O mês de setembro é marcado por uma campanha global de conscientização sobre prevenção do suicídio. Em todo o país, sociedades médicas, Ministério da Saúde, sociedades representativas da psicologia e demais profissionais da área se unem para falar sobre saúde mental, promovendo um diálogo aberto a respeito da importância do tema e incentivando a população a buscar por apoio quando identificar alguém com grandes sofrimentos psíquicos.

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Encabeçada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), com apoio de diversas organizações, desde 2014 essa é a maior ação antiestigma do mundo, buscando sensibilizar a sociedade para a importância da saúde mental, culminando com o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10 de setembro) como ponto focal da campanha.

Mas suas ações são trabalhadas ao longo de todo o mês – e, deveriam ser lembradas durante o ano inteiro, pois o sofrimento psíquico severo traz consequências muitas vezes devastadoras para os envolvidos.

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é um grave problema de saúde pública com mais de 700 mil mortes anuais em todo o mundo, e no Brasil, são registrados cerca de 14 mil suicídios por ano, o que representa uma média de 38 mortes diárias. Entre 2010 e 2019, o país contabilizou aproximadamente 112.230 mortes por suicídio. Esses dados sublinham a necessidade urgente de estratégias eficazes de prevenção e tratamento.

A sensibilização necessária

É crucial entender que o sofrimento psíquico não pode ser reduzido a causas simplistas ou monocausais. Algumas ideias preconcebidas e rigidamente repetidas podem ser prejudiciais. A ideia de que condições como anorexia nervosa, ataques de pânico, compulsões e dependências químicas têm uma única causa – ou então, são problemas exclusivamente do vínculo materno, são simplificações extremamente perigosas para uma realidade muito mais complexa.

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De acordo com a diretora da Escola de Psicoterapia Psicanalítica de Maringá (EPPM), Juana Ester Kogan, o sofrimento psíquico é moldado por uma combinação de fatores, incluindo a história pessoal de cada indivíduo, variáveis culturais e históricas, e marcas transgeracionais. Profissionais de saúde mental sabem que o aparelho psíquico e suas disfunções não podem ser compreendidos por uma única lente causal.

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A banalização do sofrimento mental até mesmo nos meios de comunicação, especialmente quando pessoas com diagnóstico são discutidas publicamente – causa uma forma prejudicial de exposição. A discussão pública é muitas vezes sensacionalista, inaceitável e pode gerar danos profundos. O estudo de Juana e a prática ao longo das décadas mostra que ter cautela, moderar as certezas e reconhecer a complexidade do sofrimento psíquico são os melhores caminhos.

A psicanalista alerta que a exposição de detalhes íntimos sobre o sofrimento de indivíduos, ultrapassa limites éticos e pode agravar a dor e o estigma enfrentados por essas pessoas e suas famílias. A ampla divulgação dessas informações por comunicadores pode ter efeitos materiais graves e irreversíveis, prejudicando a população vulnerável que deveria ser protegida e respeitada.

“Para abordar a saúde mental de forma eficaz, precisamos ser responsáveis e promover a conscientização para que eduquemos a sociedade sobre a importância de buscar ajuda, e também sobre a sutileza dos sinais de sofrimento psíquico. É necessário oferecer uma escuta ativa e empática para apoiar quem está passando por dificuldades. Mas a sociedade precisa entender que o sofrimento mental é complexo e a dor psíquica não pode ser desvalorizada. Soluções superficiais como medicalização não associada a uma investigação da origem deste sofrimento psíquico e compulsão ou consumo excessivo – podem intensificar sentimentos de solidão e vazio, especialmente em pessoas com traumas precoces. A abordagem psicanalítica contemporânea, baseada na empatia e na construção de relações terapêuticas consistentes, oferece caminhos para transformar a dor em crescimento pessoal e recuperação. E isso sim, pode salvar vidas e fazer diferença, de fato”, diz Kogan.

Um vazio que não pode passar despercebido

Campanhas como o Setembro Amarelo trazem a possibilidade de reduzir o estigma associado ao sofrimento, pois é papel de todos em uma sociedade, apoiar e respeitar aqueles que enfrentam desafios emocionais.

Famílias, empresas e organizações devem estar atentas aos sinais sensíveis e oferecer amparo junto à profissionais qualificados para que seja iniciado, com a psicoterapia psicanalítica, por exemplo, um trabalho de recuperação da saúde emocional e psíquica dos pacientes.

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Em momentos de profunda angústia e solidão, muitos enfrentam uma dor intolerável que os deixa vulneráveis a novas perdas e traumas, ampliando o risco de pensamentos suicidas. Pacientes com essas experiências não neuróticas frequentemente lutam com um sentimento esmagador de vazio e a sensação de serem deixados sozinhos.

Esse vazio interno, reconhecido como ‘vazio somático’, pode intensificar o pânico e a sensação de que não há nada dentro de si, tornando essencial um apoio terapêutico adequado para ajudar a transformar essa dor em recuperação.

“Precisamos fazer com que a população compreenda que o sofrimento não tem um “culpado” – uma consideração que há muito é revista por um amplo espectro de profissionais e que fica ultrapassada se nos propusermos a rever seriamente, a enorme complexidade do sofrimento psíquico e de sua constituição ao longo de vida de cada sujeito. A banalização nos espaços midiáticos por aqueles que se autorizam a falar em defesa daqueles que sofrem – expõe pessoas a um maior sofrimento. Sejamos responsáveis enquanto sociedade. Ajudar a quem sofre pressupõe empatia, responsabilidade e profissionalismo, no sentido literal da palavra”, conclui Kogan. 

O Setembro Amarelo é uma oportunidade para refletir sobre a importância da vida e a necessidade de apoio mútuo, pois toda a sociedade tem um papel importante na prevenção do suicídio. Falar sobre o tema de forma clara e objetiva, além de oferecer apoio – pode ajudar a salvar vidas. E em casos de urgente necessidade, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece suporte emocional e prevenção ao suicídio 24h por dia por meio do telefone 188, chat e e-mail.

O que??

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