A cirurgia bariátrica, também chamada de metabólica, representa o melhor tratamento disponível para doentes renais com diabetes do tipo 2 e obesidade, segundo um estudo inédito realizado no Brasil.
A pesquisa apontou que, até cinco anos após o procedimento cirúrgico, 69,7% dos pacientes apresentaram melhora da condição renal. Quando comparado com o melhor tratamento medicamentoso disponível, 59,6% dos pacientes apresentaram o mesmo desempenho.
Apesar de pequena, a diferença é significativa, indicando que a cirurgia metabólica pode ser considerada como o melhor tratamento para essas condições em relação à recuperação da função renal e ganho de qualidade de vida.
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O estudo, liderado pelo médico e coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Ricardo Cohen, foi publicado na revista especializada eClinical Medicine (do grupo Lancet) no último dia 11.
Participaram ainda cientistas do Instituto de Pesquisa HCor (Hospital do Coração), de São Paulo, do Hospital St. Michael, de Toronto (Canadá), da Escola de Medicina da Universidade de Indiana (EUA), e das Universidades de Leicester, de Ulster e College de Dublin, no Reino Unido.
Para avaliar os efeitos da cirurgia bariátrica em doentes renais crônicos, os pesquisadores avaliaram cem pacientes em 2016, dos quais 49 fizeram tratamento com remédios e 51 passaram pela bariátrica. Outros 92 pacientes foram acompanhados como grupo controle.
Após um ano, a redução do indicador microalbuminúria (que aponta perda de proteína na urina devido à falência dos rins) nos pacientes que fizeram a bariátrica foi de mais de 75%, enquanto os pacientes tratados com medicamentos tiveram cerca de 60% de redução.
A redução se acentuou até um ano após a cirurgia nos pacientes que fizeram a operação, enquanto naqueles tratados com a terapia tradicional convencional houve uma piora no progresso.
Além disso, a melhora na qualidade de vida foi maior nos pacientes que realizaram a cirurgia, e eles também apresentaram redução significativa do peso quando comparados àqueles tratados com remédio (90% contra 22,5%).
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Para Cohen, o estudo é inédito em mostrar que a cirurgia bariátrica supera a melhor medicação disponível. “E, passados os cinco anos, vimos que é uma cirurgia que é segura, com poucos efeitos colaterais, com melhora na qualidade de vida e, a longo prazo, ela é mais custo-efetiva, porque o paciente para de gastar com medicamento”, argumenta.
De acordo com ele, a bariátrica não deve necessariamente competir com o tratamento medicamentoso –em geral feito por meio de hemodiálise–, mas ser uma opção para o tratamento individualizado. “É mais uma opção para o paciente grave. Como as duas opções têm bons resultados, é possível, em um paciente com obesidade 1, já fazer a cirurgia para evitar agravar o quadro de complicação renal. O uso torna-se indiscriminado”, afirma.
Entre os medicamentos mais eficazes usados para doença renal crônica estão os inibidores da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2) e os bloqueadores do sistema renina-angiotensina-aldosterona (BRA), além de outros inibidores que atuam por exemplo no sistema de cotransporte sódio-glucose 2 (chamados SGLT2).
Desde 2017 o Conselho Federal de Medicina reconhece a cirurgia bariátrica como uma opção de tratamento para pacientes com diabetes do tipo 2, com ou sem obesidade mórbida, para reduzir a pressão na função renal. Segundo a diretora-geral da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Andrea Pio de Abreu, já foi demonstrado que a cirurgia é uma opção eficaz para pacientes renais com diabetes.
“Já conseguimos demonstrar que a bariátrica ajuda não só no controle do peso, mas no tratamento de pacientes com diabetes, conseguindo reduzir e até melhorar 100% a perda de proteína na urina”, diz Abreu.
O próprio estudo do hospital Oswaldo Cruz trouxe como resultado uma redução da doença renal diabética em 63,1% dos pacientes pós-cirurgia, enquanto naqueles que faziam diálise a redução foi de 52,8%.
Ainda segundo Abreu, mais da metade dos casos de doentes renais crônicos têm como causa hipertensão arterial (de 30% a 33%) e diabetes tipo 2 (30%). “É importante que as pessoas entendam as causas, pois a doença renal é assintomática até um estágio avançado, quando já há perda da função renal. Controlar os fatores de risco é fundamental para a prevenção”, explica.
Como não há cura, só é possível reduzir a progressão da doença, Abreu lembra que o aumento da prevalência de diabetes e obesidade no país preocupa. Dados do Vigitel 2021 indicam que quase 16 milhões de adultos no país, ou 9% da população, vivem com diabetes, enquanto a parcela de brasileiros obesos deve chegar a 30% da população até 2030.
Para o médico, como há risco aumentado de necessitar de transplante de rins em pacientes com obesidade (índice de massa corporal igual ou superior a 32), o efeito secundário, de redução do peso corporal, traz ainda uma outra vantagem da cirurgia metabólica.
“É importante analisar cada candidato individualmente, mas o que estamos vendo é que uma grande opção terapêutica que vai dividir a frente com o paciente renal crônico que necessita de diálise”, diz Abreu.
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