João Pereira é cobrador.

É muito raro encontrar um usuário de transporte coletivo de Curitiba que nunca tenha sido assaltado, presenciado um assalto ou conhecido alguém que já tenha sido abordado por ladrões dentro de ônibus, estações-tubo ou terminais. Quem anda de ônibus na cidade parece viver amedrontado e inseguro.

A zeladora Lourdes Rodrigues, que depende do transporte coletivo para se locomover, conta que, principalmente dentro dos ônibus, costuma ficar atenta e se manter longe de pessoas que pareçam suspeitas. Há cerca de três meses, o ônibus em que ela estava, pertencente à linha Jardim Ipê, foi assaltado por um rapaz armado com um revólver. “Me levaram todo o dinheiro e vale-transporte. Foi um susto muito grande e, desde que isso aconteceu, não consigo mais ficar tranqüila dentro de um ônibus.”

Há alguns anos, a costureira Sirlene Aparecida teve a bolsa aberta dentro de um coletivo e seus pertences, como carteira e talões de cheque, foram levados por ladrões. Ela não percebeu nada de estranho e só notou que tinha sido assaltada quando chegou em casa. “Eu estava cheia de sacolas e com a bolsa pendurada no braço. O ônibus estava cheio e eu não percebi quando alguém pegou a minha carteira”, lembra. “Depois disso, só ando com a bolsa grudada no corpo.” Na opinião de Sirlene, falta policiamento nos tubos e terminais para inibir as ações dos assaltantes.

Devido à falta de policiamento, o técnico eletrônico Sérgio Luiz de Oliveira Olaço já precisou fazer papel de policial durante um assalto a um ônibus que seguia de Pinhais ao terminal do Capão da Imbuia, em Curitiba. Na ocasião, três rapazes retiravam carteiras das bolsas e bolsos de pessoas idosas sem que elas percebessem. Porém, um deles foi desastrado e chamou a atenção da vítima, que começou a gritar. Percebendo o que estava acontecendo, Sérgio segurou um dos assaltantes até que a polícia chegasse. Os outros dois conseguiram escapar. “Ainda bem que os assaltantes não estavam armados e ninguém saiu ferido”, salienta. “Agora, sempre que vejo uma pessoa distraída dentro de um ônibus, conto o que aconteceu e peço para que ela cuide de suas coisas.”

Cobradores

Os cobradores também são grandes vítimas de assaltos. Na maioria das vezes, não conseguem trabalhar sossegados. O cobrador João Pereira, há treze anos na profissão, confirma o temor. Há algum tempo, ele foi assaltado, às 11h40, por um rapaz que tinha cerca de 23 anos de idade e portava um revólver. “Tive que dar todo o dinheiro para que ele não me machucasse”, lembra. “Às vezes fico com muito medo e dou graças a Deus por não trabalhar à noite, quando o número de ocorrências é maior”. João trabalha na estação-tubo Guadalupe, mas foi assaltado no Bairro Novo, quando fazia hora extra.

Sistema em teste

Para evitar os assaltos, a Prefeitura de Curitiba vem testando um sistema em que a passagem do transporte coletivo é paga com cartões eletrônicos. Desde março deste ano, os cartões estão sendo utilizados por pessoas com mais de 65 anos de idade. Oitenta mil usuários já estão cadastrados. Como os cartões ainda estão em fase de experiência, não há previsão de quando eles passarão a ser utilizados pelos outros passageiros.

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