Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 6% da população brasileira sofre de amaxofobia, que é o medo de dirigir. Além disso, um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Medicina do Trabalho (Abramet) aponta que 80% das pessoas que não dirigem por medo são mulheres.
Esses números chamaram a atenção da psicóloga Salete Coelho, que se especializou no tratamento da fobia de dirigir. Ela afirma que o transtorno causa baixa autoestima e desvalorização pessoal, trazendo prejuízos para busca de oportunidades de trabalho, vida social e até financeiramente, porque muitas vezes a pessoa tem o carro, paga IPVA e seguro, mas não consegue usar o veículo.
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“Pessoas que sofrem desse medo escolher empregos próximos por não terem condições de ir a um trabalho mais longe de carro e pode acarretar até separação pelo fato de que a impossibilidade de dirigir impede a divisão de tarefas corriqueiras do dia a dia, como ir ao supermercado ou buscar o filho na escola”, alerta.
Como dirigir é um fator cultural muito arraigado entre os brasileiros, pessoas com essa fobia sofrem pressão social muito elevada, causando até situações constrangedoras e isolamento. “As pessoas não entendem como é possível alguém ter medo de dirigir ou ter carteira de motorista e não assumir o volante. É uma pressão social enorme que essas pessoas sofrem no dia a dia, que pode levar até a um quadro de depressão”, observa a psicóloga especialista em amaxofobia.
Superação após 8 anos de fobia
Exemplo de superação é da militar do Exército Rosemayra Godim, de 32 anos. Quando ela se aproximava do carro, as pernas travavam e ela começava a suar frio imaginando as mais horrendas cenas que poderiam ocorrer caso ela dirigisse. E foi criando cenas e mais cenas irreais mas que, na sua mente, realmente existiam, que ficou oito anos sem dirigir após ter tirado a carteira de habilitação.
Rosemayra tirou a habilitação em 2012 e começou a se afastar do carro ao imaginar situações que nunca tinham acontecido. A situação ficou insustentável quando começou a depender muito das pessoas para ir ao trabalho ou do marido para questões de rotina.
Suor frio, pavor e choro na primeira sessão de carro
Ao começar o tratamento, em julho de 2020, em plena pandemia, foram várias sessões antes de encarar as sessões no carro. Ela conta como foi se aproximar do carro depois de oito anos de pânico: “Era apavorante, suava frio, era muito difícil. Cheguei até a chorar, porque você sente vontade de fazer algo mas algo te impede”, relata.
Morando em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, e trabalhando no Pinheirinho, superar o medo de dirigir foi um divisor de águas na sua vida. Mas ela conta que não ocorreu do dia para a noite. Salete conta que, assim como Rosemayra, o que acontece é um tratamento e não um treinamento. “Você vai dando informações e subsídios para reformular a mente do paciente para que a fobia não o paralise”, aponta.
Primeira vez que dirigiu até o trabalho foi de nervosismo e emoção
Com Rosemayra foi assim. Salete, que antes ia até a casa da paciente para as sessões de carro, passou a buscá-la na metade do caminho até que ela pudesse ganhar segurança suficiente. Rosemayra conta o momento em que foi sozinha no trabalho. “Lembro até hoje e foi emocionante. Peguei a BR 277 para pegar a Linha Verde até chegar no quartel. No primeiro dia fiquei nervosa, mas consegui ir o caminho todo. Quando cheguei no local, tirei uma foto e foi muito especial ter vencido. Depois daquele dia eu ia e voltava todos os dias. Hoje olho para trás e me sinto muito mais segura. Claro que ainda dá um friozinho na barriga, mas consegui vencer e virar a chave do medo”, comemora.
E Rosemayra tem motivos para comemorar. Depois de todo processo, ela ficou grávida em março de 2021 e hoje leva o filho Arthur, de cinco meses, ao pediatra de carro e a todas as outras ocasiões que precisa ir com ele. “É libertador poder sair e fazer as coisas sem as distorções que eu criava e sem ajuda é bem difícil mesmo”, aconselha.
Psicotran Day
No próximo dia 7 de maio, um evento gratuito que visa esclarecer sobre o transtorno e trazer pessoas com histórias de sucesso para inspirar e fortalecer quem precisa de ajuda. no próximo dia 07 de maio, um evento gratuito que visa esclarecer sobre o transtorno e trazer pessoas com histórias de sucesso para inspirar e fortalecer quem precisa de ajuda. Chamado de Psicotran Day, o evento será das 10h às 12h, no Biocentro, em Curitiba.
Segundo a psicóloga, o objetivo do encontro é realizar uma troca rica de experiências entre as pessoas que superaram o medo de dirigir e aquelas que querem muito vencê-lo, mas ainda não conseguiram. Salete conta que realizar o encontro entre esses dois grupos é um dos grandes diferenciais do evento, porque nada como falar com quem sente a mesma dor para poder se estimular a vencer a fobia. “Só quem passa por um problema como esse sabe o tamanho dele. Ali, teremos um lugar seguro onde todos têm um mesmo objetivo e podem contar com a ajuda mútua”, assinala a psicóloga.
Serviço
Psicotran Day
Evento presencial e gratuito
Data: 7 de maio
Horário: 10h às 12h
Local: Biocentro (R. Padre Anchieta, 1846 – Bigorrilho)
Inscrições: whatsApp (41) 99568-4709