“Vamos mapear o crime na cidade”

Prosseguindo com a série especial de reportagens iniciada na segunda feira, o Paraná-Online traz hoje aos seus leitores mais uma entrevista especial, agora com o “prefeiturável” Osmar Bertoldi, candidato do PFL. O tema é segurança pública, amplamente debatido nas campanhas de todos os candidatos, que prometem tomar providências para diminuir a violência urbana. Entrevistado pelos jornalistas Rafael Tavares, Mara Cornelsen, Valéria Biembengut e Patrícia Cavallari, na redação da Tribuna, Bertoldi garantiu que irá cobrar do governo estadual uma atuação integrada das polícias Civil e Militar com a Prefeitura e implantará uma política municipal de segurança. Nesta semana já publicamos as entrevistas com Rubens Bueno, Mauro Moraes e Beto Richa. Amanhã será a vez de Angelo Vanhoni, da coligação Tá na Hora Curitiba.

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: Qual a sua preocupação com a segurança do município de Curitiba?
Bertoldi – Hoje temos oito núcleos de proteção ao cidadão, que são na verdade postos policiais. Um deles, no Tatuquara, até faz parte de um trabalho que fiz quando vereador junto com a comunidade, e que levou um desses núcleos de proteção ao cidadão para o bairro. Houve um convênio do governo do Estado com o município, desta parceria que está se falando na questão de segurança, e esse convênio inclusive foi anulado, no início da gestão do atual governador. Essas companhias de polícia que o candidato do PT está falando, que serão oito postos nas regionais, já existem.

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: Sabe-se que a Polícia Militar está com efetivo defasado, assim como a Polícia Civil. A segurança está um caos. Como você vê esta situação?
Bertoldi – Está um caos porque desde a década de 80 não se aumenta o efetivo. Em primeiro lugar, tem que ter investimento do governo do Estado para aumentar o número de policiais. E esse investimento tem que ser feito não apenas se o candidato do governo ganhar, até porque se governa para os paranaenses e não para o seu candidato.

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: Pela Constituição, a segurança é um dever do Estado. Quais são as ações legais e práticas que o novo prefeito pode tomar para melhorar a segurança dos curitibanos?
Bertoldi – Esses pelotões de polícia em parceria. Nós temos previsto entregar, até o final da gestão, 13 postos. Estamos com o Corpo de Bombeiros construído aqui no Pilarzinho e o governo do Estado não toma posse. Esses recursos são taxas que a Prefeitura cobra para edificação. Temos investido na área de segurança. A Guarda Municipal pode servir muito bem como a Guarda Comunitária.

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: Trocaria de nome?
Bertoldi – Não, apenas ela assume o papel de Guarda Comunitária, sem trocar de nome, desempenhando este papel. Quando criamos a Secretaria de Defesa Social estava previsto um efetivo de até 2.300 homens. Isso incorporado a médio e longo prazos. No orçamento de 2005 está prevista a contratação de mais 240 homens.

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: Quantos tem hoje?
Bertoldi – 1.305 homens.

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: Quanto custa isso? A Prefeitura tem condições de pagar?
Bertoldi – R$ 16 milhões. Tem, numa crescente que serão 240 homens por ano, até chegar no efetivo ideal.

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: Este número equivale ao efetivo total da Polícia Civil no Estado inteiro.
Bertoldi – É bastante. Você tem que chegar a um número que a própria ONU fala, que é ter um policial para cada 250 habitantes. Acho que hoje temos um para cada 600, então a conta fica difícil de fechar. Estou falando do pós-crime, para trazer a sensação de segurança para a população. A Prefeitura pode agir muito no local onde ocorrem crimes.

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: Agir na área social; não está aí o segredo do próximo prefeito?
Bertoldi – O que vejo é um conjunto de ações. A cada R$ 3,00 gastos em esporte, você economiza R$ 12,00 em segurança pública. Temos alguns projetos como o “Gente da Gente”, que está tirando 400 crianças da rua. Este é um trabalho meu como vereador, é possível ampliar para a cidade toda. Cabe ao próximo prefeito mudar a postura da população, criar um mapa do crime na cidade e desenvolver ações de prevenção de toda sociedade. Visitei, em Nova York, o Programa Tolerância Zero, e percebi que se combate muito os pequenos crimes, as pequenas ações de vandalismo, para a sociedade não ser geradora de violência.

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: Quando você fala da tolerância zero nos Estados Unidos, que funciona, lá a segurança é dever do município. Acha que seria interessante mudar o texto constitucional brasileiro para transferir esta responsabilidade para o município?
Bertoldi : Eu acho que existe esta possibilidade. Vai acontecer com a segurança pública mais ou menos o que aconteceu com a saúde. Funciona com repasses de recursos e gerenciamento municipal. É uma tendência.

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: Se eleito, você acha que vai encontrar dificuldades com o governador?
Bertoldi – Espero que não.

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: Você tem um projeto específico para o centro de Curitiba?
Bertoldi – Vou criar incentivos fiscais para outro tipo de ocupação. Vou fechar aqueles estabelecimentos, incentivar proprietários daqueles imóveis para abrir determinados ramos de atividade com incentivo. Eu tenho uma proposta de recuperação do anel central que é a moradia na sobreloja. Você precisa dar vida para o centro. Uma proposta é a isenção de IPTU em determinadas áreas. Com uma política agressiva na questão tributária, você consegue mudar o perfil. Isso é prevenção. Atuar fortemente nas áreas de risco, dar dignidade para as pessoas. Eu sempre digo o seguinte: um prefeito tem que ser um gerador de oportunidades para as pessoas. Claro que se você gera oportunidade, você diminui a violência.

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: O que percebemos é que muitos marginais que agem em Curitiba são da Região Metropolitana.
Bertoldi – Cerca de 40% dos meninos de rua são da Região Metropolitana. A grande diferença de Curitiba para as outras cidades é que nós temos o controle dos dados. Quando falo que tem 241 áreas de risco é porque temos. Outras cidades não sabem identificar isso. Quando falamos que temos 500 meninos de rua e 40% é da Região Metropolitana é porque a gente tem isso identificado. A gente tem que trabalhar sempre em cima da informação. Existe um projeto feito em 2000, chamado “Decidindo Curitiba”. A gente identificou toda a questão social de Curitiba e começamos a atuar. A maior área de atuação é a do Cajuru, Vila Autódromo, Trindade. Ali tinha problema de enchente, de relocação, de subabitação, quer dizer, a gente trouxe dignidade e com isso diminuiu a violência na região.

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: Mas, ali os índices de criminalidade continuam altos.
Osmar Bertoldi – É uma loucura. A hora em que a gente conseguiu os dados, construímos um núcleo de Proteção ao Cidadão no Parque dos Peladeiros. Aí o que acontece, o governo do Estado não põe efetivo. A Prefeitura tem que fazer tudo o que for de sua alçada para combater a criminalidade e cabe ao governo do Estado fazer aquilo que é a obrigação dele.

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: Na Região Metropolitana, em algumas cidades, a Guarda Municipal é colocada dentro das delegacias, por causa da falta de policiais. Em Curitiba, a maioria dos distritos também enfrenta este mesmo problema. Você tem algum projeto em relação a isso?
Bertoldi – Não tenho nenhum projeto específico. Mas acho que se unir as três forças de polícia pode-se trabalhar em parceria.

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: A maioria das propostas para a segurança pública esbarra na parte financeira.
Bertoldi – A gente tem 37% de comprometimento de folha, mas tem esse lastro. Todas as nossas propostas são muito pé no chão, porque são elaboradas por pessoas das áreas, que vivem o cotidiano da gestão.

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: Então tem muita coisa que dá para fazer na cidade?
Bertoldi – Claro que temos muitos recursos que estão amarrados, como, por exemplo, 25% na educação, 15% na saúde, tem a folha e tal, mas você tem lastro para ser trabalhado. Não tem essa história de que o município está quebrado. É exatamente esta conta: ele paga de prestação por mês, 4% do orçamento. É a mesma coisa de um cara que ganha R$ 600,00 pagar R$ 24,00 de prestação. Se isso é um cara quebrado, então estamos todos nós quebrados, não estamos?

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