Vovó homicida pode passar o Natal na cadeia

Continua recolhida no 9.º Distrito Policial (Santa Quitéria) a anciã Geni Coelho, que completa 80 anos no próximo dia 26, e está condenada por um homicídio ocorrido há 24 anos. Apesar de tanto tempo ter se passado e Geni residir no mesmo endereço há 21 anos, ela só foi presa por policiais da Delegacia de Vigilância e Capturas no último dia 12. Segundo o juiz Fernando Ferreira Moraes, do 1.ª Vara do Tribunal do Júri, o destino de Geni deverá ser definido nos próximos dias.

Seus advogados entraram com pedido de extinção de punibilidade, que está sendo analisado pelo Ministério Público. Os defensores entendem que Geni não oferece nenhum risco à sociedade e que a função da prisão é a resocialização à sociedade, o que na idade de Geni não teria fundamento. “Dei vistas para o promotor de Justiça na quarta-feira e pedi para que devolvesse o processo hoje (ontem), mas ele ainda não devolveu. Só então vou decidir”, informou o juiz. Como hoje é feriado para o funcionalismo público, a anciã deverá ficar recolhida até o início da semana que vem. “Se for reconhecido que houve prescrição, ela será colocada em liberdade. Se não, será recolhida no Complexo Médico Penal”, adiantou o magistrado.

Apesar da idade avançada de Geni, o juiz afirmou que este fator não irá influenciar em sua decisão. “Olhamos pelo lado da responsabilidade penal das pessoas. Muitas fogem a vida toda e acabam morrendo sem serem punidas. Decidirei no aspecto técnico. Na questão do aspecto humano o Estado precisa dar condições para ela cumpra a pena”, salientou o magistrado.

Aflição

Geni aguarda a decisão da Justiça ansiosa e temendo ficar recolhida no sistema penitenciário. Apesar de ser tratada com carinho pelos policiais do 9.º Distrito Policial, a anciã já não come direito e sua saúde está comprometida. De acordo com os policias, nos últimos dias ela está sofrendo com problemas de estômago. Geni é hipertensa, diabética e cardíaca. “Sinto muita dor de cabeça. Tenho muito medo de morrer na cadeia. Já estou no pau da goiaba, não sei o que estou fazendo aqui”, comentou, mostrando e explicando para que servem seus remédios. “Sou aposentada e ganho um salário mínimo. Meus remédios são caros. Ainda bem que no posto de saúde eles me dão”, comentou.

Ela disse que mora há 21 anos no mesmo endereço e nunca recebeu a visita de um oficial de Justiça ou de policiais. “Pensei que já estava tudo certo com a Justiça. Fiquei três anos presa. Depois nunca fugi, sempre estive no mesmo lugar”, informou.

Mandado expedido há 12 anos

Geni foi condenada a 15 anos de reclusão pelo assassinato de Alcides Razera de Freitas, 17 anos, ocorrido no dia 13 de novembro de 1979. No dia 29 do mesmo mês foi presa e recolhida na Penitenciária Feminina de Piraquara, onde ficou três anos. Em 82 foi julgada, condenada a um ano e 10 meses de reclusão e liberada, já que tinha passado mais tempo do que devia na cadeia. O Ministério Público recorreu da sentença e, em 1.985, Geni foi submetida a um novo julgamento, sendo condenada a 16 anos de reclusão. A defesa recorreu e só em 1.991 saiu a sentença de 15 anos. O mandado de prisão foi decretado em 12 de setembro de 1991, pelo então juiz da 1.ª Vara do Tribunal do Júri, Valdomiro Nabur, agora desembargador do Tribunal de Justiça. Mas, a ordem para prender Geni foi do juiz Fernando Ferreira Moraes.

Os policiais tiveram facilidade para cumprir o mandado, que estava entre os dez mil outros existentes no Paraná. Geni estava em casa, sem a dentadura, ainda de pijama e saboreando seu chimarrão matinal, quando foi presa. Sem forças para correr e escapar, seu único pedido aos policiais foi colocar a dentadura e trocar de roupa.

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