Alívio

Pomada contra veneno da aranha-marrom é desenvolvida por brasileiros

Aranha-marrom é o temida pelos curitibanos. Foto: Henry Milleo / Arquivo / Gazeta do Povo

Pesquisadores do Instituto Butantan (IB), de São Paulo, criaram uma pomada contra a picada letal da aranha-marrom. Conhecida cientificamente como Loxosceles e medindo entre 3 e 4 centímetros de comprimento, o animal é considerado venenoso e, sua picada, além de causar muita dor, pode ocasionar a necrose da pele, a falência dos rins e, em casos mais graves, levar as vítimas à morte.

O tratamento atual envolve a limpeza do local, o uso de corticoides e remédios para aliviar a dor. Em casos moderado a grave, também é indicado o uso do soro antiaracnídico, conforme avaliação médica. Pesquisadores do Instituto, no entanto, afirmam que, em breve, uma pomada poderá favorecer o tratamento, reduzindo o tempo de cicatrização e a ação do veneno.

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O medicamento foi testado em células humanas in vitro e em animais, especificamente coelhos, e apresentou resultados positivos. Desde outubro, está em estudo clínico fase 3 duplo-cego randomizado com placebo (onde pessoas recebem a pomada e a ação é avaliada pelos pesquisadores), conduzido em Santa Catarina, junto ao programa de pós-graduação em Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal (UFSC) e ao centro de informações toxicológicas do estado.

Como a pomada funciona?

A criação da pomada contra a picada da aranha-marrom é um dos sonhos da bióloga e doutora em Imunologia Denise Vilarinho Tambourgi, que vem trabalhando com o veneno do animal desde 1994. Para que a pomada pudesse ser desenvolvida, porém, Denise teve de entender todo o mecanismo de ação do veneno e descobriu que ele era só o primeiro gatilho de uma série de reações que desequilibravam o organismo.

Como a quantidade de veneno liberado pela aranha durante a picada era pequena – e as lesões se mantinham por muito tempo, às vezes meses –, a pesquisadora entendeu que esse não era o único ponto a ser combatido.

“Quando a aranha pica uma pessoa, o veneno induz as células humanas da pele a produzirem substâncias tóxicas contra a própria célula, levando à morte celular. Buscamos na literatura e descobrimos que existiam inibidores para essas moléculas. O que fizemos, então, foi usar esse inibidor, que no caso é a tetraciclina“, explica a pesquisadora-diretora do laboratório de Imunoquímica do Instituto Butantan.

A tetraciclina é um antibiótico conhecido da comunidade médica, mas na pomada desenvolvida pelo Instituto, ele não age com essa função. Isso porque a concentração da substância foi reduzida, fazendo com que tenha ação contra a esfingomielinase D, proteína que é o componente principal do veneno das aranhas, e que está relacionada ao processo de inflamação e destruição das células.

“Com a simulação da picada na pele do animal, percebemos que mesmo aplicado depois de algumas horas após a picada, o tratamento teve efeito no controle da lesão”, reforça Denise.

Quando estará disponível?

Após os resultados da fase 3, que precisam mostrarem-se positivos entre humanos, a pomada precisará receber a liberação dos órgãos competentes, como Ministério da Saúde e Anvisa, antes de ser disponibilizada ao público. Também será preciso encontrar interessados na produção, caso o Instituto não possa fazer esse papel.

Por enquanto, o estudo clínico está no início e deverá atender 240 pacientes (120 com a pomada, 120 com um produto placebo) antes que os próprios pesquisadores consigam analisar os benefícios. “Saltar de um estudo da bancada de um laboratório para um produto para o ser humano não é tarefa fácil. O fato de termos apresentado um pedido a uma comissão de ética humana e ele sido autorizado já é uma grande vitória”, explica a pesquisadora.

Proteja-se!

Mesmo com pomada em desenvolvimento e os atuais tratamentos para a picada da aranha-marrom, a prevenção ainda é o melhor remédio. Para isso, é importante manter a residência sempre limpa e bloquear o acesso da aranha à parte interna da casa por meio da colocação de borrachas na porta de entrada, por exemplo.

De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, em 2018 o estado registrou 3,4 mil acidentes com a aranha-marrom. A maioria ocorreu na região metropolitana de Curitiba, contabilizando 1,7 mil casos. Ponta Grossa, cidade a 110km da capital, ficou em segundo lugar, com 324 acidentes. Pato Branco completa as três principais cidades do estado, com 323 casos.

Outra recomendação é observar e chacoalhar os calçados, as roupas e a roupa de cama para ver se o animal não está escondido nestes locais, pois a aranha só picará se for pressionada ou espremida. Vale ressaltar que os inseticidas não funcionam e a melhor maneira de diminuir a incidência das aranhas em casa é protegendo as lagartixas, os predadores naturais.

Em caso de picada, procure atendimento médico e não passe nenhum medicamento no local sem orientação de um especialista. Para que as consequências sejam menores,  o ideal é que a vítima procure ajuda até 36 horas após a picada.

Sinais da picada da aranha-marrom

Coxas, troncos e braços são as áreas do corpo mais picadas pela aranha-marrom, conforme orienta a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná. No Brasil, os estados de Paraná e Santa Catarina concentram o maior número de acidentes com o aracnídeo. Fique atento aos sintomas que podem surgir a partir da picada:

Dor, edema endurado (acúmulo de líquido) e eritema (vermelhidão) no local da picada;

Se a picada ocorrer em um tecido do corpo mais frouxo, como no rosto, o edema e o eritema podem ser exuberantes. A lesão pode evoluir para uma necrose seca entre sete a 12 dias;

De forma geral, as alterações mais comuns são:

Astenia (perda ou redução  na força física);

Febre nas primeiras 24 horas;

Dores de cabeça ou cefaleia;

Exantemas morbiliformes (erupções na pele);

Prurido (coceira) generalizado;

Petéquias (pontos vermelhos pelo corpo);

Mialgia (dor muscular);

Náuseas;

Vômito;

Visão turva;

Diarreia;

Sonolência;

Obnubilação (perda de consciência);

Irritabilidade e até mesmo coma.

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