Um sorvetinho num dia quente de verão cai muito bem. Chocolate, morango, creme, napolitano, flocos. A sobremesa refrescante virou objeto de pesquisa da doutoranda Ana Maria da Silva, no Campus de Marechal Cândido Rondon da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Pensando em ajudar a filha que passava por um câncer gestacional, a pesquisadora desenvolveu um sorvete com carne de tilápia.

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Sorvete de peixe? Isso mesmo. O sorvete é um excelente aliado de pacientes que enfrentam o câncer. Isso porque ele minimiza os efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia, como úlceras e feridas na boca, alterações no paladar, enjoos e vômitos, e agora passou a ser indicado para fazer parte da alimentação de pessoas que convivem com a doença.

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Vendo a filha sofrer para se alimentar com qualidade, Ana Maria utilizou a biotecnologia para transformar a carne de tilápia em líquido, para assim inserir no sorvete e deixá-lo mais proteico.

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“A minha filha teve câncer gestacional com quatro meses de gravidez, ela não conseguia comer. Então eu tive a ideia de fazer o sorvete pensando no sofrimento que era comer por causa das feridas na boca. O sorvete acalma as feridas e, desta maneira, ela consegue ingerir proteína”, explica Ana Maria.

O sorvete com hidrolisado de tilápia está em fase de desenvolvimento e a pesquisa tem como objetivo avaliar a qualidade nutricional e a segurança alimentar do produto. Ela é desenvolvida no Laboratório de Tecnologia e Processamento do Pescado e no Laboratório de Química de Alimentos do GEMAq (Grupo de Pesquisas em Manejo na Aquicultura), do curso de Engenharia de Pesca, na Unioeste no campus de Toledo.

Segundo ela, de maneira bastante simples, o produto é feito a partir de uma base de sorvete com hidrolisado da CMS (carne mecanicamente separada), que é resultado de um processo de aproveitamento da carne não retirada pela indústria responsável em filetar a tilápia.

Outras pesquisas

Este é apenas um dos resultados dos 13 anos de pesquisa de Ana Maria. Outro trabalho em desenvolvimento é a CMS enlatada, que agrega valor ao produto e já está disponibilizada pronta para o consumo. Ainda é possível, a partir da CMS, produzir fishburguer, almôndegas, empanados, inserir em bolos, biscoitos e outros produtos.

Utilizando a CMS, a pesquisadora deseja transformar a tilápia em um pó que possa suprir as necessidades nutricionais de forma rápida e simples, como o desenvolvimento de uma sopa proteica que poderá ser levada até mesmo para a estação espacial. Outra ideia é um concentrado proteico para ser utilizado na substituição do leite para pessoas alérgicas.

Pesca no Paraná

O interesse por desenvolver pesquisas e produtos feitos à base de pescados começou no GEMAq baseado no avançado desenvolvimento da aquicultura no Estado do Paraná, que é um dos principais produtores de tilápia do Brasil.

“A tilápia é um pescado que tem um sabor suave e agradável ao paladar, além de ter muitas proteínas e vitaminas. É um pescado que já tem uma grande aceitação no mercado e a proposta é de se usar melhor todo o produto, aproveitando a carne não só da tilápia, mas também de outras espécies, para que sejam aproveitadas as carnes que ainda sobram após a retiradas dos filés”, explica Ana Maria.

De acordo com o orientador da doutoranda, Arlindo Fabrício Corrêia, os produtos são pensados para integrar pesquisa e extensão para promover o desenvolvimento local. “Neste tipo de pesquisa não buscamos apenas um produto, mas estabelecer conexões entre a produção de alimentos, pautado na sustentabilidade e na geração de renda, com resultados que promovam uma alimentação segura e saudável, criando então uma rede de atores que partem da produção e industrialização, até alcançar o consumidor final”, destaca.

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