Um cheque pré-datado de R$ 130 motivou o assassinato do escritor e jornalista Wilson Pinto Bueno, 61 anos, encontrado morto à facada em sua residência, no Tingüi, na noite de segunda-feira.
O autor do crime foi preso por policiais da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), na noite de quarta-feira, em Fazenda Rio Grande, e apresentado na tarde de ontem. Cleverson Petrecelli Schimitt, 19 anos, confessou friamente ter matado porque o escritor havia sustado o cheque referente ao pagamento de um programa sexual e à demolição de uma casa.
Wilson foi morto, na noite de domingo, com uma faca pega na cozinha e deixada no sobrado. Os policiais da DFR trabalhavam com a hipótese de latrocínio (roubo com morte), já que dois celulares e uma máquina fotográfica haviam sido levados da casa pelo rapaz, que deixou para trás pistas importantes que levaram à sua localização.
Na residência do escritor, havia uma agenda telefônica com o nome “Cleverson” e o telefone escritos à mão e o canhoto do talão de cheque, onde também estava seu nome.
Táxi
Além dessas evidências, a polícia também bloqueou os celulares roubados e descobriu que o rapaz, ainda na noite de domingo, usou um dos aparelhos para chamar um táxi, de uma empresa onde já tinha cadastro.
De acordo com o superintendente Hélcio Piassetta, a partir dessas informações, foi possível chegar ao endereço de Cleverson, que foi preso no final da noite de quarta-feira, na casa da mãe dele, na Rua Costa Rica, Nações I, em Fazenda Rio Grande. A princípio, ele negou o crime, mas logo confessou-o. Cleverson não tinha passagem pela polícia.
Revolta
Segurando um painel em homenagem ao irmão, João Santana, 42 anos, se mostrou aliviado com a prisão do criminoso. “A polícia fez um trabalho magnífico, apesar de estar sucateada”, disse João, lembrando do momento em que encontrou o escritor caído morto.
“Foi uma cena tétrica. Fiquei apavorado.” João definiu o irmão como uma pessoa educada e reservada. “Ele usou a droga como argumento para justificar o crime”, rebateu. Segundo ele, o escritor não era usuário de droga.
Confiança excessiva
O rapaz disse que trabalha como montador de torre de celular e que se tornou garoto de programa para levantar dinheiro extra. Revelou ter conhecido o escritor numa sauna, na sexta-feira, o que foi confirmado pelo delegado Silvan.
Em seu depoimento, consta que os dois foram até a casa de Wilson, que pagou R$ 70 para manter relação sexual (sexo oral). Ele saiu da casa do escritor na manhã de sábado, mas voltou no mesmo dia, quando Wilson propôs ao rapaz que o ajudasse no serviço de demolição de uma casa da família.
Para o serviço, deu a Cleverson o cheque de R$ 130 que seria depositado na segunda-feira. “Nós combinamos que R$ 70 seriam pelo programa e o restante pelo serviço de demolição”, contou o rapaz.
Ele saiu no domingo de manhã da casa do escritor e foi para Fazenda Rio Grande, onde usou o cheque para pagar um botijão de gás. Mais tarde, porém, Bueno, por motivos desconhecidos, ligou para o rapaz contando que havia sustado o cheque. Como Cleverson já havia gasto a quantia, retornou à casa do escritor para cobrar o dinheiro.
Facada
Quando chegou ao sobrado, por volta de 21h, Cleverson afirmou ter sentido cheiro de maconha. Os dois brigaram. Cleverson relatou que foi até a cozinha, onde pegou a faca e subiu até o escritório de Bueno. “Ele ficou nervoso por eu ter descoberto que ele fumava maconha. Foi quando ele tentou me agredir. Então, eu dei a facada”, contou o rapaz.
“Depois do crime, ele colocou a cadeira em cima da vítima, que ficou agonizando. Lavou e guardou a faca na gaveta e fugiu de ônibus. Ele mexeu no computador porque achou que tivesse alguma imagem dele gravada”, contou o delegado Silvan Rodney Pereira, titular da DFR.
Fã do seriado policial norte-americano CSI (Crime Scene Investigation), Cleverson tentou imitar as personagens da série e “limpar” a cena do crime. “Ele chegou a colocar meias nas mãos como se fossem luvas para eliminar suas digitais”, contou o superintendente Hélcio.
Gás
Logo após ser preso, Cleverson foi com os policiais até o sobrado do escritor onde mostrou o local onde guardou a faca. Ele revelou estar arrependido e que só queria o dinheiro.
“Ele voltou para cobrar porque disse que ia ficar mal na vizinhança”, comentou o delegado. Cleverson, que alegou usar drogas desde os 15 anos, disse que roubou os pertences para pagar o botijão. Ele vendeu um celular em Curitiba e os outros aparelhos no terminal de Fazenda Rio Grande.
As investigações continuam para apurar quem comprou os objetos roubados. Cleverson foi autuado em flagrante por latrocínio e continua preso na DFR. O delegado informou que, na casa, foi apreendida uma pequena quantidade da droga.