Não é só a Covid-19 que está preocupando os pais, mas também outras doenças respiratórias. Segundo a pediatra Ana Escobar, os casos entre crianças menores de cinco anos têm aumentado muito, sobretudo na faixa de 0 a 2 anos.

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Em entrevista concedida durante o Brain Congress 2022, realizado no início deste mês em Gramado (RS), a médica também alertou sobre a importância do uso de máscara a partir dos dois anos, de lavar as mãos e praticar o distanciamento social.

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Sobre as máscaras, ela ressaltou a importância do uso do item. “A pandemia não acabou e estamos sujeitos a novas variantes e subvariantes. Haverá momentos com mais e [haverá] outros com menos casos. Quando diminuir, pode relaxar o uso de máscara. Agora tem que recomendar fortemente o uso de máscara em ambientes fechados, inclusive escolas.”

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Quais doenças respiratórias acometem mais as crianças nesta época?

ANA ESCOBAR -Todas as doenças respiratórias estão aumentando muito, principalmente nas crianças pequenas, com menos de cinco anos e especialmente de 0 a 2 anos.

Em 2022, os menores de dois anos não ficaram expostos a nada, então o sistema imunológico deles não foi bombardeado. O que acontece agora?

AE -Está todo mundo sem máscara, eles estão começando a ir para a escola e têm o sistema imunológico atacado.

Há vários tipos de vírus em circulação, como o rinovírus, metapneumovírus, além do sincicial respiratório, que dá bronquiolite.

Junto com isso, nesta época, abril, maio e junho, temos um ar mais seco e cidades muito mais poluídas, como São Paulo. Isso aumenta a quantidade de alérgenos ambientais, que são gatilhos para desencadear a asma.

Alguns médicos falam em asma ambiental.

AE -É a mesma coisa. A asma é um processo de broncoespasmo, quando o brônquio fecha. O que faz o brônquio fechar? Primeiro, precisa ter a predisposição genética; segundo, um ambiente que deflagra os alérgenos.

Essas crianças com asma precisam usar corticoide e a bombinha. São prejudiciais? É o único tratamento contra a asma?

AE -Há o tratamento para a crise aguda e o crônico. O crônico é feito com broncodilatador e corticoide em doses baixas inalatórias, que não tem efeito sistêmico nas crianças. O grande problema é quando você trata agudamente com corticoide em dose alta. Aí sim pode ter efeito sistêmico. O corticoide não pode ser dado por muito tempo porque inibe os eixos hormonais.

A asma é evitável?

AE -Sim, na medida em que possamos minimizar os gatilhos que levam à crise aguda. Por exemplo, uma pessoa que mora no campo, come e dorme bem, não tem estresse e leva uma vida saudável tem uma chance menor de desenvolver crises do que alguém que vive na cidade, respira pó e dorme mal.

A Covid-19 é perigosa para crianças asmáticas?

AE -Quando há qualquer doença respiratória infecciosa em crianças com asma o risco é maior, porque o pulmão está comprometido.

Como proteger as crianças contra a Covid?

AE -Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, crianças acima de dois anos devem usar máscara, manter o distanciamento social e lavar as mãos.

O Governo de São Paulo recomendou a volta do uso de máscara. Na sua opinião, deveria ser obrigação ou recomendação?

AE -A pandemia não acabou e estamos sujeitos a novas variantes e subvariantes. Haverá momentos com mais e [haverá] outros com menos casos. Quando diminuir, pode relaxar o uso de máscara. Agora tem que recomendar fortemente o uso de máscara em ambientes fechados, inclusive escolas.

Recomendar ou obrigar?

AE -No Brasil, o correto seria usar a expressão fortemente recomendado, mas para o espírito do brasileiro significaria “não vou usar”. “Obrigado” não é a melhor palavra, mas pode ser a mais eficiente.

Então, é um recomendado obrigatório?

AE -É isso.

Em 2020, ouvíamos falar que a Covid nas crianças não era perigosa e dificilmente elas iriam contrair a doença. O vírus mudou?

AE -Nós começamos a entender o mecanismo de ação do vírus. Para ele entrar dentro da célula, precisa de um receptor. Com quantidade menor de receptor, as crianças começaram a ter quadros mais leves da Covid, porque uma quantidade menor de vírus conseguia entrar na célula. O vírus tem a chave, e a nossa célula, a fechadura. Só que apareceram variantes. E o que as caracterizou? A chave ficou melhor. As crianças começaram a ser acometidas.

Paralelamente, entendemos que as crianças poderiam ter a síndrome inflamatória multissistêmica, em decorrência da Covid. É grave. Porém, acomete apenas 0,6% das crianças. Você pode achar que é uma quantidade pequena, mas, se for seu filho, será 100% para você. Quer ver seu filho intubado? Então, vamos começar a evitar Covid nas crianças. Mais uma razão: criança também pode ter Covid longa.

A imunidade vacinal das crianças é igual à do adulto?

AE -É mais ou menos a mesma coisa. A imunidade induzida pela doença ou pela vacina tende a durar em torno de quatro meses –talvez pela doença menos ainda.

As crianças podem tomar a vacina contra a Covid junto com outras?

AE -Podem. Só damos o intervalo entre as doses da Covid.

O que fazer quando os pais não querem vacinar os filhos contra a Covid sem justificativa clínica. A questão deve ser resolvida com multa e prisão, por exemplo?

AE -Depende do caso. Acho que cabe ao juiz decidir com base no caso clínico. Do ponto de vista médico, toda criança tem o direito de ser vacinada. Está no ECA e temos que respeitar.

A senhora considera seguro frequentar a escola neste momento?

AE -Escola presencial é essencial para o desenvolvimento das crianças. O esquema online serviu para o momento em que estávamos conhecendo a pandemia, entendendo o risco da doença. As crianças podem e devem frequentar a escola. Segundo lugar, a pandemia terá momentos piores e melhores. Nos de piora teremos que ser responsáveis o suficiente para colocar máscara nas crianças acima de dois anos e mandar para a escola. Terceiro lugar, a responsabilidade de cada um é gigante. Seu filho está doente? Tem algum sintoma gripal? Não mande para a escola. No terceiro dia testa e se der positivo cumpra a quarentena de pelo menos sete dias.

RAIO-X

Ana Maria de Ulhoa Escobar

Médica pediatra, professora livre-docente e coordenadora da disciplina de pediatria preventiva e social do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP, além de embaixadora do Instituto Jô Clamente (ex-Apae) de São Paulo.

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