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Atrás do sonho

Transição de carreira acima dos 40 anos é possível. Saiba os desafios de quem busca se reinventar

2 minutos de leitura
Alex Silveira
Por Alex Silveira
20/09/2021 15:17 - Atualizado: 20/09/2021 15:23
Anna Clara e Daniele (direita) mudaram de profissão após estímulos diferentes. Fotos: Divulgação/SMCS
Anna Clara e Daniele (direita) mudaram de profissão após estímulos diferentes. Fotos: Divulgação/SMCS

A palavra “transição” vem sendo muito utilizada quando se fala em carreira profissional de pessoas com 40 anos ou mais. Significa que o profissional de uma determinada área resolveu partir para um outro ramo de atuação, seja para buscar melhor remuneração, satisfação profissional e pessoal ou por necessidade do mercado. Como qualquer mudança na vida, trocar de trabalho não é fácil, mas não é impossível. Requer planejamento, apoio familiar e persistência para não desistir do sonho.

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Segundo a psicóloga Samantha de Toledo Martins Boehs, professora do curso de Administração da UFPR e coordenadora do Centro de Carreiras e do MBA em Gestão de Talentos e Comportamento Humano da instituição, são quatro os principais motivos que levam o profissional a uma transição de carreira perto dos 40 anos. O primeiro é a insatisfação profissional. “É a pessoa que não obteve sucesso na profissão de origem, seja pela baixa remuneração ou pela dificuldade de conquistar uma colocação no mercado de trabalho”, explica a coordenadora.

O segundo motivo, que é muito comum de acordo com a Samantha de Toledo, é quando ocorre uma “demissão abrupta”, ou seja, de uma hora para outra encerra-se a vaga na empresa. “Como aconteceu, por exemplo, com o HSBC, com o antigo Bamerindus e com o pessoal da Varig. As pessoas ficam muito chocadas e acabam procurando uma outra área de trabalho porque não querem, de jeito nenhum, continuar na área anterior”, diz.

O terceiro motivo é o contrário desses dois primeiros. A pessoa está muito bem remunerada na profissão, tem o sucesso aos olhos dos outros, com uma condição social interessante, mas ela não vê sentido nenhum naquilo que faz.

“São, geralmente, pessoas que começaram a trabalhar muito cedo. Às vezes, por uma condição econômica menos favorável quando jovens, saíram para batalhar em busca do dinheiro. Ao chegar nos 40 anos, momento de vida em que as pessoas costumam fazer uma autoavaliação sobre si mesmas, resolvem ir atrás de um sonho, de uma realização pessoal, abrir uma empresa, comércio, ser a dona do próprio nariz”, destaca a coordenadora.

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Ainda conforme a Samantha de Toledo, a quarta razão tem relação com a rotina. A pessoa não aguenta mais o seu dia a dia e resolve mudar de área para ter horários mais flexíveis ou melhorar a qualidade de vida.

Mas quais são as barreiras que os profissionais dessa faixa etária acima dos 40 anos encontram pelo caminho? Segundo a coordenadora, a mais “amedrontadora” é a queda na renda, pois isso atinge o padrão de vida da família e pode gerar algum tipo de conflito. “Por isso, é preciso planejar, conversar bastante em casa com o cônjuge e os filhos. Todos precisam estar por dentro do desejo de transição”, aconselha. O ideal, de acordo com a Samantha de Toledo, é que a reserva financeira para uma transição seja de, pelo menos, 12 meses. “Importante levar em consideração que uma transição ocorre de maneira lenta”.

Outro ponto para se compreender sobre a transição é o julgamento externo, seja da família ou das outras pessoas, e também a questão do preconceito por idade. “O chamado ageismo. Para o mercado de trabalho, a faixa etária sofre algum tipo de preconceito. Pode ser em relação ao uso da tecnologia, ao saber das coisas. Isso em comparação com a geração mais nova, que costuma ter aquela percepção do “sabe tudo”, ressalta a Samantha de Toledo. “Isso pode gerar algum tipo de dificuldade de inserção inicial, como alguém que não tem experiência ainda, naquele campo específico”, completa.

Quem está na transição quer se realizar

Rosangela Seabra Pereira, 57 anos, resolveu mudar de área, da advocacia para a fonoaudiologia. Ela está no 6.º período do curso, na Universidade Tuiuti (UTP), em Curitiba. A decisão veio com a aposentadoria e será a realização de um sonho. “Trabalhei por quase 30 anos na advocacia. A aposentadoria veio em julho de 2015. Essa mudança de área decorre de um desejo da juventude em trabalhar na área da saúde. Em casa, somos eu e minha filha, de 34 anos, que me apoia muito”, conta.

Rosangela mudou de área. Foi da advocacia para a fonoaudiologia.
Rosangela mudou de área. Foi da advocacia para a fonoaudiologia. Foto: Arquivo Pessoal.

A expectativa dela com a transição é a melhor possível. “Fonoaudiologia oportuniza um trabalho amplo, focado no indivíduo, no coletivo, em acolher, escutar as narrativas. Minha expectativa é a melhor, inclusive em relação ao aumento da renda. O receio que tenho é o tempo, as questões e reflexões pessoais, a idade. Porém, tenho visto muitos programas que facilitam a atuação do “adulto maduro” no mercado de trabalho e isto me alegra e me dá força para continuar e concluir a graduação”, aposta a Rosangela Pereira.

Um desses caminhos possíveis para quem tenta a transição pode estar mais perto do que se imagina. Em Curitiba, o Instituto Municipal de Administração Pública (Imap), que gerencia a contratação de estagiários para as secretarias e órgãos municipais, possui estagiários com mais de 40 anos. O grupo é composto de 108 estagiários que representam 8,4% dos 1.285 estagiários e atuam em diferentes áreas.

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“Temos estagiários com mais de 60 anos. A prefeitura está aberta aos estudantes universitários da cidade. Não fixamos limite de idade”, avisa Antônio Sergio da Silva Bento, diretor Administrativo Financeiro Imap. As áreas de atuação são Direito, Farmácia, Enfermagem, Engenharia Civil, Segurança do Trabalho entre outras.

Na avaliação de Sergio, que também é professor universitário, existem diferenças entre os estudantes mais jovens e os que têm mais idade. “Os mais jovens tendem a ser mais inquietos. Os que já têm mais vivência, costumam ser mais compenetrados. Eles interagem com servidores de carreira de todas as idades. Esta integração entre as gerações é algo saudável e esperado no mundo do trabalho”, analisa.

O diretor destaca que, independentemente da idade, as possibilidades de estágio na prefeitura podem garantir outras oportunidades no mercado de trabalho e também atrair futuros servidores. “Muitos se apaixonam, fazem concurso público e vêm trabalhar com a gente”, comemora.

Uma das estagiárias é a Anna Clara Garcia da Gama, 48 anos. Aluna de Direito, ela trabalha na Procuradoria Geral do Município. Anna Clara interrompeu sua primeira graduação, em Pedagogia, quando era mais jovem. “Fui mãe aos 17 anos, tenho três filhos, dois são gêmeos, então foi ficando difícil conciliar a faculdade com a casa. Os anos passaram, temos as nossas empresas da família, os filhos estão criados, mas eu ainda não me sinto realizada”, conta. 

Foi por meio de um amigo que ela teve contato com o Direito e se apaixonou pela profissão. “Foi quando decidi mudar. Deixar o trabalho na empresa para tomar conta a minha vida, dos meus sonhos. Meus filhos me apoiam muito. É desafiador, e ter eles ao meu lado dá mais energia para continuar”, finaliza.

Foi por meio de um amigo que Anna Clara teve contato com o Direito e se apaixonou pela profissão.
Foi por meio de um amigo que Anna Clara teve contato com o Direito e se apaixonou pela profissão. Foto: Lucilia Guimarães/SMCS.

Aos 32 anos, ainda longe dos 40 anos, mas mesmo assim tentando uma transição, o professor de filosofia do Ensino Médio de Curitiba, Jonas Faccin, estuda Jornalismo na UTP. “Gosto muito de dar aulas, mas a intenção é migrar aos poucos de área e, quem sabe, ser professor universitário. O jornalismo veio com a possibilidade de pensar de forma crítica as questões sociais e poder trabalhar com elas nas notícias do dia a dia. Senti essa necessidade dentro de mim. Aumentar a renda também está nos planos”, conta Faccin.

No caso dele, a esposa o apoia e também está numa transição. “Estamos caminhando de forma semelhante, pois ela também está estudando Odontologia, mesmo já atuante há anos na área da fonoaudiologia. Certamente, vou passar por uma transição relativamente lenta para a área da comunicação, sobretudo por uma questão econômica uma vez que minha renda provém da docência”, finaliza.

Também com 48 anos, outra estagiária da prefeitura que está em busca do sonho da graduação é a estudante de Pedagogia, Daniele Oliveira Alves Rodrigues. Ela atua há quase dois anos na Escola Municipal Francisco Derosso, no Xaxim, perto de onde mora. A decisão para voltar aos estudos foi incentivo da filha, Ana Paula, que mostrou para a mãe que ainda não era tarde para entrar na universidade.

A decisão de Daniele em voltar aos estudos partiu da filha.
A decisão de Daniele em voltar aos estudos partiu da filha. Foto: Levy Ferreira/SMCS.

“Ela me deu a maior força, sempre me dizia que ainda dava tempo para estudar e correr atrás. Hoje, ela já é formada, e eu também já estou quase lá”, relata Daniele, que pretende, no futuro, fazer concurso público. “Mudei para o Japão com a família ainda adolescente. Lá trabalhei por 20 anos em várias áreas e voltei ao Brasil. Só agora estou tendo a chance de estudar e realizar meu sonho de ser professora. A possibilidade de nova carreira e o estágio são importantes para mim. Sinto-me jovem na faculdade. Não veja a idade como um problema”, conclui.

Sobre a possibilidade de estágio na prefeitura de Curitiba, é preciso acompanhar a abertura de vagas no site do Imap.

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