Vigilantes são denunciados por prática de tortura

Bater em pichadores e vândalos como corretivo seria atitude habitual e orientação da Centronic Vigilância e Segurança.

A denúncia foi feita ontem, por funcionários e ex-funcionários da empresa, a emissoras de rádio e de televisão, após a elucidação do assassinato do estudante Bruno Strobel Coelho Santos, 18 anos, filho do cronista esportivo Vinícius Coelho.

Bruno foi flagrado pichando o muro de um clínica médica, no Alto da Glória, pelos vigilantes Marlon Balem Janke, 30, e Eliandro Luiz Marconcini, 25. Agredido e imobilizado, foi levado para a sede da Centronic, no Alto da XV, onde sofreu torturas e humilhações.

Ao revelar que iria denunciar os vigilantes pela agressão, foi levado amordaçado para Almirante Tamandaré, no porta-malas de um carro, e executado num matagal, com dois tiros na cabeça. Também participou da execução o vigilante Douglas Rodrigo Sampaio Rodrigues, 26. Os três acusados estão presos.

Reprodução/Átila Alberti

Vigilante filmou sessão de ?pintura? de pichadores.

Psicopata

Ontem, Marlon foi encaminhado ao Centro de Triagem II, em Piraquara. ?Este indivíduo tem claros sinais de desequilíbrio. Tudo leva a crer que seja um psicopata?, revelou o delegado Jairo Estorilio, que preferiu não manter o acusado no xadrez da delegacia de Almirante Tamandaré. Foi no celular de Marlon que a polícia encontrou a filmagem de outra tortura, desta vez imposta a dois jovens, em agosto passado, num barracão abandonado na Vila Hauer. Estes dois tiveram os corpos pintados de preto, foram agredidos e obrigados a tirar as roupas. Um deles é filho de um policial civil.

O policial e os dois rapazes deverão ser ouvidos hoje, por Estorilio, que também passou a receber várias denúncias contra os vigilantes. ?Isso indica que os acusados estavam acostumados a agir com truculência, em vez de chamar a polícia, como seria o correto?, explicou o delegado.

Na mesma filmagem, aparecem, pelo menos, outros quatro homens, assistindo às humilhações sofridas pelos rapazes. Dois deles já entraram em contato com a delegacia, avisando que irão se apresentar para prestar esclarecimentos e adiantando que nada têm a ver com as torturas.

Arma ilegal será analisada

Além dos três acusados da morte de Bruno Coelho, também foi autuado em flagrante – por porte ilegal de arma – o vigilante Emerson Carlos Roika, 36, que estava na sede da Centronic, com uma pistola automática lixada. Ele não explicou a procedência da arma, que foi encaminhada para exame de balística. O delegado Estorilio suspeita que não se trata da usada contra o estudante, que pode ter sido um revólver calibre 38, ainda não encontrado.

O supervisor de operações Ricardo Cordeiro Reysel, 32, e o operador de alarmes Leônidas Leonel de Souza, 28, foram indiciados por tortura, já que teriam assistido as agressões contra Bruno e não tomaram qualquer providência. ?Ainda está em análise se iremos pedir a prisão preventiva deles?, disse Estorilio.

Empresa se defende

Os dois sócios da empresa – que está no mercado há 6 anos e tem 600 funcionários e 5 mil clientes – se defendem das acusações através de notas oficiais e do advogado Elias Mattar Assad. De acordo com Assad, em entrevista dada ao programa Tribuna na TV (do Canal 4), a denúncia que as agressões foram ordenadas pelos proprietários é infundada e ?beira o absurdo?. ?Nenhum homem de bem montaria uma empresa para atuar neste ramo, que exige requisitos legais para funcionar, e depois daria uma ordem dessas?, assegurou.

Em nota oficial, a Centronic também contestou informações do presidente do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região, João Soares, que os vigilantes usavam armas irregulares. ?Todo o armamento da empresa está registrado na Polícia Federal. São 54 armas, cuja utilização é fiscalizada periodicamente pelas autoridades?, diz a nota.

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