Paulo Delci Unfried, 32 anos, foi descrito como “um homem agressivo, sempre andou armado e conhece o Morro do Boi como ninguém”, por moradores da Praia Mansa de Caiobá. Ele foi preso na manhã de quinta-feira, em Matinhos, um dia depois de assaltar uma casa no balneário de Betaras e estuprar a caseira.
Casado e pai de um filho, há 10 anos ele mora na Rua Manoel Ribas, uma das mais bonitas de Caiobá, numa casa de fundos, oferecida pelos proprietários do condomínio onde a mulher dele trabalha também como caseira.
Morando a 300 metros do Morro do Boi, Paulo passava os dias oferecendo serviços de pedreiro, carpinteiro e eletricista. No verão, também trabalhava como zelador e vigia de prédios. Considerado um pouco “estranho” pelos vizinhos, ganhou notoriedade pelos escândalos que suas amantes faziam no portão de sua casa.
Antecedentes
Há pouco mais de um ano, ao sair embriagado do bailão Cabral, em um Golf atropelou e matou um vigilante que trabalhava de moto. No dia seguinte, jogando truco e bebendo em outro bailão, ele se vangloriava do acidente, rindo por ter matado uma pessoa. Por pouco não apanhou dos amigos do vigilante.
Paulo ainda tem outros antecedentes. Há informações de que é autor de um homicídio em Medianeira, de onde veio com a família. Há dois anos foi preso por porte ilegal de arma, após ter subido em uma árvore para observar garotas que tomavam banho de piscina, de madrugada, em um prédio. Um vizinho viu o revólver na cintura dele e chamou a polícia.
Seus conhecidos revelaram que ele tinha por prática perambular, durante as madrugadas, na beira da praia, para observar casais namorando. Neno, dono de uma empresa de segurança que presta serviços em Caiobá, mora há 35 anos no mesmo local e conhece todo mundo.
Morro
Ontem, Neno se penitenciava por não ter suspeitado que Paulo poderia ser o assassino do Morro do Boi. “Parece que as coisas vão se encaixando melhor agora. Vamos esperar o que a Justiça vai dizer”, comentou, cauteloso, lembrando que há outro suspeito preso Juarez Ferreira Pinto, 42 anos -desde 17 de fevereiro passado. “Nós sabemos que ele andava pelo morro de dia e de noite, e sempre armado, afirmando que ia caçar”, lembrou um segurança da empresa de Neno.
Sem vontade de investigar
O delegado de Matinhos, Tadeu Bello, está ouvindo todas as vítimas de roubo de Paulo e suspeita que outras aparecerão. “Ele foi autuado em flagrante por roubo, estupro e porte ilegal de arma”, afirmou Bello.
Com relação à possibilidade de Paulo ser investigado como suspeito no crime do Morro do Boi, o delegado não a descarta, mas foi categórico ao afirmar que não tem dúvida que o assassino é Juarez Ferreira Pinto.
Bello encaminhou as duas armas apreendidas para o Instituto de Criminalistica, em Curitiba, mas não para exame de balística. “Só requeri o exame que comprova que as armas funcionam”, afirmou.
De acordo com o delegado, qualquer exame que tenha a ver com o caso do Morro do Boi, só pode ser requerido pela promotora ou pelo advogado de defesa. “O caso do morro já está na Justiça. A polícia não tem mais ingerência nele”, explicou.
Debate
A promotora criminal Carolina Dias Aidar de Oliveira garantiu, ontem, que não pedirá nenhum exame complementar. Categórica, afirmou que Juarez é o assassino do Morro do Boi.
“Se a gente for mexer no caso cada vez que prenderem alguém parecido com o retrato falado, nunca vai acabar”, disse ela, salientando que tem provas testemunhais suficientes para condenar Juarez.
Já o advogado de defesa, Nilton Ribeiro, prometeu não medir esforços para que todos os exames sejam feitos, principalmente o de balística, nas duas armas apreendidas, e o de DNA, para comparar com o sangue encontrado em uma camiseta amarela, numa trilha do morro, e que Monik reconheceu como, sendo do atirador.
O delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, titular da Divisão Policial do Interior, que autuou Juarez, disse que “não trabalha com a hipótese de erro” e está convicto que Juarez é o criminoso. Mesmo assim, irá propiciar à Justiça todas as informações necessárias para que não paire qualquer dúvida.
Vítimas reconhecem suspeito
Na delegacia, Paulo Delci Unfried foi reconhecido pelo proprietário de uma farmácia e por quatro mulheres, todas “caseiras” de residências de luxo, como o bandido que os assaltou. Uma mulher, 32 anos, contou que foi atacada na terça-feira, pela manhã.
“Eu disse que não tinha nada. Então ele perguntou da minha filha, a idade dela, e do carro do meu marido. Falei que meu marido não tinha carro. Ele me trancou no banheiro e foi embora. Não roubou nada, mas quebrou o televisor”, contou a vítima, que não quis ser identificada.
Para os roubos, Paulo usava uma camiseta preta, com buracos para os olhos e o nariz, mas usava seu próprio carro, o que facilitou a prisão. As vítimas o reconheceram pela estatura – tem 1,90 m de altura – pelo tom da voz e pela máscara improvisada, que foi apreendida.
A polícia encontrou no carro de Paulo (um Gol vermelho) um revólver calibre 38, uma garrucha calibre 22, objetos roubados, e uma lanterna grande e pesada, usada normalmente por policiais, por ter um facho possante e também servir de cassetete.
Com esta lanterna ele fazia suas incursões no Morro do Boi, segundo seus vizinhos. Monik, a sobrevivente do crime, afirmou que o assassino voltou quando ela estava imobilizada pelo tiro e ofuscou-a com a luz de uma lanterna.
Transtornado
A polícia ainda procura o comparsa de Paulo, que teria participado de vários assaltos, e uma amante dele, que poderia estar envolvida em alguns roubos. Essa mulher teria comentado com vizinhos que, por pouco, não apanhou do amante quando disse que ele era muito parecido com o retrato falado do assassino do Morro do Boi. E chegou a dizer que na noite do crime, 31 de janeiro passado, ele chegou em casa transtornado.
Inocência
Paulo fala pouco, mas observa muito. Quando interrogado pelo delegado Bello, negou todas as acusações, mesmo sendo reconhecidos por cinco vítimas. Chegou a insinuar que “plantaram” os objetos roubados em seu carro e garantiu, sem constrangimento, que não conhece o Morro do Boi.
Disse que jamais subiu no local, embora more próximo. Mas seus conhecidos o desmentem, contando que ele é “mateiro”, caçador e que conhece o morro como ninguém.
Monik diz que não tem dúvidas
Janaina Monteiro
Monik Pegorari de Lima, que completou 24 anos anteontem, afirmou convicta que não foi o assaltante preso em Matinhos o responsável pela assassinato de seu namorado Osíris del Corso, 22 anos, em 31 de janeiro.
A estudante, que foi baleada e ficou paraplégica, viu a foto de Paulo Delci Unfried, 32 anos, no site Paraná-Online. “É o Juarez. Não tenho dúvidas. Esse homem tem mais cabelo, tem a cara quadrada e é mais estranho”, afirmou.
Tanto a estudante quanto o pai dela, o advogado Lourival Pegorari da Silva, acreditam que se trata de uma manobra da defesa para chamar a atenção sobre as semelhanças entre Paulo e Juarez.
Na semana passada, ela esteve frente a frente com Juarez durante a audiência de instrução no fórum de Matinhos.”Tive que ficar cara a cara com ele para reconhecê-lo diante do juiz, mas ele ficou de cabeça baixa. Não tem coragem de olhar nos meus olhos”, disse.