomar sol com uma maior superfície corporal exposta – sem camiseta, por exemplo.

De acordo com Borba, pessoas saudáveis que tomam sol diariamente e que vão à praia algumas vezes por ano não precisam se preocupar.

A maioria das vitaminas, quando consumidas em excesso, são eliminadas pelo corpo, mas a vitamina D se acumula no fígado e em células de gordura. Isso também acontece com as vitaminas A, E e K. Esse acúmulo faz com que o alto consumo leve a níveis tóxicos da substância.

O excesso pode causar falha no fígado e nos rins, aumento de cálcio no sangue, hipertensão arterial e problemas no funcionamento dos músculos como do coração e do sistema nervoso.

Vitamina D e a covid-19

A substância fez parte do chamado Kit Covid, um conjunto de medicamentos que não possuem comprovação científica para o tratamento da doença que foi receitado por médicos para tratar a infecção por coronavírus. Dados do Conselho Federal de Farmácia mostram que, nos primeiros meses de 2020, a venda desse suplemento no Brasil aumentou 83% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Segundo o médico Alexandre Naime Barbosa, professor da Unesp e vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), pessoas com deficiência de vitamina D têm mais chance de evolução para Covid grave, mas a suplementação não deve ser usada no tratamento ou prevenção da doença.

Um estudo de pesquisadores da UFSCar e da USP (Universidade de São Paulo) publicado na revista científica Clinical Nutrition no último mês mostrou que pacientes com deficiência dessa vitamina tiveram um risco superior de mortalidade do que pacientes com níveis normais de vitamina D.

Entretanto, segundo Barbosa, “a reposição de vitamina D nesse curto período [de infecção por covid] não vai resolver o problema. Você tem um tempo até que essa vitamina seja absorvida e reposta. Não está indicado em pacientes com Covid-19 o uso de vitamina D, de vitamina C ou de qualquer outra vitamina.”

De acordo com o infectologista, os únicos medicamentos eficazes contra a doença são alguns antivirais e anticorpos monoclonais e as únicas maneiras de se prevenir contra a infecção são se vacinar, usar máscara e evitar aglomerações.


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