Um novo estudo realizado por pesquisadores do Brigham and Women’s Hospital e publicado no Cell Metabolism descobriu que fazer a última refeição perto da hora de dormir diminui o gasto de energia, aumenta a fome e causa alterações no tecido adiposo. Estes fatores, somados, podem aumentar o risco de obesidade.
A pesquisa contou com a participação de 16 participantes com sobrepeso ou obesidade que foram divididos em dois grupos: um que fazia a última refeição quatro horas antes de dormir e outro que fazia perto do horário do sono. Os grupos foram acompanhados por três dias – um tempo de exposição curto, como afirmam os especialistas entrevistados pela Folha.
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Cerca de três semanas antes de iniciar os protocolos, essas pessoas mantiveram horários fixos de sono e vigília e, nos três dias antes de entrarem no laboratório, seguiram rigorosamente suas dietas e horários de refeições.
De acordo com o trabalho, a obesidade atinge cerca de 650 milhões de adultos em todo o mundo e contribui para a carga global de doenças crônicas e incapacidades ao elevar risco de uma ampla gama de problemas de saúde, incluindo diabetes e doenças cardiovasculares.
“O objetivo era investigar o efeito direto do horário das refeições e, para isso, eles excluíram alguns fatores ambientais e comportamentais”, afirma o nutricionista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Rodrigo Moreira Rodrigues.
Como resultado, os pesquisadores perceberam que comer perto da hora de dormir aumenta a fome no período de vigília. Além disso, a alimentação tardia também mexeu com a relação grelina-leptina, hormônios que regulam respectivamente a fome e a saciedade. Outro impacto percebido foi a diminuição do gasto energético e nas alterações na gordura corporal.
“A grelina e a leptina são dois hormônios importantes de regulação metabólica”, aponta Marcio Mancini, endocrinologista e vice-presidente do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
“Neste estudo, o que se percebeu, basicamente, foi que a leptina diminui e a grelina aumenta, o que aponta que comer a noite acaba sendo um ‘freio de mão’ para quem quer perder peso”, destaca Mancini.
“Se tenho menos leptina disponível, terei menos sinalização para parar de comer. E com o aumento da relação grelina-leptina, eu tenho um impulso para me alimentar”, completa o nutricionista Rodrigo Moreira.
O endocrinologista afirma que o homem é um ser diurno e, por isso, seu corpo está programado para o ciclo de sono e vigília. Além das alterações na alimentação, mudanças do sono também impactam seu metabolismo digestivo.
“Quando observamos trabalhadores noturnos como enfermeiras e metroviários e os comparamos com seus colegas diurnos, percebemos uma mudança metabólica, de peso e até da pressão arterial naqueles que tem o sono ‘trocado'”, avalia. “O ser humano não nasceu para inverter essas funções”.
Apesar de trazer novidades, Moreira ressalta que a pesquisa tem suas limitações.
“Esse estudo tem um número muito pequeno de participantes, e eles mesmos falam isso nas limitações”. “O trabalho traz uma nova perspectiva, mas não sabemos se ela vai se alongar a longo prazo. Então, seguem as recomendações de hábitos saudáveis de sempre”.