Comer muito mais rápido que o normal, até não aguentar mais, mesmo sem fome, escondido ou ficar deprimido e sentir-se culpado após ingerir uma quantidade muito grande de alimento podem ser sinais de que se está perdendo o controle da alimentação em um episódio de compulsão alimentar.

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Então, se isso acontecer pelo menos uma vez na semana, por três meses consecutivos, e sempre com perda de controle ao comer, é importante procurar auxílio de um profissional, pois pode ter se desenvolvido o transtorno de compulsão alimentar (TCA).

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Segundo o psiquiatra Glauber Higa Kaio, que atuou durante sete anos como pesquisador e colaborador do Núcleo de Atenção aos Transtornos Alimentares (Proata) da Unifesp, não são todos os quadros compulsivos que configuram um transtorno alimentar. Além disso, nem toda pessoa que come muito tem ou desenvolverá compulsão, desde que não perca o controle ao comer.

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O que difere, então, um episódio de compulsão alimentar do transtorno de compulsão alimentar é a frequência, intensidade e culpa sentida pelo indivíduo. “E a pessoa percebe, pois passa a usar continuamente frases como ‘eu não tenho controle’, ‘só parei quando estava passando mal’, ‘só parei quando acabou’ ou ‘só parei quando alguém chegou’, o que é típico do quadro de transtorno alimentar”, explica Priscilla Leitner, psicóloga especialista no assunto.

Consequências do transtorno de compulsão alimentar

Além disso, como o paciente ingere grande quantidade de calorias em um curto período, a principal consequência da compulsão é o excesso de peso que pode levar à obesidade e ao surgimento de outros problemas de saúde, como pressão alta, aumento do nível do colesterol, risco para infarto do coração, acidente vascular cerebral, problemas nas articulações, apneia do sono e até alguns tipos de câncer.

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“Lembrando que o transtorno de compulsão alimentar também pode impactar a saúde mental do paciente, piorando a depressão e a ansiedade, que podem ocorrer ao mesmo tempo durante o curso do TCA”, aponta Higa Kaio, ao citar ainda sofrimento no âmbito social, ocupacional e acadêmico, já que o paciente pode apresentar dificuldade para encontrar trabalho e desempenhar suas atividades do dia a dia devido ao maior tamanho do corpo.

Rompendo com preconceitos

E essa situação pode durar anos, pois as pessoas com TCA levam em média duas décadas para procurar ajuda especializada. De acordo com a psicóloga Priscilla, isso acontece porque, após um episódio compulsivo alimentar, a pessoa vivencia muita culpa e frustração, mas acredita que é algo passageiro, então demora para procurar ajuda, dificultando o tratamento.

O problema é que a compulsão não cessa e o indivíduo sempre procura uma nova maneira de ingerir o alimento, fazendo com que o quadro vá se tornando cada vez mais intenso até que ele perca completamente o controle e não consiga mais parar de comer. Por isso, segundo a terapeuta, é imprescindível o acompanhamento profissional para quebrar a dinâmica compulsiva. “E, quanto antes a pessoa assumir que não tem controle sobre a compulsão e procurar ajuda, melhor”.

Comida para “aliviar as tensões”

Algumas pessoas, segundo o psiquiatra, usam a comida como forma de “aliviar a tensão” quando não resolvem um conflito mental ou estão com dificuldade para lidar com os problemas. Assim, comer de forma exagerada passa a ser uma maneira de atenuar o sentimento ansioso, já que é um “anestésico” momentâneo para quem busca prazer. “Só que esse estado emocional pode levar à compulsão alimentar, pois, se a pessoa não tem recursos para lidar com a ansiedade e outros sentimentos, ela fica mais suscetível a episódios compulsivos”, destaca a psicóloga.

Além disso, pessoas com TCA também podem ter outros diagnósticos, como transtorno de pânico e de ansiedade. Por isso, “é importante estar atento aos sinais do corpo, recorrer a profissionais especializados e não utilizar a comida, álcool, compras ou qualquer outro meio como fuga dos próprios sentimentos”, conclui Higa Kaio.


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