Flagrante feito por policiais
do 7.º Distrito. Golpista cobrou
R$ 150,00 pelo certificado.

A carreira de vendedor de certificados falsos de ensino médio chegou ao fim para Irani Martins Ferreira, 29 anos, no início da noite de ontem. Ele foi preso em flagrante por policiais do 7.º Distrito no momento em que negociava o documento ?frio? com um dos membros da equipe de reportagem da Tribuna do Paraná. Uma denúncia anônima feita ao jornal possibilitou a imediata ação da polícia. Sem suspeitar que estava prestes a receber voz de prisão, o vigarista compareceu ao encontro com uma jornalista, levando no bolso um certificado de conclusão de curso de um colégio estadual da capital.

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Anonimamente, pela manhã, uma pessoa ligou ao jornal fornecendo o telefone de um homem conhecido por ?Aranha?, afirmando que ele vendia certificados falsos de conclusão do ensino médio. À tarde, a equipe de reportagem entrou em contato com o falsário, simulando estar interessada na compra do produto. Num primeiro contato, ele disse que venderia o documento por R$ 150,00, afirmando ser necessário apenas o nome completo, número de RG e filiação do estudante. Na segunda ligação, a equipe confirmou a compra e forneceu o nome falso de Jeniffer Barbosa Souza, solicitando o documento para o mesmo dia. Irani então marcou o encontro em um posto de gasolina, na Avenida Marechal Floriano Peixoto, em frente a um shopping center, às 18h30. A equipe então acionou os policiais do distrito local e mostrou a conversa gravada com o vigarista. De lá, a repórter foi com os investigadores Richard e Aldemar até o local indicado, onde aguardou ?Aranha?. Durante a espera, um dos policiais acompanhava a movimentação do outro lado da rua e o segundo circulava pelo posto de gasolina, usando um jaleco de frentista. No horário combinado, a repórter ligou para o vigarista, que disse estar chegando no local em um Gol GTI, de cor preta. Minutos depois ele estacionou no posto e de dentro do carro perguntou se ela era Jeniffer. No momento que se aproximou e confirmou sua identidade os policiais entraram em ação, rendendo o falsário, prendendo-o em flagrante.

Desculpas

O documento foi encontrado dobrado, no bolso da bermuda de Irani. Sandro César Rodrigues de Melo, 29 , que o acompanhava, também foi preso, apesar de alegar desconhecer as ?falcatruas? do amigo. Segundo ?Aranha? este era o segundo certificado que ele estava vendendo e que ganharia R$ 50,00 pela transação. Ele contou que o fornecedor do documento é um homem chamado Marcelo, morador em Pinhais. ?Eu fui até ele, passei os dados e fiquei esperando perto do terminal de ônibus. Depois de 40 minutos ele voltou com o documento e fui para o encontro?, disse Irani, que já esteve detido por uso de droga. A versão, porém, não convenceu os policiais que trabalham agora para descobrir onde e como os certificados falsos estavam sendo fabricados.

Boas notas e boas referências

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No certificado falso constava que Jeniffer Barbosa Souza – nome fictício fornecido pela equipe de reportagem – havia concluído o ensino médio entre os anos de 1998 e 2000, em um colégio estadual situado no bairro Novo Mundo. Assim como a identificação da suposta estudante, a filiação e o número do RG não tiveram nenhuma alteração do que foi passado para Irani, pelo telefone. Porém, um descuido deixou à mostra o amadorismo do vigarista. Na frente do documento consta que a data de nascimento da estudante é 10 de outubro de 1981, já no verso a data é alterada para 10 de novembro do mesmo ano.

No certificado ?frio? as notas variam entre 6,9 e 8,9, em uma grade que tráz diversas disciplinas, desde ensino religioso à anatomia física e humana. Além disso, o documento é assinado pelo diretor do colégio e carimbado com o aval do governo do Estado. Por fim, no verso do certificado há um espaço intitulado Observações Complementares, que traz o seguinte adendo: ?Revendo os nossos arquivos de registro escolar não encontramos absolutamente nada a constar neste que possa desabonar a conduta escolar de nosso ex-aluno em referência?, o que comprova que além de emitir um documento com boas notas, o falsário ainda se preocupava em fornecer boas referências para quem comprava seus diplomas.

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