Foz do Iguaçu  – A violência espanta turistas e sacoleiros na fronteira do Brasil com o Paraguai. Na quarta-feira, houve um tiroteio dentro de um ônibus lotado, em Foz do Iguaçu. Francisco Cardoso de Souza, que veio à fronteira fazer compras, morreu com dois tiros. Anteriormente, um turista francês acabou morto, durante uma tentativa de roubo.

Nos últimos dois anos, os números de veículos furtados também superou os oitocentos registros por ano e motivou a adoção de um sistema eletrônico de vigilância, com câmeras funcionando sobre a Ponte da Amizade, em 2002. Na manhã de sexta-feira, porém, o motoboy brasileiro Edivaldo Serra não viu que havia uma corrente estendida sobre a passagem, no lado oposto, e foi atingido na garganta. Socorrido, morreu no hospital. Sua moto, que ficara no local do acidente, desapareceu.

Os assaltos sobre a ponte e no lado paraguaio são corriqueiros. O comerciante Emerson Samuel e sua mulher, Eliana, foram atacados por três rapazes na frente dos policiais do país vizinho. Samuel foi esmurrado e ficou sem duas sacolas com brinquedos. “Os paraguaios fingiram que não viram”, disse a vítima

Expulsão

A decisão do governo vizinho de expulsar brasileiros que trabalham informalmente em Ciudad del Este, do outro lado do Rio Paraná, contribui para o clima de tensão. Fiscais fizeram um arrastão na quarta-feira e mandaram de volta a Foz mais de quarenta balconistas e atendentes que trabalhavam em lojas paraguaias.

Além disso, grupos de garotos e rapazes transformaram a ponte em seu território. Eles são os “mulas” do contrabando de cigarros e drogas. Abrem buracos na tela de aço e lançam as caixas na margem brasileira. Embaixo da ponte, outro grupo recolhe a carga e se esgueira pelo mato até uma rua lateral. “Nem a polícia se mete com eles”, diz o fiscal aduaneiro Egídio Davies, observando de longe o movimento. Foi dessa forma que os gaúchos Esteverson Cristiano de Carvalho e Eliés Damasceno obtiveram um pacote de cigarros contrabandeados, pagando um “frete” de R$ 10 por caixa.

A atividade irregular envolve adolescentes desde os anos 90. Na época, menores brasileiros chegaram a ficar detidos em presídios paraguaios, mas o caso terminou sem solução. Esta semana, por exemplo, a garota J., de 17 anos, recebia R$ 20 para passar peças de computador presas às pernas, sob as calças. Ela trabalha na ponte desde os 14 anos, foi apanhada uma vez pela fiscalização e conta como se livrou. “Deixei o cara me beijar.”

Tráfico

E os problemas não param por aí. Em fevereiro, a pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial no Brasil, promovida pelo Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, apontou Uruguaiana (RS) e Foz do Iguaçu como pólos do tráfico de mulheres no Brasil. A coleta de dados ocorreu de junho de 2001 a junho de 2002 e os destinos mais citados pelas jovens, entre 12 e 24 anos, foram Argentina, Paraguai e Chile.

Fronteira virou paraíso dos corruptos

Foz do Iguaçu (AE) – A criação do pólo comercial de Ciudad del Este, no Paraguai, após a construção da Ponte da Amizade, transformou Foz do Iguaçu no paraíso dos agentes públicos corruptos, segundo a Polícia Federal (PF). As vagas em postos de policiamento de fronteira e de rodovias passaram a ser bastante disputadas.

A maioria dos quarenta policiais rodoviários federais que tiveram a prisão preventiva decretada durante a operação Trânsito Livre atuava na área havia mais de dez anos. Existem casos de policiais que recusaram propostas de transferência para outras regiões, mesmo com a perspectiva de vantagens salariais e profissionais.

Houve ainda um agente que teria negociado sua transferência de São Paulo para a cidade paranaense, mesmo com perda de padrão. “Quando o policial entra em um esquema criminoso, mas que rende de 5 a 10 vezes mais que o seu salário, fica difícil sair”, afirma o assessor de Comunicação Social da PF em Foz, Marcos Koren. Segundo ele, os valores arrecadados propiciavam um rendimento extra de R$ 20 mil a R$ 30 mil por pessoa envolvida no esquema.

De acordo com o delegado federal Algacir Mikalovski, que preside a operação Trânsito Livre, o contrabando de produtos paraguaios está na origem dos problemas que ocorrem no lado brasileiro. Segundo ele, já se sabia que a quantidade de produtos que chegava aos locais de venda era muito maior do que a compra declarada. “Os volumes financeiros envolvidos são imensos”, confirma.

As transações ocorrem em moedas de vários países, com destaque para dólares, reais, guaranis e pesos argentinos. O fluxo de turistas, atraídos sobretudo pelas Cataratas do Iguaçu e pelo lago de Itaipu, contribui para formar na cidade, de 270 mil habitantes, grupos de pessoas interessadas em explorar serviços informais e não autorizados, provocando outros focos de corrupção.

Vigilância

O combate a esses crimes, de acordo com Mikalovski, exige equipes treinadas e sob constante vigilância. “É preciso cortar pela raiz essa coisa endêmica que é a corrupção dos agentes públicos”, diz.

O delegado afirma que, embora as ações contra a pirataria realizadas em São Paulo não estejam relacionadas com a operação realizada em Foz, essas também contribuem para reduzir a corrupção. “Outros órgãos estão juntos com a PF nesse trabalho, inclusive a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que tem muitos bons policiais”, diz.

A operação Natal Legal, promovida em conjunto com a Receita Federal, já resultou na apreensão de aproximadamente R$ 500 mil em mercadorias. O delegado lembrou que a Operação Sucuri, realizada em março, atingiu principalmente os quadros da PF. Os 23 policiais envolvidos foram presos, afastados das funções e estão respondendo ao processo em liberdade. “Estamos acompanhando os processos e vamos divulgar os resultados”, promete o delegado.

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